Coluna Fernando Calmon
Nº 1.323 — 18/10/2024
Programa Combustível do Futuro ainda
tem falhas e otimismo algo exagerado
Planejado ao longo
de 20 anos, com várias idas e vindas para acomodar de automóveis a aviões,
apresenta o grande mérito de reconhecer a transição energética planejada de
forma inteligente e adaptável. Países de área continental como o Brasil e
dezenas de outros com restrições econômicas, que dificultam avanço acelerado de
veículos elétricos, precisam obviamente de uma visão abrangente e viável.
O otimista Programa
Combustível de Futuro (PCF) sancionado em 8 de outubro último, prevê
investimentos de R$ 260 bilhões (talvez mais) e datas de implantação factíveis,
ao contrário da União Europeia e suas discutíveis metas distanciadas da
realidade. Esta coluna foca-se em automóveis e apoia o aumento de percentual de
etanol na gasolina de 27% para 30% considerado viável tecnicamente. Permissão
para 35% mesmo para carros mais novos, no entanto, parece-me um erro.
Além de restrições
técnicas conhecidas, seria injusto desconsiderar veículos de países vizinhos
que hoje trafegam e abastecem no Brasil sem grandes problemas. Já motocicletas,
geradores portáteis de eletricidade, motores de popa e até motosserras devem
funcionar mal com 35%. Haveria dificuldades mesmo com automóveis recentes nacionais
e importados. A Câmara dos Deputados falhou ao admitir a possibilidade na
aprovação do PCF, pura perda de tempo.
Etanol é reconhecido
como combustível limpo e capaz de compensar 80% das emissões de CO2
no ciclo da fonte à roda, se usado isoladamente. O que poucos sabem: a soma de anidro
em mistura atual de 27% com a gasolina e mais os motoristas que abastecem só com
o hidratado por preferência ou preço atraente, representa agora 42% de
combustível limpo contra 58% de gasolina. Em outros poucos países, só há 10% de
etanol. Para aumentar consumo aqui, o imposto teria de diminuir.
Neste cenário a Raízen
acaba de lançar a segunda geração do aditivo para etanol Shell V-Power. Além de
limpar vapores de óleo do cárter solidificados nas sedes de válvulas, evoluiu o
filme de redução de atrito de 86% para 96%. Senna Brands, fundada pelo piloto
de F-1 há 34 anos e falecido 30 anos atrás em Ímola, participa da campanha de
lançamento.
Salão de Paris alcança objetivos, mas sem grande entusiasmo
A exposição bienal
na capital francesa completou 90 anos e segue até o próximo dia 20. Sem a
exuberância do passado atrai pouco mais de 30 fabricantes, inclusive nove
chinesas. O salão bienal agora é o maior da Europa pelo fim da exposição em
Genebra e encolhimento de Frankfurt, substituído por Munique.
Predominância
natural de marcas francesas com a Renault apresentando novidades de peso: o 4
E-Tech, releitura elétrica em forma de crossover de um de seus sucessos do
passado, além de dois protótipos elétricos Twingo E-Tech
previsto para 2026 e
Emblème, um SUV cupê para 2030 que trocará bateria por pilha a hidrogênio.
Stellantis, embora
talvez encerre algumas de suas 14 marcas em 2026/27, mostra muita força em
Paris. Peugeot concentra-se em estender o alcance de seus elétricos 3008 e 5008
para teóricos 700 km e apresentou o e-408 cujo alcance é de 450 km. Citroën C5
Aircross só chega em 2026, contudo se apresenta sem disfarces com motor de
combustão interna.
Entre as alemãs,
Mercedes-Benz abriu mão de Paris e deixa o protagonismo para BMW e Audi. BMW
exibe os primeiros dois modelos de elétricos com carrocerias específicas e
batizados de Nova Classe. Seu presidente Oliver Zipse declarou à agência
Reuters a necessidade de correção da meta de 100% de elétricos para 2035, importante
para redução de CO2, porém permitiria que fabricantes europeus
dependessem menos da China para as baterias. A marca aposta em híbridos
plugáveis e no hidrogênio tanto para motores convencionais quanto tração 100%
elétrica.
Audi exibe seu novo
carro-chefe elétrico, Q6 E-tron Sportback. VW, Skoda e Audi estão representadas
por importadores franceses, sem presença oficial do grupo alemão. Alvo de
críticas, Tesla tem um estande desorganizado e nem ao menos um tapete para
separar os modelos.
Destaque das
chinesas é o sedã BYD Sealion 7, SUV cupê elétrico que visa Tesla Model Y entre
outros concorrentes.
Nivus 2025 chegará mais equipado e inclui mudanças no estilo
Será fácil
reconhecer, mesmo de longe, o ano-modelo 2025 do compacto SUV cupê. As
diferenças externas estão evidentes desde a nova grade, de dimensões
avantajadas, contudo proporcionais, aos faróis estreitados. De perfil só rodas
de 16 e 17 pol. mudam. Atrás, segue a fórmula de lanternas interligadas por
barra iluminada de LEDs, além do novo para-choque com extrator estilizado.
No interior a VW
procurou um acabamento apurado, a exemplo de material agradável aos olhos e ao
tato. Evoluiu a central multimídia agora com internet a bordo na versão de topo
Highline, mantida a tela de 10,1pol. Para a versão de topo, pacote de segurança
inclui controle adaptativo de velocidade, além do indispensável alerta de
colisão agregado à frenagem automática. Há ainda assistentes de ponto cego,
saída de vagas, estacionamento e manutenção na faixa de rodagem.
Mantido o motor 1-L
turbo flex, 128 cv (E)/116 cv (G), 20,4 kgf·m (E)/(G) com câmbio automático de
seis marchas. Consumo será anunciado só em janeiro de 2025, quando ocorrerão as
primeiras entregas. Veio também a esperada confirmação do GTS que agrega imagem
forte ao modelo, apesar do preço alto não anunciado, provavelmente no segundo
trimestre. Motor é o conhecido turbo flex 1,4-L, 150 cv/25,5 kgf·m de torque,
etanol ou gasolina.
Pré-vendas já
iniciadas para entregas somente em janeiro de 2025: R$ 136.990 e R$ 153.990.
Q8: boa presença com desempenho à altura do preço
É o maior e mais
pesado (2.340 kg) entre todos os modelos da Audi. Imponência aparece logo nos
quase 5 metros de comprimento (4.992 mm), largura (1.995 mm), entre-eixos
(2.998 mm) e altura (1.697 mm). Um dos poucos com rodas de 23 pol., hoje maior
diâmetro disponível no mercado e já a caminho para 24 pol. Porta-malas de 605 L
impressiona. Para garantir viagens sem muitas escalas para abastecer dispõe de
85 litros no tanque. O SUV recebeu novos para-choques dianteiro e traseiro,
grade e opção de faróis Matrix por R$ 26.000.
No interior
acabamento e materiais são refinados com couro de alta qualidade e grande
superfície do painel em preto brilhante. Os dois bancos dianteiros têm comandos
elétricos, o do motorista com memória. Há duas telas no centro do painel:
ajuste do ar-condicionado e multimídia de 10,1 pol., mas esta deveria ser um
pouco maior (pelo menos 12 pol.) para o nível do modelo. Atrás, além do amplo
espaço para três passageiros, há saídas de ar-condicionado no console e nas
colunas centrais.
Motor é um 3-litros
V-6, 340 cv e 51 kgf·m, capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 5,6 s, apenas 0,1s
inferior ao BMW X6. Trata-se de híbrido básico com bateria de 48 V para um
pequeno motor elétrico. Na viagem de avaliação, São Paulo a São Roque (SP),
destaque para a rapidez das trocas de marchas do câmbio automatizado de sete
marchas e duas embreagens. Destacam-se o eixo traseiro direcional e as
suspensões pneumáticas que permitem ajustar altura de rodagem entre 40 mm para
baixo e 50 mm para cima.
Preço: R$ 774.990.
Elétrico Equinox é caro, contudo bem completo
Fácil explicar preços tão elevados dos modelos
elétricos importados. Na origem também são altos e aqui exige montar
infraestrutura específica nas poucas concessionárias. Sem contar que, apesar do
imposto de importação menor (até 2026), a taxação interna continua bem maior
aqui. A desvalorização do real entra nessa conta. Nem mesmo a origem mexicana
resolve porque este elétrico deixa de atingir índice de localização exigido no
Mercosul. Por isso, os R$ 419.000 deram “choque” no lançamento, mas é 12% menor
que o Blazer EV. A GM importará, ainda este ano, o Equinox a gasolina, segundo
a revista Autoesporte.
O SUV tem estilo bem moderno e destaca-se pela
sua frente limpa com elegante filete de LED de um para-lama a outro e um
impressionante pacote de recursos. Traseira segue o mesmo conceito com as
lanternas interligadas avançando sobre as laterais. Rodas igualmente bonitas.
Porta-malas de 441 litros tem tampa aberta por aproximação, sem nenhum chute no
ar. Dimensões apenas um pouco menores às do Blazer EV: 4.840 mm (C), 1.954 mm
(L), 2.954 (E-E) e 1.646 (A). Há amplo espaço interno em especial para joelhos
de quem vai no banco traseiro. Só plástico rígido nas portas traseira destoa
dos bons materiais a bordo. Impressiona a tela multimídia de 17,7 pol.
Primeiro contato foi no campo de provas da GM,
em Indaiatuba (SP). Muito boa a alta capacidade regenerativa ao dispensar pisar
no freio em condições de para-e-anda. Dois motores elétricos idênticos, atrás e
à frente, totalizam 292 cv e 46 kgf·m com tração integral sob demanda.
Aceleração é forte: 0 a 100 km/h em 5,8 s.
Importados caíram em setembro, todavia em alta no ano
Apesar da queda de 10,8% nos emplacamentos de
veículos importados em setembro, com relação ao mês de agosto, a Abeifa,
associação dos importadores, informa alta significativa de 192,9% no acumulado
de janeiro a setembro. Os números de 2024 foram puxados por antecipação de
compras em razão do aumento do imposto do imposto sobre elétricos e híbridos.
No entanto, a base comparativa com 2023 é extremamente baixa e os percentuais
vistosos, assim explicáveis.
Hoje há apenas nove associadas e nenhuma
fabricante. BYD respondeu sozinha por 52,2% de todas as vendas em setembro. A
marca chinesa comercializou 51.310 unidades de elétricos e híbridos de janeiro
ao mês passado. Um pouco distante dos
120.000 carros previsto para entregar em 2024 (corrigiu depois para 100.000). A
conferir em dezembro...
Marcelo Godoy, presidente da Abeifa, ponderou
sobre a falta de pontos de carregamento. É um dos problemas a resolver dos
elétricos no País. Atualmente somam 10.000 pontos públicos e semipúblicos. O
consultor da área automobilística Milad Kalume Neto calculou 14 carros para
cada carregador. Segundo ele, mesmo ao desconsiderar regiões pouco habitadas do
Brasil, a Espanha tem 22 vezes mais carregadores: 220.000.
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