Coluna Fernando Calmon
Nº 1.292 — 16/3/2024
Previsão para 2030: híbridos
dominarão vendas no Brasil
A transição dos veículos
de motor a combustão para os elétricos a bateria continua a desafiar diversas
empresas de consultoria especializadas ao redor do mundo. Da visão conservadora
ao grupo de moderadas e também às otimistas, as previsões atingem um grau de
volatilidade proporcional à complexidade do tema.
Basta um exemplo.
Poucos dias atrás a consultoria Gartner previu que até 2027 veículos elétricos
terão custo de produção menor que os modelos de motor a combustão, sem contar o
valor da bateria que ainda responde por cerca de 40% do preço final ao
consumidor. Isso graças aos recentes avanços na manufatura puxados pela Tesla
com suas gigaprensas que substituem as tradicionais, além de diminuir o número
de robôs de armação e soldagem.
No entanto, isso pode aumentar de
forma severa os custos de reparos mesmo em pequenos acidentes, o que levaria as
companhias seguradoras a puxar seus preços para cima. A Gartner também previu
dificuldades para startups especializadas
em elétricos. Afinal, já como minha opinião, é relativamente fácil produzir
novos modelos a partir de um motor elétrico de “prateleira” que embora dispense caixa de câmbio, não
prescinde de redutor e diferencial.
Alguns desses iniciantes
ficaram pelo caminho como Lordsown Motors e Proterra. A Fisker que já “quebrou”
uma vez, está novamente em dificuldades. A promissora Rivian sofreu uma queda severa
e repentina de vendas: cortou produção pela metade, mas ainda segurou os
empregos.
A Bright, que reúne
uma equipe muito experiente de consultores brasileiros, acaba de apresentar um
cenário bastante interessante para 2030. Reflexo de estudos aprofundados e
precisos do que realmente pode acontecer, entre fabricantes de veículos e autopeças,
concessionárias, mobilidade como serviço (assinaturas e locações), além de
processos de reciclagem.
As três categorias
de híbridos somadas – básicos (32,5%), plenos (10,4%) e plugáveis (5,6%) – dominariam
as vendas de veículos leves com 48,5% do total daqui a seis anos. Elétricos
ficariam apenas com 9,8% e os motores a combustão com os restantes 41,7%. Mais
abaixo estão informados os percentuais atuais de mercado.
Desse trabalho de
fôlego da consultoria vale destacar algumas de suas conclusões:
·
“Futuro da eletrificação com diferentes
alternativas de propulsão é inexorável.
·
Soluções de eletrificação para o Brasil serão
diferentes do mundo dadas as alternativas de energia limpa que o País dispõe.
·
Mobilidade sustentável só se viabilizará se
focar no social e econômico e não somente no viés ambiental.
·
Transição para a eletrificação acomodará nas
linhas de produção os atuais veículos com motor a combustão e híbridos em
arcabouços semelhantes.”
Otimismo marcou balanço da indústria em fevereiro
Mesmo com os
feriados do Carnaval e o mês passado ter menos dias úteis, produção (189,7
mil unidades), média diária de vendas (8,7
mil unidades) e exportações apresentaram resultados surpreendentemente
positivos para a indústria automobilística em relação a janeiro deste ano. Os
crescimentos percentuais foram vistosos: + 24,3%; + 18,4% e + 62,7%, respectivamente.
No acumulado do primeiro
bimestre em comparação ao mesmo período de 2023 os números também foram bons: +
8,9% e + 19,8%, respectivamente. Só as exportações continuaram fracas com queda
de 28%. Esses resultados positivos refletem um início de ano muito difícil em 2023
e, sob esse prisma, devem ser aguardados os próximos meses.
Os estoques se
mantiveram estáveis em 38 dias nos dois primeiros meses de 2024. A queda dos
juros de financiamento, tendo a taxa Selic como referência, ajudará a
recuperação do mercado este ano. Porém, ao mesmo tempo, o recuo dos juros será
lento e isso pode adiar a decisão de compra.
Marcio Leite,
presidente da Anfavea, chamou atenção para necessidade de novos testes de
durabilidade para aumento da mistura de etanol de 27% para até 35% e, muito
mais grave, no caso do biodiesel de 14% para 20% ou 25% (em 2031). Ambas as adições
estão em pauta no Conselho Nacional de Política Energética.
Veículos elétricos e híbridos tiveram recuo na participação de mercado de 7,9% para 6,7% em fevereiro nas vendas de automóveis e comerciais leves. Especificamente os elétricos puros ficaram no mês passado com apenas 2,3% das preferências, híbridos plugáveis, 2,1%; híbridos, 2,3 %; gasolina, 4,6%; diesel, 10,5%; flex, 78,2%.
Híbrido plugável é alternativa para viagens
Enquanto os carros elétricos avançam na China e Europa (a um ritmo menor nos EUA), embora com tropeços recentes e que lançam algumas dúvidas sobre curto e médio prazos, há uma solução intermediária que se tem mostrado válida para quem quer viajar sem preocupações.
O híbrido plugável permite rodar em cidade, sem emitir CO2
e poluentes, e afasta o incômodo de planejar uma viagem com longas paradas
sujeitas à demora natural para carregar a bateria. Além disso, podem acontecer
atrasos se há motoristas à espera de sua vez ou atos de vandalismo que
danificam os cabos de conexão já relatados em filmes na internet.
No Brasil,
atualmente, híbridos desse tipo (PHEV, na sigla em inglês) dividem as
preferências dos compradores de veículos com os modelos elétricos a bateria (BEV).
Aliás, o equilíbrio se mantém ao incluir os apenas híbridos (HEV). No mês
passado, por exemplo, PHEV representou 33,5% das vendas nacionais, BEV 34,7% e
HEV 31,6%.
Um exemplo de PHEV adequado
às condições brasileiras de uso é o Audi Q5 55 TFSIe quattro. Seu visual
imponente destaca-se e o que mais chama atenção é a flexibilidade permitida
pelo conjunto motriz. Ao motor a gasolina turbo, 2 litros de 252 cv/37,7 kgf·m
se junta um elétrico de 143 cv/35,5 kgf·m acoplado ao câmbio automatizado de duas
embreagens e sete marchas. No total são 367 cv e torque combinado de 50,5 kgf·m.
O SUV tem tração dianteira, mas em certas condições pode ser 4x4 ou só tração traseira, tudo feito de forma automática. Alcance no modo elétrico é de até 65 km em uso urbano, desde que não se empolgue muito ao acelerar. Essa distância cobre boa parte dos deslocamentos em cidade, sem gastar uma gota de gasolina.
Nas
autoestradas no Estado de São Paulo é possível viajar a 120 km/h e alcançar até
25 km/l. Com a bateria carregada, velocidade média estável na faixa de 100 km/h
e o tanque de 54 litros o Q5 pode rodar até 800 km, o que nenhum carro 100% elétrico
oferece – ao menos por enquanto.
Preço básico: R$
462.990.
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