Coluna Fernando Calmon
Nº 1.273 — 19/10/23
Motoristas ainda não
se sentem
à vontade com
automação ao dirigir
O alerta vem de uma grande pesquisa recente feita nos EUA pela J. D. Power. Na realidade, quem está ao volante nem sempre consegue dominar o significado exato de cada um dos Sistemas Avançados de Assistência ao Motorista (ADAS, na sigla em inglês) e, portanto, não tira proveito destes recursos em sua totalidade ou sentem algum grau de insegurança no seu funcionamento.
De fato, constatou-se
que os consumidores estão atrasados na compreensão e preparação para níveis
superiores de automação. Ou, por outra visão, a indústria automobilística está
se adiantando ao oferecer muitos recursos, alguns até bem caros, sem que os
clientes finais tenham absorvido o modo certo de entendê-los e operá-los. São
muitas as siglas que descrevem até com palavras pomposas o que, de fato,
oferecem.
Motoristas receptivos ao aprendizado são de gerações mais
novas. A pesquisa apontou as fontes de informação: manual do
proprietário (32%), pesquisa on-line (27%) e explicação na concessionária
(26%). O restante procura se informar por conta própria e interação com o ADAS.
O resumo do sentimento de muito dos entrevistados aparece
nessa declaração: “Não estou pronto para confiar minha vida a um veículo
totalmente automatizado. Preciso de tempo para confiar nas capacidades do
sistema.”
Segundo Bryan
Reimer, cientista pesquisador do Centro de Transporte e Logística do instituto tecnológico
MIT, alguns dos recursos altamente automatizados permanecem em fase de
evolução e teste. Há problemas e limitações sendo encontrados – e corrigidos.
Para ele, “quanto mais cedo os consumidores reconhecerem que
podem aproveitar hoje uma série de funcionalidades ADAS para ajudar o seu comportamento
ao volante, mantendo ao mesmo tempo a responsabilidade ao guiar, rapidamente se
chegará a um futuro em que daremos prioridade a escolhas de mobilidade segura,
convenientes e sustentáveis proporcionadas por veículos altamente
automatizados.”
Então, se você se considera um ser um pouco inferior por não compreender bem o funcionamento de algumas destas soluções, não se preocupe. Com o tempo a confiança aumentará e estará integrada a todo o ecossistema de segurança ativa que tem muito a oferecer.
Mustang Mach-E acelera de verdade e como poucos
Primeiro modelo elétrico a bateria importado pela Ford, o
Mustang Mach-E exibe alguns superlativos. O mais atraente é a aceleração de 0 a
100 km/ em apenas 3,7 s, apesar de sua massa em ordem de marcha de nada menos
que 2.281 kg. Seus dois motores (um em cada eixo) entregam 487 cv e 87,7 kgf·m,
com tração naturalmente integral. E, curiosamente, cada cv “custa” quase exatos
R$ 1.000, totalizando R$ 486.000 para a versão única GT Performance.
Suas linhas são típicas de um crossover, mais precisamente
um SUV cupê, com referências claras ao Mustang de motor a combustão como
indicam o capô longo e o desenho das lanternas traseiras. Também chama atenção
a ausência de maçanetas convencionais: basta apertar um botão para acessar o
interior. Este se destaca pelo espaço interno (entre-eixos de confortáveis
2.984 mm), quadro de instrumentos de 10,2 pol., tela multimídia vertical de
15,3 pol. (com botão para controle de volume), seis portas USB tipos A e C, sistema
premium de som (B&O) e freio de estacionamento eletromecânico com função de
autoimobilização nas paradas.
Outros destaques são teto solar de grandes dimensões com revestimento
termorreflexivo, nove airbags (um deles o providencial entre os bancos
dianteiros para evitar que um ocupante lesione o que está ao lado num colisão
lateral), quatro modos de condução e dois porta-malas (traseiro de 402 litros e
o dianteiro de 140 litros, este lavável e drenável), rodas de 20 pol. com pneus
245/45 R 20, freios Brembo, amortecedores com variação de carga magnética,
quatro modos de condução, perfeita distribuição de massa (50% em cada eixo) e
vão livre do solo de 200 mm.
A bateria de 91 kW·h permite o alcance médio de 379 km no padrão Inmetro. Tempo de recarga entre 11 e 14 horas.
Japão e Coreia do Sul vão devagar com os elétricos
Outro dia recebi uma informação de uma empresa entusiasmada
com a participação de carros elétricos no mercado brasileiro: “mais que
tendência já é uma realidade”. Fico pensando sobre percepção elástica da realidade.
Apesar de com frequência abordar este assunto, além de seguir de perto os lançamentos
e avaliações ao volante, deve-se reconhecer que ainda falta muito para a
tendência se transformar em vendas.
Razões são sobejamente conhecidas: preço muito alto que
começa a cair com as ofertas de marcas chinesas, alcance limitado fora dos perímetros
urbanos, tempos de recarga longos e uma rede incipiente de eletropostos. Também
jogam contra o poder aquisitivo limitado dos brasileiros e a extensão territorial
do País por exigir ampliação dos atuais e estimados 3.000 locais de
recarregamento de baterias para no mínimo 80.000.
Por todos os motivos citados não chega a ser exatamente uma
surpresa que a participação de modelos 100% elétricos no País representem
apenas 0,6% das vendas de automóveis e veículos comerciais leves até o mês
passado.
Porém, em nações de alto poder aquisitivo com ampla oferta
de modelos de todos tipos e plenas condições de implantar uma malha de recarga por
terem extensão territorial minúscula em comparação ao Brasil, essa participação
poderia ser muito maior. Para ter certeza, solicitei à consultoria JATO
Dynamics informações sobre Japão e Coreia do Sul.
No fundo, não me surpreendi pelos dados coletados de vendas
entre janeiro e agosto deste ano. No Japão apenas 2,2% dos veículos leves eram
100% elétricos a bateria e outros 5,3% tinham tração elétrica, mas com motor a
combustão como extensor de alcance. Modelos 100% a combustão representavam 51%
e híbridos 41,5%. Números semelhantes na Coreia do Sul: apenas 7% eram
elétricos, 67% a combustão e 26% híbridos.
Em proporção os percentuais frente ao Brasil podem ser até
10 vezes maiores, porém ainda muito distantes do cenário na China onde um
quarto das vendas são de elétricos por razões estratégicas e forte suporte
financeiro governamental.
Aliás, não canso de repetir sobre os elétricos: rumo certo,
ritmo incerto.
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