Coluna Fernando Calmon
Nº 1.250 — 11/5/23
Lidar ou radar? O que levará
um automóvel a nunca colidir
Um veículo à prova de acidentes é uma promessa que mais cedo
ou mais tarde pode se transformar em realidade. Mas a tecnologia para chegar lá
é alvo de intensas discussões técnicas e até egocêntricas. Isso ficou claro em
reportagens da Forbes e da Autocar sobre o avanço de uma empresa sediada em
Orlando, Flórida (EUA), a Luminar. Seu presidente, o bilionário Austin Russel,
não se pode classificar de modesto.
"Primeiro, os cintos de segurança. Depois, os airbags.
Agora, a Luminar” afirmou em entrevista. A aposta da empresa é no lidar (sigla em inglês de Light Detection and Ranging, Detecção e
Medição de Distância por Luz), tecnologia de sensoriamento remoto que
usa pulsos de laser para construir um ambiente tridimensional à frente de um
veículo, permitindo detectar objetos até 300 metros de distância. Com
aperfeiçoamentos futuros é possível criar um “envelope” de segurança em torno
do carro para torná-lo à prova de colisões, independentemente de quem esteja ao
volante.
O segundo homem mais rico do mundo, Elon Musk, dono da Tesla
e outras gigantes como a fábrica de foguetes SpaceX, fez opção por um sistema
de câmeras de alta definição. Ele desdenha o lidar como “um objetivo tolo” e
recusa-se a usá-lo nos Teslas.
Matthew Weed, diretor da Luminar, não deixou por menos. “Um
carro dirigir sozinho apenas com câmeras é questão irrelevante. Porém, será
sempre mais seguro? Se houver tecnologia lidar no veículo, a resposta é sim. Se
pudermos reduzir o custo o suficiente para compensar o valor por meio de menos
colisões, então se trata de conversa irrelevante”, disparou.
Há mais de 25 empresas de lidar no mercado mundial e quatro
se destacam: Innoviz, de Israel; RoboSense e Hesai, da China; Valeo, da França.
"Existem 100 especificações e requisitos dentro de um sistema lidar, mas importante
é o quão longe pode-se detectar as coisas e vincular isso diretamente à
velocidade com que é seguro dirigir", diz Weed.
Ele afirma com base em relatório do Conselho Econômico e
Social das Nações Unidas que o lidar da Luminar pode detectar um pneu na
estrada a cerca de 160 m – o dobro da distância de qualquer outro. A nova
fábrica da empresa no México (além dos EUA, Tailândia, China e mais uma na
Ásia) deverá permitir escala para tornar o produto mais em conta.
Na próxima geração o custo deve cair para cerca de US$ 350 (R$ 1.750), equivalente à economia no preço do seguro.
Mercado caiu em abril, mas subiu no quadrimestre
Ainda é cedo para revisar a previsão de comercialização de
veículos leves e pesados ao final deste ano em comparação a 2022, afetado por
uma queda de produção importante por falta de peças em razão da pandemia da
covid-19. Especificamente em abril, com dois feriados numa 6ª. feira, além do
dia 1º de maio numa 2ª. feira que impediu o emplacamento do que se
comercializou no fim de semana anterior, os números foram contrastantes.
Em abril venderam-se 160,7 mil unidades, 19,2% a menos em
relação a março. Já no acumulado do primeiro quadrimestre o total de 632,5 mil
unidades superou em 14,4% o idêntico período de 2022. A Fenabrave informou que no
caso dos automóveis (80% das vendas totais) o primeiro quadrimestre de 2023 ficou
32% abaixo do mesmo período de 2019, antes da pandemia.
Neste começo de maio, números desanimadores: apenas 7,5 mil
unidades de vendas diárias, em média. A Anfavea manteve sua previsão de
crescimento modesto de 2,2% em 2023 frente a 2022. A diferença entre o
projetado e o realizado foi muito pequena até agora. O estoque total (fábricas
e concessionárias) permaneceu em 38 dias de março para abril.
As exportações nada ajudaram (queda grande no mercado
argentino, o principal). Haverá paradas de produção em maio e junho, afetando a
maioria dos fornecedores que não têm o mesmo fôlego financeiro para manter empregos.
Quanto ao chamado carro “verde” de entrada para impulsionar
as vendas, pouco avançou. Há sugestão de permitir uso do FGTS para uma linha de
financiamento especial, mas é preciso mudar a lei que prevê apenas a aquisição
da casa própria.
ALTA RODA
- Porsche 718 Cayman
RS GT4 é um cupê de fora dos padrões por ser uma versão homologada para rua
de um carro de competição. Por isso, nada de estranhar o elaborado desenho
aerodinâmico do para-choque dianteiro, saídas de ar (tipo Naca, aeronáuticas) para
os freios sobre o capô (construído em plástico reforçado com fibra de carbono –
CFRP, em inglês), para-lamas dianteiros também em CFRP com três saídas de ar de
cada lado, rodas de alumínio de 20 pol. (opcionalmente de magnésio), além da
imponente asa traseira com suportes de alumínio tipo “pescoço de ganso” e um
enorme adesivo Porsche no alto do óculo traseiro. Ninguém fica indiferente.
Por dentro, dois bancos-concha também em CFRP só reguláveis em distância, um robusto “santantônio” (opcionalmente de titânio), janelas traseiras com vidros mais finos, volante revestido de camurça com um anel amarelo de referência que informa rodas dianteiras retas à frente para o piloto/motorista e maçanetas em tecido trançado.
O que mais emociona? O concerto afinado e bem alto do motor, conta-giros
no meio do quadro de instrumentos com escala em vermelho às 9.000 rpm graças ao
motor de aspiração atmosférica, 4-litros, seis-cilindros horizontais opostos
três a três, 500 cv a 8.400 rpm e 45,8 kgfm a 6.750 rpm. Os quase onipresentes
motores turbos atuais giram bem menos e, portanto, não oferecem a mesma sensação
auditiva.
Guiar o 718 Cayman nas nossas ruas, obviamente, traz
desconforto. A estrada é o seu habitat com extraordinária sensação de domínio
em curvas de qualquer raio, freios potentes e direção incrivelmente precisa. O
preço explica: R$ 1.157.000.
- Movimento Maio
Amarelo comemora em 2023 seu décimo aniversário com o tema “No trânsito,
escolha a vida”. Idealizado pelo Observatório Nacional de Segurança Veicular
(ONSV), fundado em 2010, a campanha teve este ano uma homenagem simbólica. Entre
30 de abril e 7 de maio a cúpula e as duas torres de 28 andares que fazem parte
do Congresso Nacional receberam iluminação amarela. O amarelo simboliza atenção
e também a sinalização e advertência no trânsito.
Segundo estatísticas mundiais do Relatório de Status de
Segurança Rodoviária, da Organização Mundial de Saúde 1,35 milhão de pessoas
morrem no trânsito em ruas e estradas todos os anos. Índia, China e Brasil,
nessa ordem, lideram essa triste estatística. Mas o País conseguiu avanços em
outro quesito durante a realização da primeira Década de Ação para Segurança no
Trânsito, de 2011 a 2020. Reduziu em quase 50% o número de mortos nesse período
que coincidiu com a lei de tolerância zero para motoristas em relação a bebidas
alcoólicas.
Para a segunda década – 2021 a 2030 – o desafio da ONU
repete-se (diminuição de mortos igualmente de 50%). Desta vez, um repto bem
maior ao Brasil.
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