Coluna Fernando Calmon
Nº 1.193 — 24/3/22
AUTOMÓVEIS ESTÃO MUITO CAROS,
PORÉM HÁ 30 ANOS CUSTAVAM MAIS
As reclamações sobre encarecimento
dos veículos são generalizadas e refletem a dura realidade. Porém em fevereiro
houve um pequeno alívio no ritmo dos aumentos. Segundo a filial brasileira da
consultoria Kelly Blue Book (KBB), os preços no mês passado subiram 0,25% em
média em relação a janeiro deste ano. Quando se compara janeiro de 2022 com
dezembro de 2021 os reajustes tinham sido de 1,39%. A redução da alíquota do
IPI, anunciado pelo Governo Federal no final de fevereiro, talvez se reflita moderadamente
agora em março.
Estabelecer quanto encareceram
ao longo de décadas é tarefa difícil porque a inflação causa fortes distorções.
A começar pelo próprio termômetro, ou seja, o índice mais apropriado para fazer
as comparações. Vou tomar como exemplo o carro popular, programa lançado em fevereiro
de 1993. Na época, quando se criava o Plano Real, o IPI foi reduzido para
simbólico 0,1% e tabelado no equivalente a 7.500 URV ou R$ 7.500 (US$ 7.300 no
câmbio da época). Deveria ser mantido, em teoria, até 1996. Mas já em fevereiro
de 1995 o IPI passou para 7% e o “popular” saltou para R$ 12.000.
Seis produtos se
enquadraram no início: Uno Mille, Gol, Chevette Júnior, Escort Hobby, Fusca e Kombi.
O critério era motor de 1 litro de cilindrada, embora Fusca e Kombi tivessem
motor de 1,6 L.
Atualizado pelo dólar
o “popular” custaria hoje US$ 14.300 (R$ 70.600). Corrigido desde fevereiro de
1995 pelo IPCA, um dos índices de inflação ao consumidor calculado pelo IBGE, deveria
estar em R$ 72.000. Se a correção for pelo IGPM, que reflete os aumentos de
custos das empresas em geral, atingiria R$ 126.000. Para comprar os veículos
mais baratos em 1995 eram necessários 120 salários mínimos.
Agora o que vale é o
conceito do automóvel de entrada no mercado, o mais barato possível de
adquirir. Estes giram hoje em torno de R$ 60.000, casos do Kwid e do Mobi. Deve-se
frisar, porém, que um carro de entrada atual oferece muito mais em relação há
quase 30 anos. Ar-condicionado e direção assistida, por exemplo, passavam bem
longe de um “popular”. Também nem dá para comparar os recursos de segurança
passiva e ativa. No Kwid o controle eletrônico de estabilidade, quatro airbags
e assistente de partida em rampa são itens de série.
Houve ainda uma evolução
substancial em termos de poder aquisitivo. Os modelos mais baratos de hoje podem
ser adquiridos na faixa de 50 salários mínimos.
Em 2021 os preços
carros novos subiram muito acima da inflação em comparação a 2020. Na média os
aumentos ficaram em torno de 20%, dependendo da marca e modelo. Isso ocorreu
por desequilíbrio causado pela falta de componentes (basicamente semicondutores)
e efeitos da pandemia de Covid-19. Há uma perspectiva de melhora no fluxo no
próximo semestre, mas alguns executivos falam agora em normalização só em 2023.
Veículos com até três
anos de uso, segundo a KBB, subiram 2,86% em fevereiro sobre janeiro. Nos
últimos 12 meses, o crescimento dos preços no mercado de usados como um todo
ficou próximo ao observado para os veículos novos, ou seja, também em torno de
20%. Significa que, em termos de troca, algum equilíbrio foi alcançado.
ALTA RODA
PLANOS da Stellantis para o Brasil até 2030 incluem 20% de modelos híbridos e
elétricos, somando as marcas do grupo (Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e Ram),
entre nacionais e importados. Além do italiano Compass 4xe que chega em abril,
a empresa desenvolve o primeiro flex híbrido em Betim (MG), mas não informou qual
produto. Tudo indica que será uma das versões do novo SUV cupê previsto para o
segundo semestre deste ano. Hoje, apenas Corolla e Corolla Cross são flex
híbridos.
FÁBRICA da Tesla foi inaugurada em Berlim, Alemanha. Investimento alto de US$
5,5 bilhões (R$ 27 bilhões) para uma capacidade de 500.000 unidades/ano do SUV
cupê Model Y de porte grande. Esta produção só será alcançada em dois anos. Inclui
uma fábrica de baterias com capacidade anual de 50 GWh. Por exigências
ambientais o projeto atrasou cerca de oito meses. Há rumores de que um segundo
produto, menos caro, estaria nos planos.
JEEP Renegade recebeu atualizações estéticas já esperadas após sete anos de
mercado. Mudanças concentradas na frente, pois o motor 1,3-L turbo de 185 cv (E)/180
cv (G) exige maior captação de ar. Formato semicircular do DRL em LED e
lanternas traseiras destacam-se. No interior há um novo volante. Carregar o
celular por indução ficou mais fácil com um suporte para fixá-lo e fluxo do
ar-condicionado. Desempenho ficou incomparavelmente melhor que o antigo motor
de 1,75 L.
ASTON MARTIN aumenta a presença no
Brasil com inauguração da concessionária em São Paulo, do grupo UK Motors. Na
mesma semana a marca inglesa apresentou o V-12 Vantage, série especial de 333
exemplares, com preço na origem a partir de US$ 350.000 (R$ 1,8 milhão). Pelo
menos um destes, de 700 cv, será destinado ao Brasil. Outro modelo especial,
Valhalla, cupê híbrido plugável, limitado a 999 exemplares a partir de 2023,
tem cinco encomendas para clientes aqui.
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