Coluna Fernando Calmon
Nº 1.255 — 16/6/23
Carros de entrada
mais caros,
um fenômeno mundial
Houve muita confusão em relação ao recente pacote de incentivos
para aliviar os estoques elevados de veículos à espera de compradores.
Inclusive o uso totalmente distorcido do que significa um carro “popular”. Afinal,
o termo está superado por se referir a uma situação do passado, não do
presente. Hoje o mais adequado é carro de entrada ou de acesso, quando não
existem condições mercadológicas de simplesmente “depenar” um produto para
baixar seu preço. Exigências de segurança, emissões e alguns equipamentos de
conforto e comodidade impedem qualquer ação nesse sentido.
No entanto, essa condição se repete até nos mercados ricos.
Uma recente reportagem do prestigioso jornal americano Washington Post (WP) apontou que parte dos compradores nos EUA está
preferindo dar uma ajeitada no seu automóvel usado. Eles não conseguem pagar as
prestações dos modelos mais em conta porque preços e juros subiram. Esse
fenômeno reflete o encarecimento da oferta destes produtos de entrada.
Em 2017, havia 11 modelos por menos de US$ 20.000 (R$ 97.000
em conversão direta, mas com os baixíssimos impostos locais). Em março último,
apenas dois. O preço médio atual é de US$ 48.000 (R$ 233.000). Bom lembrar que
a frota americana de 290 milhões de veículos ainda é a maior do mundo com
densidade de 1,2 habitante/veículo. Na China, maior mercado mundial, 25 milhões
de unidades/ano, a densidade está em torno de 4 habitantes/veículo semelhante à
do Brasil. Esse panorama de automóveis mais caros se repete nos outros mercados
de alto poder aquisitivo e volume na Europa, Japão e Canadá.
Guardadas as proporções, em 1993 o Brasil criou os carros
apelidados de “populares” com redução praticamente total (99,9%) do IPI. Eram
sete pelo preço combinado de o equivalente a US$ 7.500: Fusca, Kombi, Uno
Mille, Chevette Jr., Escort Hobby, Gol 1000 e quase um ano depois, Corsa Wind. Feita
a correção monetária custariam hoje cerca de R$ 80.000 e seriam incomparáveis
em termos técnicos aos atuais de entrada ou de acesso.
Agora só há dois modelos na faixa de R$ 59.000 com os
descontos patrocinados pelo Governo Federal e em vários casos, fabricantes:
Fiat Mobi (lançado em 2016) e Renault Kwid (2017). Os demais 88 modelos vão de
R$ 63.000 a R$ 138.890. A Fenabrave distribuiu no dia 13 último uma nota prevendo
que o programa de incentivos só vai durar um mês, quando o montante alocado ao patrocínio
se esgota.
O que o WP deixou de abordar por não se tratar do tema da
reportagem, é um fato ainda pouco comentado. Boa parte desta disparada de
preços no mundo deve-se a que os fabricantes precisam investir muito na necessária,
porém longa transição para veículos elétricos. Como dinheiro não cai do céu, a
rentabilidade tem de vir de alguma forma. No caso, aumentando os preços dos
carros atuais já que subsídios governamentais no exterior são limitados e um
dia vão acabar.
Controle mundial de gases de efeito estufa ainda patina
Grande parte dos países entendeu a necessidade de controlar
os gases de efeito estufa para limitar o aumento de temperatura média da Terra
em 1,5 °C até o final deste século. Se o compromisso deixar de ser atendido, há
grandes riscos de alterações climáticas que podem afetar de forma severa a vida
humana no planeta.
É bom lembrar que há outros “vilões” além do gás carbônico
(CO2). O metano é um deles de origem principal na pecuária e cerca
de 20 vezes com mais poder de contribuição que o CO2. A frota
mundial de 1,4 bilhão de veículos responde hoje por cerca de um quarto de tudo
que contribui para o efeito estufa. O desmatamento e outras atividades agrícolas
têm grande peso, sem esquecer dos transportes aéreo e marítimo.
Entretanto, no caso da cana-de-açúcar e do milho para
produção de etanol no Brasil há compensação graças à fotossíntese de mais de
80% da emissão de CO2 pelos veículos leves. Outras atividades como
reflorestamento em oposição ao desmatamento e a futura produção de hidrogênio
verde colocam o País em uma posição de alguma proeminência, apesar de as
condições atuais apontarem problemas.
A Imperial College, universidade de grande prestígio mundial
em Londres, acaba de publicar um estudo em que estima que 90% dos países analisados
têm planos não confiáveis sobre zerar as emissões líquidas de CO2.
A China continua de longe o maior emissor (24,2%) e baixa
confiança em atender as metas, seguida pelos EUA (11,6%) e também baixa
confiança. Índia (6,8%), Indonésia (3,9%) e o Brasil (2,9%) foram enquadrados em
muito baixa confiança. A União Europeia responde por mais que o dobro (6,3%)
dos gases de efeito estufa em relação ao nosso País, porém suas metas são consideradas
de alta confiança, como as do Reino
Unido e Nova Zelândia.
A meta a ser cumprida depende do esforço gerencial e
político, condição econômico-financeira e o cenário atual de cada país em termos
de população e área. A China já sinalizou para 2060. A maioria, porém, acredita
que em 2050 terá feito a sua parte.
Polo Track trouxe simplicidade ao compacto
No mês passado o Polo liderou o mercado brasileiro de
automóveis de passageiros pela primeira vez desde o início da produção aqui em 2002.
A versão de entrada Track lançada em fevereiro último ajudou no avanço que levou
o modelo a também comandar o segmento de hatches compactos.
Ao avaliar o Track no dia a dia o modelo mostrou
comportamento dinâmico igual aos outros Polos, pois não houve mudanças na
arquitetura MQB A0, mas ganhou nova grade dianteira. Entretanto, as rodas de
aço com calota têm apenas quatro parafusos, contra cinco das demais versões.
Isso não atrapalha a segurança, contudo denota de onde se diminuíram os custos.
Números de potência (84/77 cv etanol/gasolina) e torque (10,3/9,6 kgf.m E/G)
são os mesmos da versão MPI.
O Track veio abastecido com gasolina e ficou nítida uma
pequena perda no desempenho, em especial quando trafeguei em estrada.
Igualmente em circuito urbano ao transpor lombadas, por exemplo, que exige
maior uso do câmbio.
Acabamento interno simplificado e os materiais também estão
dentro do figurino da proposta. Ar-condicionado, quatro airbags, vidros
dianteiros elétricos e travamento remoto das quatro portas são de série. Não há
central multimídia. Rádio e alto-falantes emitem som apenas razoável e é meio
temperamental para executar pareamento Bluetooth com o celular. Quanto ao espaço
interno destaca-se frente a outros compactos do segmento, além do porta-malas
de 300 litros padrão VDA.
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