Coluna Fernando Calmon
Nº 1.338 — 14/2/2025
Vendas boas em janeiro, ainda
sem garantir algo entusiasmante
Apesar do tom
geralmente otimista da Anfavea, em suas tradicionais entrevistas mensais, ficou
claro que mesmo sem mostrar pessimismo a visão mudou para algo com incertezas e
até de cautela explícita. Márcio Leite, presidente da entidade, listou seis perspectivas
preocupantes na economia brasileira que vão desde as tarifas impostas nos EUA
aos conflitos mundiais.
Entretanto, janeiro
foi um mês particularmente bom, o melhor desde o início da pandemia covid-19. Houve
alta de 6% nas vendas sobre dezembro com 171,2 mil unidades de veículos leves e
pesados, coincidentemente o mesmo percentual que tanto Anfavea como Fenabrave
preveem para o ano completo de 2025 em relação 2024. O único indicador
desconfortável foi a manutenção dos estoques totais em 41 dias com acréscimo de
três dias nos pátios dos fabricantes.
Também houve números
positivos a comemorar. A produção deu um salto de 15,1% sobre janeiro de 2024 e
as exportações subiram, na mesma comparação, nada menos de 52,3% em unidades e
30,2% em valor. Esse resultado deveu-se ao extraordinário aumento de 203% nas
vendas à Argentina, cujo mercado interno reagiu à queda expressiva da inflação.
Bom também para o Brasil pois ajudou no aumento de 8% do nível de emprego no
mês passado, o que não acontecia desde 2011.
A estratégia da
entidade também mudou um pouco. Não comenta mais sobre a possível ação
antidumping contra marcas chinesas no Brasil, mesmo porque o problema se
restringe especificamente à BYD. Por outro lado, mantém a posição de
reivindicar o aumento imediato do imposto de importação para 35% sobre
elétricos e híbridos com intuito de estimular a produção interna. Este
percentual só entrará em vigor em dezembro de 2026 e será muito difícil o
governo mudar a regra.
Aliás, a escolha dos
consumidores brasileiros sobre alternativas de propulsão continua a andar de
lado. Na realidade houve queda expressiva das vendas mensais de carros
elétricos de 6.100 unidades em outubro do ano passado para apenas 3.770
unidades em janeiro último, contra 6.500 unidades de híbridos plugáveis e 6.300
dos híbridos básicos e plenos. Este ano híbridos básicos (ou semi-híbridos)
devem acelerar bastante com lançamentos previstos.
Já o cenário para importados em geral parece bem melhor. A participação em janeiro subiu para 24,8% das vendas totais (maior percentual desde março de 2012) contra apenas 6% no mesmo mês de 2024. Trata-se de ponto a se observar, contudo tende a cair ao longo de 2025, pois o crescimento concentrou-se em produtos vindos da Argentina, onde o Brasil é majoritário.
O que comparadores de carros planejam para 2025
Pesquisa feita pelo
Webmotors entre usuários da maior plataforma online de compra e venda de
veículos novos e usados foi apresentada por Eduardo Jurcevic, presidente do
portal, durante o balanço mensal da Anfavea, no último dia 10.
Respondentes, em
2024, afirmam nesta ordem que compraram um veículo porque surgiu uma boa oportunidade,
trocam de carro de tempos em tempos, já tinham se planejado ou porque
necessitavam de um segundo carro entre várias outras razões. Eis as principais
tendências para este ano:
· 68% pretendem adquirir um veículo em 2025,
sendo 37% ainda no primeiro semestre.
· 36% desejam uma atualização de modelo, 30%
costumam trocar periodicamente e 25% porque o carro atual está velho. Há
predominância de trocas por necessidade ou atualização do modelo.
· SUV é a carroceria preferida por 38% e apenas
2% pretendem trocar por um elétrico.
· Especificamente entre os que desejam comprar
um zero-km, 46% querem um SUV.
· Motivos principais de não comprar em 2025:
preços e juros muito altos, desemprego e valor de entrada.
· Ações que motivariam a compra: redução de impostos e juros, bônus no usado, descontos no seguro e combustível.
A pesquisa também
aferiu motivos para optar por um híbrido ou elétrico, em ordem decrescente: economia
de combustível, custo-benefício, desenho moderno, tecnologia avançada, desejo
de experimentar novas tecnologias, preocupação com o meio ambiente e emissão de
menos ruído.
Curiosamente, ecologia e silêncio a bordo, pontos fortes dos
elétricos, apareceram nas últimas escolhas.
Participantes da pesquisa (2.499 pessoas entre 6 e 17 de janeiro últimos) podiam apontar mais de uma escolha para cada pergunta. Assim, a soma dos percentuais várias vezes ultrapassou 100%. Resumi aqui só as respostas mais relevantes.
Preços de combustíveis: falta necessária transparência
Difícil de entender
— mais ainda de aceitar — a trajetória dos combustíveis no Brasil. Teoricamente
os preços são livres, mas deveria haver mais competição. Por décadas o preço em
dólar tem-se mantido, mais ou menos, entre os praticados nos EUA, que sempre
tiveram baixa taxação sobre a gasolina, e os da Europa onde, ao contrário, os
impostos são muitos mais altos. Até aí, pode-se perceber, embora o País seja
autossuficiente na produção e até exportador de petróleo bruto.
Entretanto, a Petrobrás
tem monopólio de produção de combustíveis. Em 2019 decidiu-se pela venda de oito
refinarias (metade da capacidade total do País) para aumentar a concorrência. Porém,
foi negociada apenas a de Mataripe, na Bahia, adquirida pela Acelen, braço do
fundo de investimento árabe Mubadala. Depois de o plano ser interrompido por
razões puramente de política ideológica de baixo nível, volta-se a levar a
Petrobrás a recomprar Mataripe. Não resolve e só agrava o problema.
Roberto James,
especialista em comportamento de consumo, tem opinião abalizada sobre o
assunto:
“Os postos
revendedores não têm como qualificar ou quantificar as diferenças de preços
entre os combustíveis importados e os produzidos pela Petrobras. Toda vez que
esta represa reajustes baseada numa política própria, sem qualquer
transparência ao mercado, acaba favorecendo uma pequena camada de empresas que
reajustam seus preços de forma arbitrária, sem qualquer controle ou teto”,
explica.
Ao manter bem atado esse nó, o resultado é tudo permanecer como está ou até piorar.
Creta Ultimate mostra evolução marcante
Embora dimensionalmente
os números sejam praticamente os mesmos da versão anterior, a reestilização tornou
o SUV compacto da Hyundai mais atraente. A parte frontal tem desenho bem
elaborado, em especial o reposicionamento dos faróis (dispensam os de neblina) e
grade mais imponente com estilo algo rebuscado. De perfil, nada muda, salvo
rodas de 18 pol. bem vistosas. Na traseira, o destaque está nas novas lanternas,
mais bonitas que as anteriores, e ao frear acendem de ponta a ponta. Para-choque
redesenhado deixa um pouco exposta a tampa do porta-malas, que cresceu de 422 para
433 litros.
Internamente, visual
agrada: quadro de instrumentos e tela multimídia de 10,25 pol., carregador de
celular por indução, ar-condicionado duas-zonas com saídas para o muito bom
espaço traseiro e botões físicos (como deve ser) e banco do motorista elétrico,
mas regulagem de altura manual. Espelhamento de celular para Android Auto e
Apple CarPlay é feita apenas por meio de cabo. Pacote de assistência ao motorista
completo: frenagem autônoma de emergência e câmera 360°, entre outros. Também
há o indispensável freio eletromecânico de imobilização automática em paradas.
Houve ótimo
progresso no trem de força, totalmente novo. Agora, o ponto mais forte do
Creta, embora limitado apenas a gasolina: 1,6 L, turbo, 193 cv a 6.000 rpm; 27 kgfm de 1.600 a 4.500 rpm. Acelerações e retomadas
são referências no segmento: 0 a 100 km/h em 7,5 s e brilhante retomada de 80 a
120 km em 4,5 s, já estimado erro do velocímetro. Câmbio é automatizado de
dupla embreagem, a seco, de 7 marchas, com trocas suaves em uso comportado. Há
três modos de condução: Eco, Normal e Sport. Contudo, consumo de combustível,
obviamente, não é o maior destaque. Limitou-se a 8,8 km/l em cidade e 13,9
km/l, estrada.
Preço de R$ 189.990 já deixa a versão Ultimate perto de SUVs médios.
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