Coluna Fernando Calmon
Nº 1.320 — 27/9/2024
Renault confirma picape Niagara
intermediária na fábrica argentina
Este ano cerca de um
em cada cinco veículos comercializados no Brasil são picapes. Duas décadas
atrás este cenário nem passava pela cabeça de analistas, mas o mercado tem
dessas surpresas. Não há uma explicação exata para o fato e, possivelmente,
trata-se de uma combinação de fatores. Estes vão desde o preço menor (imposto também
menor), influência do crescente setor de agronegócio brasileiro, alguma inspiração
vinda do mercado americano e à praticidade da cabine dupla com quatro portas.
O certo é que 202.969 unidades dessa categoria, entre
picapes pequenas, intermediárias, médias e grandes, foram emplacadas no
primeiro semestre deste ano no País. Significou quase 20% do mercado brasileiro,
perdendo apenas para os 38% de SUVs e os 27% na soma de hatches/subcompactos.
Até agora existem 21
modelos no mercado nacional de picapes disponíveis em todos os tipos, embalados
por boas campanhas publicitárias e de marketing, além da chegada de modelos e
versões inéditos. Neste cenário insere-se a nova Niagara que a Renault acaba de
confirmar em Córdoba, Argentina, com investimento de US$ 350 milhões (R$ 1,92
bilhão).
A nova picape
francesa, que ainda não teve o nome confirmado, divide a mesma arquitetura com
o Kardian. Seu protótipo foi apresentado em março último durante a estreia em
Gramado (RS) do SUV compacto fabricado em São José dos Pinhais (PR). Disfarçado
pesadamente como carro-conceito de competições fora de estrada, a picape deixou
poucas pistas de seu visual final. Pormenores incluíam espelhos retrovisores
substituídos por câmeras e luzes externas de formas não definitivas.
Algumas referências
de dimensões informadas pela Renault — entre-eixos até 3 metros e comprimento
até 5 metros — indicam que alvo é mesmo a Toro, o que em tese indicaria a
convivência com a Oroch que tem porte menor e semelhante ao da Montana.
Previsão de lançamento deste modelo, sem confirmação oficial: entre o último
trimestre de 2025 e o primeiro trimestre de 2026.
A nova picape abre
espaço a especulações sobre outros concorrentes, que estariam em estudos ou já
em projetos finais, da Toyota, VW e até Hyundai.
EUA: motoristas contornam sistemas de automação parcial
Pesquisa recente feita
nos EUA pelo IIHS (sigla em inglês de Instituto das Seguradoras para Segurança
em Estradas) apontou um comportamento um tanto preocupante pela forma como
motoristas, no deslocamento em rodovias ou nas longas vias expressas em torno
dos grandes conglomerados urbanos do país, enganam os sistemas modernos de
automação parcial. Vem-se tornando comum acionar tais recursos, mas resolvem
“fingir” que prestam atenção no trânsito e na verdade não o fazem.
David Harkey,
presidente da entidade, afirmou: “Se o motorista entender que monitorar significa
apenas cutucar o volante do carro a cada poucos segundos, ele fará exatamente
isso”. Nos intervalos tratam de checar o telefone celular, comer um sanduíche
dentro de um hábito comum no país ou apreciar a paisagem.
A tendência de exacerbar
multitarefas também aumentou ao longo do tempo, à medida que motoristas se sentiam
à vontade com a tecnologia, enquanto outros ficavam mais distraídos ao usar o
sistema desde o início. Alguns usaram sua habilidade e continuar a se envolver
em comportamentos de distração, pontuados por movimentos rápidos de interrupção
dos alertas.
Câmeras e outros
sensores de automação parcial mantêm o carro no centro da faixa na velocidade selecionada,
diminuem a velocidade a fim de evitar acidentes e aceleram novamente com o
caminho livre. No entanto, os motoristas devem prestar muita atenção ao que
está acontecendo na estrada e estarem prontos a assumir o controle a qualquer
momento. Como os estudos mostraram, nem todos fazem isso.
“Esses resultados demonstram
que lembretes de atenção multimodais e escalonados são muito eficazes e fazem
com que os motoristas mudem seu comportamento”, disse a cientista sênior de
pesquisa do IIHS, Alexandra Mueller, autora principal do estudo. “No entanto,
melhores salvaguardas são necessárias e assim garantir que a mudança de
comportamento realmente se traduza em uma direção mais atenta.”
Impressiona por onde passa: Mustang GT Performance
Ele sobreviveu em
meio a um acidentado e hesitante avanço de carros elétricos, ao sabor dos
acontecimentos, que se sucedem da euforia aos soluços. Esta sétima geração
rebatizada de Mustang GT Performance chegou sem se preocupar com o cenário ao
seu redor. Manteve suas características principais ao longo de exatos 60 anos:
silhueta imutável de cupê, motor V-8 de aspiração natural, tração traseira,
quatro saídas de escape. Tudo uma ótima introdução. Rivais como Challenger e
possivelmente também o Camaro abraçam versões elétricas, sem nem se preocupar
com híbridos. O tempo dirá quem fez a escolha correta.
Nesta sétima geração
o esportivo veterano da Ford precisou limitar, por razão de emissões/consumo, o
aumento de potência e torque que ainda são bastante convincentes: 488 cv a
7.250 rpm (5 a mais) e 57,5 kgfm (0,8 extras) a 5.000 rpm. O câmbio automático
epicíclico continua o de 10 marchas, agora recalibrado. As trocas são
marginalmente mais rápidas. Desempenho coerente com a proposta: 0 a 100 km/h,
em 4,3 s. Mas na avaliação em São Paulo (SP), altitude de 672 m, a aceleração
perde mais de 0,5 s. Precisaria de um turbo e assim evitar isso.
Um aspecto
interessante: mesmo com apenas 1.398 mm de altura pode-se entrar e sair sem
grandes contorcionismos. Apesar de os novos bancos dianteiros um pouco mais
baixos, há pouco prejuízo de visibilidade. Incrível o número de informações
sobre o motor no quadro de instrumentos: temperatura do cabeçote e até do ar de
admissão. Tela multimídia é enorme: 13,2 pol. com pareamento de celular sem fio
e carregador por indução.
Comportamento em curvas mantém-se exemplar e os freios
melhoraram com pinças Brembo nos discos traseiros (antes só nos dianteiros). Na
lentidão do trânsito, há um senão: necessidade de acionar, a cada parada, a incômoda
e dura alavanca do freio de estacionamento e assim fazer atuar o indispensável sistema
de imobilização automática (auto-hold). Poderia haver um simples
botão ou leve toque no pedal de freio como em outros carros.
T-Cross muda pouco, porém ainda o SUV a ser batido
Existem pelo menos
20 concorrentes viáveis na faixa dos SUVs compactos e o produto da VW consegue
manter a liderança neste segmento. Na versão 2025, o T-Cross avançou um pouco e
conseguiu abrir, até o mês passado, uma pequena vantagem ao alcançar 8,1% do
mercado, contra 7,6% do Creta e 7,3% do Tracker no acumulado de 2024.
Nesta versão 2025
avaliada, foi feito um bom trabalho de atualização na parte dianteira graças
aos novos faróis e a uma grade um pouco mais elaborada. Só não ficou bom a
substituição dos faróis de neblina por falsas entradas de ar. Na lateral as
rodas de liga leve têm desenho rebuscado, embora de bom efeito visual. A parte
traseira é o seu melhor ângulo com a interligação iluminada das lanternas
redesenhadas e um protetor de para-choque que não cumpre exatamente essa
função. O porta-malas com 373 L é bom, mas superado pelo do Creta de 431 L.
No interior a faixa
central do painel, que se liga às portas, refinou seu visual. Há bons
porta-objetos e os bancos firmes de couro dentro do padrão VW são garantia de
que as viagens fiquem menos cansativas. Laterais de portas recebem tecido de
boa qualidade. Manteve a central multimídia de 10,1 pol. e seu funcionamento
melhorou bastante frente ao que foi no começo. Volante de muito boa pega e
regulável em altura e distância tem angulação correta de típico carro alemão.
Não houve alterações
de motor: 125 cv/25,5 kgf·m (etanol ou gasolina). Forma um ótimo conjunto com o
câmbio automático epicíclico de seis marchas, porém a função Eco deixa as
respostas letárgicas algo além da conta. O carro foi muito bem no consumo com
resultados quase iguais ao declarado tanto em cidade — 8 km/l (E) e 11 km/l (G)
— quanto em estrada — 10 km/l (E) e 14 km/l.
Também se destacou
no comportamento em curvas de curto, médio e longo raios, além de exemplar
precisão direcional.
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