Coluna Fernando Calmon
Nº 1.317 — 6/9/2024
Híbridos mereciam ter incentivos
maiores do que os 100% elétricos
“Pressa é inimiga da perfeição”. Frase
atribuída ao escritor Machado de Assis, que a cunhou de uma forma mais culta,
pode se aplicar ao atual cenário mundial. Os carros elétricos despertaram
atenções, programas apetitosos de incentivos governamentais e ocuparam parte
relevante (em torno de 40%) do maior mercado de veículos do planeta, o chinês,
do alto de seu 1,4 bilhão de habitantes.
Entretanto, há claros sinais de recuo em
vários países da Europa e uma “meia-trava” nos EUA, segundo maior mercado
mundial. A maioria dos fabricantes parece ter concluído, somente agora, que a
transição precisa ser feita com menos açodamento. Alguns deles foram pegos de
surpresa aos apostaram tudo numa rápida transição e sem terem dado a devida
atenção aos semi-híbridos, híbridos e híbridos plugáveis.
Boa parte dessa falha estratégica foi patrocinada
por um regime de estímulos inadequado. Países europeus refizeram as contas por
afetar o equilíbrio fiscal. O Brasil até que não errou tanto, embora isso se
deva em parte à oferta de motores flex que diminuem as emissões de CO2,
quando se abastece o tanque com etanol. Embora estes respondam por 80% das
vendas, apenas 30% usam regularmente o combustível de origem vegetal. Ainda
falta, portanto, avançar e os híbridos deveriam receber uma atenção maior.
De qualquer forma os semi-híbridos e híbridos
crescerão aqui a partir de lançamentos neste e nos próximos anos. É preciso dar
tempo até a chegada dos híbridos plugáveis. E investir em uma rede de recarga
rodoviária para elétricos, o que exige altos investimentos e um retorno
financeiro muito baixo em um país de grande extensão territorial como o Brasil.
GM anuncia investimentos de R$ 5,5 bilhões em São Paulo
Este montante responde por quase 80% do total
que a empresa desembolsará entre 2024 e 2028. Dois executivos da matriz, em
Detroit (EUA), Rory Harvey e Shilpan Amin, vieram ao País para confirmar o
investimento no Estado. Para completar os R$ 7 bilhões já anunciados, R$ 1,2
bilhão vai para a fábrica de Gravataí (RS) e R$ 300 milhões para a unidade de
motores em Joinville (SC). Santiago Chamorro, presidente da GM do Brasil,
confirmou que dois modelos híbridos “leves” (tecnicamente semi-híbridos) estrearão
em breve, sem citar datas.
É possível que pelo menos o primeiro deles
estreie em janeiro de 2025, quando a fabricante completa um século de atuação
no País. Provavelmente caberá ao Tracker e ao Onix, nesta ordem, a primazia. Também
um novo SUV compacto está previsto para Gravataí. Ainda em 2024 é esperada a
importação do México do elétrico Equinox, em outubro próximo, que complementará
o Blazer VE apresentado em julho passado e com preço a ser anunciado nos
próximos dias.
Também chegará a vez dos híbridos flex, uma
tecnologia mais cara, ainda sem previsão de data. Híbridos plugáveis a gasolina
ficarão para o final do atual ciclo de investimentos ou do próximo.
Agosto apontou leve queda de vendas em cenário ainda bom
Estatísticas de comercialização do mês passado
foram afetadas por um dia útil a menos do que julho. Foi um recuo de apenas
1,6%. Ainda assim, o acumulado de vendas de janeiro a agosto de veículos leves
e pesados atingiu 1,622 milhão de unidades ou 13,4% a mais que o mesmo período
de 2023. José Andreta Jr., presidente da Fenabrave, apesar de manter o otimismo
ressalva que “alguns fatores ainda podem movimentar o setor, como as taxas de
juros, que se aumentarem podem impactar nos financiamentos de veículos como
automóveis e comerciais leves”.
A consultoria brasileira Bright, em relatório apresentado
no recente Congresso Fenabrave, apontou algumas tendências em curso com uma
visão geral positiva. Algumas delas:
•
Atrasos na definição da
reforma fiscal e no programa Mover geram insegurança nos fabricantes quanto ao
rumo tecnológico, com a definição do imposto seletivo sobre automóveis tendo sido
novamente adiada.
•
Depois de fortes aumentos
nos últimos anos, o preço médio deve crescer de forma mais lenta de agora em
diante.
•
Maior adoção de
semi-híbridos prevista para 2025, à medida que o mercado brasileiro se ajusta a
novas tecnologias sustentáveis.
•
Devido à preferência
mercadológica e capacidade de absorver o custo incremental de equipamentos
regulatórios, SUVs continuam em ascensão.
•
Sedãs em tendência de
descontinuação, com poucas opções disponíveis no mercado.
•
Picapes correspondem a um
em cada cinco veículos vendidos.
•
Por conta das dimensões
continentais do Brasil, híbridos plugáveis passam a ter relevância.
Primeiro Kia elétrico, EV5, tem estilo e bom espaço
Primeiro modelo 100%
elétrico da Kia no Brasil acaba de estrear. Com dimensões externas para se
posicionar como um SUV familiar (4.615 mm de comprimento, 1.875 mm de largura,
1.715 mm de altura e cômodo entre-eixos de 2.750 mm), o EV5 dispõe de
predicados técnicos apreciáveis, como alcance médio de 402 km, padrão Inmetro. Seu
estilo é contemporâneo e o pacote ADAS incorpora nada menos do que 14
dispositivos de segurança ativa. Outros destaques: amplo espaço interno e bom
acabamento. Ótimo porta-malas: 513 litros.
EV5 utiliza um único
motor com potência de 217,5 cv e torque máximo de 31,6 kgf·m, alimentado por
bateria de fosfato de ferro e lítio, montada com módulos em lâminas, de capacidade
máxima de 88,16 kWh. Pode ser recarregado em corrente contínua (DC) de 360 kW,
o que garante carga de 20% a 80% em apenas 27 minutos. Já em corrente alternada
(AC) de 7 kW, precisa de 9h40m. Acelera de 0 a 100 km/h em 8,9 s.
O consumidor que
adquiri-lo receberá um carregador residencial de emergência de 7 kW e
gratuidade nas três primeiras revisões (20.000, 40.000 e 60.000 km). Por
dentro, painel e multimídia formam uma tela única de 29,9 polegadas de ótima
resolução. Chama atenção o banco do passageiro com extensor lateral em direção
ao motorista, sobre o console, que tem a função lúdica de criar um “lounge
interno”.
Num primeiro contato
em trecho de estrada nos arredores de Itu (SP), mostrou dirigibilidade
virtuosa. Tudo isso herdado principalmente do bom acerto de suspensão e
desempenho impactante de todo elétrico, embora alguns concorrentes ofereçam
motor mais potente, quase sempre desnecessário.
Preço: R$ 399.990.
Seminário aponta oportunidades para hidrogênio
A transição energética representa uma chance
única para o Brasil se posicionar entre os líderes mundiais nos próximos anos.
Afirmação de Thiago Lopes, coordenador de projetos no RCGI (sigla em inglês
para Centro de Pesquisas de Inovações sobre Gases de Efeito Estufa) e professor
da Poli-USP, no seminário organizado pela Carcon/Global Data, em São Bernardo
do Campo (SP).
Gás carbônico (CO2) em níveis
elevados demais tornou-se inimigo público mundial. Representa o principal vetor
para o chamado efeito estufa, fenômeno de aquecimento atmosférico e suas consequências
como derretimento de calotas polares e subida do nível dos mares. Automóveis e
veículos comerciais não são os maiores responsáveis, porém, têm peso estimado
em até 25% quando se calcula da fonte à roda.
Principal alternativa é o hidrogênio (H2),
considerado combustível do futuro. Para Lopes, “a relevância do H2 produzido a
partir do etanol atingirá um preço competitivo e no ciclo fonte à roda se
tornará um combustível com intensidade negativa de carbono”.
Entretanto, torna-se muito difícil prever
quando a era do hidrogênio realmente se tornará realidade, pois depende da
matriz energética de cada país. Da eletrólise da água (H2O) também
se obtém hidrogênio, mas exige enorme consumo de energia elétrica e esta
precisa ser obtida de forma limpa como em hidroelétricas ou a partir do sol e
vento.
Lopes citou o projeto da USP que testa um
ônibus movido a H2, obtido a partir do etanol, em alternativa ao diesel com
redução significativa de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de
nitrogênio, além de alcançar o dobro de eficiência. No mundo, o Toyota Mirai é
o único modelo com motor a combustão interna abastecido com H2, porém sua venda
é simbólica e o reabastecimento, bastante limitado.
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