Coluna Fernando Calmon
Nº 1.267 — 7/9/23
Salão de Munique
expõe avanço
de marcas chinesas na Europa
A indústria europeia de veículos terá que fazer um grande
esforço financeiro e técnico para enfrentar o avanço de marcas chinesas que
conseguem preços bastante competitivos na fabricação de veículos elétricos (VE)
e baterias. É o que se pode deduzir sobre o Salão de Munique (5 a 10 de setembro),
que sucedeu ao gigantismo de Frankfurt. Agora aposta em fórmula de exposição
mista, usando as praças da cidade e um centro de exposição de dimensões
menores.
Cerca de 40% dos estandes foram ocupados por marcas sediadas
na Ásia. Os fabricantes tradicionais estão de certa forma encurralados pois não
podem “virar a chave” sem enfrentar outros problemas. Luca de Meo, presidente
do Grupo Renault, afirmou à agência Reuters que “temos de diminuir a diferença
de custos em relação aos chineses, que começaram com veículos elétricos anos antes”.
O novo VE R5, em 2025, caminha para isso, acrescentou.
As principais novidades do Salão concentraram-se em VEs. A
começar pela BMW que apresentou uma visão ainda genérica do futuro Série 3,
focando no avanço de 30% em alcance e recarga da bateria. Modelos a combustão e
elétricos coexistirão. A Mercedes destacou a próxima geração do CLA com as DRL
inspiradas na estrela de três pontas da marca. O Tesla 3 recebeu leve
reestilização frontal e aumento de preço de US$ 2.500 (R$ 12.500).
Inspirada na mística versão GTI do Golf (foto de abertura da
coluna), a VW apresentou o modelo-conceito ID. GTI que só chegará ao mercado
daqui a quatro anos. Trata-se de um VE com referências explícitas ao estilo original,
ao contrário do que tem sido a regra atual.
Entre as chinesas, destaque para a nova marca AVTR nascida
de colaboração entre a Changan e a Huawei (gigante das redes de
telecomunicação). O modelo batizado com número 12 tem 5 metros de comprimento e
versões com um e dois motores elétricos.
Dos carros convencionais duas peruas (camionetas) chamam atenção por seu estilo arrebatador: Passat Variant e Classe E All Terrain.
Sexta geração do Cayenne também é híbrida
Desde seu lançamento, em 2002, o Cayenne representou a primeira
diversificação de uma marca premium para os SUVs. O movimento não foi bem
compreendido, inicialmente, mas as vendas provaram o contrário: 60% a mais que
o previsto. O acerto deu início à era de SUVs de alto desempenho, influenciando
outras marcas de carros puramente esporte. Também evoluiu para adicionar a carroceria
SUV cupê.
Agora estreia no Brasil a sexta geração com algo a mais do
que simples reestilização e pré-venda de versões híbridas que chegarão no
primeiro semestre de 2024. A Porsche investiu também em aperfeiçoar os faróis de
LED HD-Matrix de mais de 32.000 pixels por farol e seis possibilidades de
fachos. Há nada menos de oito desenhos de rodas com até 22 pol. de diâmetro e
pneus de maior diâmetro externo. Chamam atenção os para-lamas dianteiros mais
elevados e ligeiramente arqueados.
Logo ao sentar no SUV destacam-se novo volante, quadro de
instrumentos totalmente digital (como sempre conta-giros no centro), saídas de
ar condicionado sem aletas, alavanca seletora do câmbio no lado direito do painel
de fácil acesso e três telas: 12,6 pol. (instrumentos), 12,3 pol. (multimídia)
e 10,6 pol. (para o passageiro). Tem pareamento Android Auto e Apple CarPlay
sem fio e recarga de celular por indução (até 15 W) com refrigeração.
O que mais impressiona é a versão Turbo GT: V-8 biturbo,
4-litros, 659 cv e 86,7 kgf·m. Tanto na avaliação por estradas quanto no
autódromo Velo Città (Mogi-Guaçu/SP) o desempenho empolga com aceleração de 0 a
100 km/h em 3,2 s. Há até um defletor de teto adaptativo, herança do Porsche
911. O Turbo GT, além do equilíbrio em curvas e freios tradicionalmente
excelentes da marca, é o mais caro: R$ 1.385.000. Mas quem se contentar com o
Cayenne S e “apenas” 474 cv/58,8 kgf·m, pagará R$ 850.000.
São duas as versões híbridas: E-Hybrid (470 cv e torque combinado de 63,7 kgf·m) por R$ 690.000 e a Turbo E-Hybrid (739 cv e torque combinado de 93,1 kgf·m), 0 a 100 km/h em 3,7 s, por R$ 1.135.00. Esta última tem desempenho menor pela diferença de massa (180 kg em razão da bateria) frente à versão Turbo GT.
Elétrico BYD Seal: espaçoso e preço atraente
Além do impacto positivo do modelo de entrada, Dolphin, a BYD
deu outro choque no mercado com o sedã Seal por R$ 296.800. Linhas do sedã-cupê
são atraentes (melhor ao vivo do que em fotos), destacando-se os conjuntos ópticos
dianteiro (com filetes de LED) e traseiro. Há amplo espaço interno graças à
distância entre eixos de 2.920 mm, principalmente para os passageiros do banco
traseiro que se beneficiam ainda do assoalho plano. Para bagagem, porta-malas traseiro
de 402 litros e dianteiro de 53.
O interior traz ótima atmosfera pelo teto solar panorâmico e
materiais de boa qualidade. Quadro de instrumentos poderia ter resolução maior
e contraste de cores. Tela do multimídia rotacional apresenta dimensões generosas
(15,6 pol.). Ao volante, o banco é confortável com aquecimento e ventilação.
Desempenho é o ponto alto do Seal. Dois motores, um
dianteiro e outro traseiro, totalizam 531 cv e 60,2 kgf·m. As respostas ao
acelerar empolgam e a tração 4x4 sob demanda garante comportamento em curvas
muito bom. Até dá para “esquecer” que sua massa total em ordem de marcha é de
nada menos que 2.185 kg. O percurso de avaliação não tinha trechos muito
sinuosos, porém provocado em curvas foi muito bem.
Desagradável é o sistema de manutenção em faixa muito
intrusivo e que não pode ser desligado. Em piso irregular as suspensões mostram
respostas adequadas. Porém, a distância mínima do solo de somente 120 mm faz o
carro raspar com facilidade em lombadas e valetas.
(Colaborou Luís Fernando Carqueijo).
Estoques aumentam. Bom para o consumidor
A indústria automobilística aumentou sua produção em agosto.
As 227.000 unidades de veículos leves e pesados significaram crescimento de 24%
sobre julho. Esse resultado elevou os estoques nas fábricas e concessionárias
de 29 dias em julho (resultado do programa de incentivos tributários do Governo
Federal, já encerrado para modelos leves) para 35 dias em agosto. Isso aponta no
sentido de continuidade de promoções agora em setembro.
A valorização do real frente ao dólar também ajudou a
reduzir preços de modelos importados e os aqui produzidos tendem a acompanhar.
Uma recuperação maior depende de redução das taxas de juros que já se iniciou,
mas não se sabe ainda em que ritmo. Em agosto a média diária de vendas foi de
9.000 unidades. E a expectativa da Anfavea para 2023 continua a mesma do início
do ano: aumento na comercialização de 3% sobre 2022 para 2,168 milhões de
unidades.
Em agosto, foram vendidas 1.167 unidades de modelos elétricos entre automóveis e comerciais leves: 0,6% do total. Em agosto de 2022 o percentual era de 0,5%, mas a partir deste mês deve subir com a escalada das marcas chinesas.
Grupo Gandini importou 450.000 veículos Kia em 30 anos
Operação começou modesta, em 1993, depois de José Carlos Gandini
fundar a Kia Motors do Brasil no ano anterior e começar a implantar a rede de
concessionárias. Inicialmente foram apenas 1.000 unidades do Besta para
passageiros, Besta Furgão, picape Ceres e caminhão leve K3500.
Em 2009, passou a ser distribuidor da Kia também no Uruguai
e ganhou a licença para fabricação no país vizinho do caminhão leve Bongo
K2500. Ao completar este ano 450.000 unidades importadas da Coreia do Sul e do
Uruguai, os modelos de passageiros mais vendidos foram: SUV compacto Sportage
(106.000 unidades), sedã médio-compacto Cerato (71.000) e subcompacto Picanto
(42.000).
José Luiz Gandini, filho do fundador e atual presidente do
grupo, afirma que resiliência é o fator mais marcante para a trajetória da
empresa em razão dos altos e baixos da economia brasileira.
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