Coluna Fernando Calmon
Nº 1.318 — 13/9/2024
Anfavea apresenta plano de
descarbonização ao governo
Objetivo é alcançar
em 2030 a venda de 1,5 milhão de unidades anuais entre semi-híbridos, híbridos
e elétricos. Representaria mais de 50% da comercialização total e caminharia
para 90% em 2040. As estimativas da Anfavea baseiam-se na evolução do estudo da
entidade em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), apresentando
inicialmente em 2021.
A premissa está
correta ao demonstrar a necessidade de um plano menos disruptivo do que
evolutivo. Há algumas dúvidas em relação ao aumento do teor de etanol na
gasolina (até 35%) e do biodiesel/HVO (até 30%) no diesel. Isso precisará ser
mais bem estudado para evitar que exija bombas nos postos diferentes para um e
outro combustível. Entretanto, há tempo suficiente para sanar dúvidas e
orientar a produção ampliada de biocombustíveis.
Pelas dimensões
continentais do País a alternativa de 100% elétricos perde força frente aos
híbridos flex, de modo a se construir um planejamento inteligente e acima de
tudo realista
O Brasil vem dando
lições ao mundo sobre uso inteligente de suas vantagens comparativas ao
explicitar emissões de CO2 da fonte à roda, de fato o que mais
interessa. Os europeus, por exemplo, preferiram jogar esse problema “para baixo
do tapete”, como diz o ditado popular. No entanto, já existem vozes no chamado
Velho Continente que entenderam o erro e começam a revisar suas ideias
Estudos do
BCG/Anfavea sobre descarbonização serão pormenorizados em encontros com
formadores de opinião este mês.
Produção cresce e importações continuam a se expandir
Os números positivos
refletem tanto uma recuperação do mercado interno quanto de exportações, embora
estas ainda claudiquem. No mês passado foram fabricados 259.613 veículos leves
e pesados com crescimento de 5,2% em relação a julho deste ano e 14,4% frente a
agosto de 2023. O melhor resultado desde o período de pré-pandemia, em outubro
de 2019.
Exportações tiveram
leve queda de 2,2% sobre julho, porém reagiram 10,8% sobre agosto do ano
passado. Em 2024, no entanto, o mercado externo encolheu quase 18% em unidades
e 13% em dólares. As importações seguiram caminho inverso e subiram nada menos
que 35% nos primeiros oito meses desde ano em relação ao mesmo período de 2023.
Chama atenção o
estoque estimado em 86.000 carros elétricos e híbridos, quase todos importados
da China, que correspondem a nada menos que nove meses de vendas. O
armazenamento é uma estratégia para contornar o aumento gradativo do imposto de
importação sobre elétricos. Porém, exige um capital empatado em valores
extremamente altos, que marcas de outras origens nem sonham em poder bancar.
Essa situação levou
ao pedido da Anfavea de antecipação de 2026 para este ano a recomposição do imposto
de importação para 35%, hoje em apenas 18%. A chance de o Governo Federal
atender a este pleito é quase nula por desagradar a China. O estoque atual na
fábricas e concessionárias é de 24 dias, sem computar, claro, os elétricos e
híbridos chineses.
Em agosto este é o
perfil em vendas de automóveis e comerciais leves (%): gasolina, 3,6; elétrico,
2,3; híbrido, 1,9; híbrido plugável, 2,4; flex, 80,3; diesel, 9,6. Híbridos
somados superaram elétricos.
Elétrico Yuan Pro tem estilo, preço e porta-malas ruim
Logo à primeira
vista o SUV elétrico mais em conta da BYD agrada, apesar de um certo exagero nos
vincos de carroceria e no aplique um pouco estranho abaixo do para-choque
dianteiro. Pormenor curioso: BYD aparece no alto da tampa do porta-malas, é
repetido no canto inferior direito como BYD Yuan Pro e abaixo dos dois espelhos
laterais com uma plaquinha BYD Design.
No geral o carro tem
boa presença e dimensões compatíveis com as de um SUV compacto: 4.310 mm de
comprimento, 1.675 mm de altura, 1.830 mm de largura e entre-eixos de 2.620 mm.
Em termos comparativos o SUV mais vendido, T-Cross, tem comprimento de 4.199
mm, altura de 1.568 mm de largura de 1.760 mm e entre-eixos de 2.651 mm. A
diferença a favor do líder de mercado está no porta-malas de 373 litros, 41%
maior que o chinês. Ambos usam estepes temporários.
Bom acabamento, materiais
de qualidade e de toque agradável marcam o interior com revestimento dos bancos
em couro claro que, apesar de adequado ao clima tropical, reúne poucos fãs no
Brasil. Os dois bancos dianteiros são bem ergonômicos e ambos dispõem de
ajustes elétricos. Assoalho traseiro, apesar de plano, é relativamente alto e incomoda.
Atrás faltam saídas de ar-condicionado.
Na frente destaques
para a tela multimídia de 12,3 pol. e console espaçoso. Faz falta mesmo, porém,
recursos de segurança ativa como frenagem autônoma de emergência, alertas de
saídas de faixas, de colisão frontal, de ponto cego e de tráfego traseiro transversal
entre outros.
Motor dianteiro de
177 cv e 29,5 kgf·m, apesar da massa de 1.550 kg, é suficiente para acelerar de
0 a 100 km/h em 7,9 s, sem chegar a empolgar. Bateria de 45,1 kWh deveria ser
maior: alcance médio de 250 km, padrão Inmetro, é pouco. Primeiro contato em
asfalto e terra foi nas pistas do Haras Tuiuti, a 110 km de São Paulo (SP). Suspensões
bem acertadas, volante de autocentralização correta e freios com boa potência,
mas o desempenho não é tão fulminante como o de outros elétricos.
Preço: R$ 182.800.
Cappellano, da Stellantis, confirma investimento na Argentina
A decisão de transferir
as picapes Fiat Titano e Peugeot Landtrek do Uruguai para a fábrica argentina
de Córdoba já era esperada. Instalações uruguaias não permitiam expansão e
localização de componentes. O investimento de US$ 385 milhões entre 2025 e 2030
foi anunciado por Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis América do Sul,
e inclui também um novo motor Diesel no país vizinho. Três quartos das unidades
serão exportadas, o que confirma a Argentina como forte contendora em picapes
médias de cabine dupla.
Segundo o site Autossegredos,
haverá também produção e exportação da nova Ram 1200, substituta da Classic. O
motor diesel de 2,2 litros entregará 180 cv e 37,7 ou 40,8 kgf·m, se o câmbio
ZF de oito marchas for manual ou automático, respectivamente.
Quanto ao Brasil o
executivo confirmou que dois modelos híbridos “leves” (mais corretamente,
semi-híbridos) serão lançados ainda este ano. Inicialmente a estreia da linha
Bio-Hybrid parecia reservada para a fábrica de Goiana (PE), porém a empresa dá
a entender que Betim (MG) poderá ter a primazia. Cappellano desconversou sobre
se o sistema utilizaria bateria de 12 V ou 48 V. Tudo indica que será usada a
bateria de menor capacidade.
Haverá um terceiro
lançamento este ano, a Ram 1500 reestilizada e lançada nos EUA, no final de 2023.
Horse aumentará índice de localização de motores
A Renault e a
chinesa Geely fundaram duas novas empresas que atuam de forma independente.
Primeiro a Ampere para veículos elétricos em 2022 e, agora em maio, a Horse
para produzir motores de combustão interna (MCI).
Uma visão bastante
pragmática é defendida pela Horse. Em 2040 metade dos carros vendidos no mundo ainda
deverão utilizar os MCI de forma isolada ou em configurações híbridas. Também
estarão na função de extensores de alcance para veículos de tração elétrica,
plugáveis em tomadas ou não, porém com baterias muito menores e mais baratas. Igualmente
haverá MCI de baixas emissões que poderão utilizar gasolina convencional ou sintética,
hidrogênio e flex com etanol.
As duas novas empresas
atuam de forma independente, sendo a segunda especializada em fabricação e
desenvolvimento apenas de motores e carros elétricos.
Para o Brasil a
Horse acaba de anunciar investimento de R$ 200 milhões para localizar a
produção de cabeçotes com métodos de fundição de alta tecnologia e amigáveis ao
meio ambiente, a partir de 2026. Hoje os principais motores são turbos flex de
1,3 litro, 170 cv e 27,5 kgf·m ou 1 litro, 120 cv ou mais e 20,4 kgf·m
(especificações com etanol).
Segundo cálculos da
empresa, revelados depois de estudos, ao fim de 150.000 km rodados, um carro
com motor aspirado e 100% de etanol no tanque, no cálculo da fonte ao túmulo
(ciclo completo de vida), emitirá cerca de 35% menos kg de CO2 que
um automóvel com motor puramente elétrico. Um motor turbo aponta para resultado
ainda melhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário