Fernando Calmon
Nº 1.003 — 28/7/18
AUTÔNOMOS
QUESTIONADOS
O avanço constante das pesquisas sobre carros autônomos tem
encantado os países do hemisfério norte, onde o alto poder aquisitivo dá margem
a novas experiências que prometem um trânsito mais seguro e menos danoso ao
meio ambiente. Esse cenário dá margem a pensar no melhor dos mundos, ou seja, soluções
ousadas como compartilhamento de veículos e alta conectividade entre veículos e
infraestrutura viária.
Tudo altamente desejável, porém exige esforço financeiro imenso,
longo planejamento, mudanças nas vias, reformulação dos códigos de trânsito e,
acima de tudo, tempo, muito tempo.
Prefeituras de capitais europeias já
anunciaram planos de restrições severas, em alguns casos banimento, à circulação
de automóveis sem mostrar como a mobilidade rápida estará garantida. Anunciaram
datas de implantação sem o menor compromisso com a viabilidade técnica e/ou
econômica.
Mas há vozes ponderadas também. O professor de Política
Pública do King’s College London, Mark Kleinman,
em artigo no site The Conversation deu o instigante título: “E se os veículos
autônomos nos fizessem mais dependentes dos carros?”
Para ele, “é
provável que autônomos aumentem – em vez de diminuírem – o uso do carro, pois
as pessoas sucumbem ao fascínio da conveniência, saem do transporte público ou
fazem mais deslocamentos. Veículos autônomos podem estacionar fora dos centros
urbanos, mas ainda precisam estacionar, além de fazerem viagens de retorno para
coletar passageiros, acrescentando carros vazios às estradas e aumentando
congestionamentos.”
E continua: “Há muitas
perguntas sem respostas. Não está claro como veículos autônomos coexistirão com
pedestres e ciclistas. Se estiverem programados para parar sempre que um destes
entrar em seu caminho, haverá pressão para que automóveis sejam separados de pedestres
e ciclistas. A visão das cidades em 2050 pode começar a parecer cada vez mais
com a dos anos 1950. Carros futuristas dominariam o cenário, enquanto
atividades de andar e pedalar ficariam relegadas a passarelas e metrôs
sombrios.”
Kleinman termina seu
artigo advertindo que prefeitos deveriam ser mais cuidadosos no planejamento e
convivência com veículos autônomos. Afinal, precisariam saber antes se pedestres
estariam dispostos a obedecer a uma política severa de jaywalk (termo em inglês para atravessar a rua sem observar
regras de cruzamento).
Evitar ao máximo a
interferência entre meios de deslocamento com diferentes velocidades é o sonho
de qualquer planejador urbano. Isso, por enquanto, está distante de solução
prática e barata.
ALTA RODA
FCA pode viver
tempos instáveis com a morte de Sergio Marchionne, presidente executivo do
grupo ítalo-americano. Ele previa se aposentar em abril próximo, indicando seu
sucessor, mas mantendo alto grau de influência pois continuaria acionista e
ainda comandaria a Ferrari por mais três anos. Mike Manley, que hoje cuida de
Jeep e Ram, é o novo líder.
MANLEY, um
executivo inglês, terá muito desafios. A sua divisão, de longe, é a mais
lucrativa e novas responsabilidades já tinham sido repassadas para ele por
Marchionne. Este, por sua vez, sempre teve bons olhos para a filial brasileira
e foi entusiasta da fábrica Jeep em Pernambuco. Isso não deve mudar, mas
dependerá do dinamismo da nova administração.
ATUALIZAÇÃO de
meia geração do Ford Ka (ano-modelo 2019) demonstra amadurecimento do projeto.
Além de retoques estilísticos discretos, chamam atenção a estreia do motor
tricilindro, 1,5 L/136 cv (etanol) e nova caixa de câmbio manual. Esta caixa surpreende
pela exatidão dos engates e praticidade da ré sincronizada.
COMBINAÇÃO virtuosa
no Ka é o novo câmbio automático de seis marchas, oferecido por razoáveis R$
4.500, e o motor 1,5-L, um dos melhores de aspiração natural do mercado. Ganhou
em silêncio a bordo graças ao para-brisa acústico. Quadro de instrumentos
merece, ainda, modernização. Bastante úteis as duas entradas USB de alta
amperagem, iluminadas e bem localizadas.
VERSÃO inédita FreeStyle
do Ka não exagera tanto nos penduricalhos de pseudo-SUV. Retrabalho nas
suspensões é ponto alto do modelo, apesar do preço pouco atraente. Toda a linha
recebeu reforços estruturais já esperados. A Ford afirma que preços foram
mantidos. Vão de R$ 45.490 a 70.990.
MOTOR turbo de
quatro cilindros/2 L/300 cv é a principal novidade do Jaguar F-Type 2019.
Desempenho muito próximo ao V-6 ainda em produção (na realidade, V-8 com dois
cilindros ocos) e por preço menor: R$ 339.929 (cupê) e 346.144 (conversível).
Ronco do motor, particularmente instigante. Programação automática de ajustes
dinâmicos é outro destaque.
BMW e EDP
montaram um corredor elétrico (430 km) em seis postos Ipiranga, entre São Paulo
e Rio, ao custo de R$ 1 milhão. Iniciativa tem seu simbolismo por estimular o
carro elétrico. Mas é bom lembrar que, mesmo com carregador super-rápido, um i3
exige 25 minutos até atingir 80% da capacidade da bateria. Para 100%, leva cerca
de uma hora.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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