Carta ao Og Pozzoli
*1930, Itaboraí, RJ
+2017, S Paulo, SP
Velho amigo,
sei,
não me tomará por insensível a esta altura dos fatos, mas seu passamento
trouxe-me e seus amigos a sensação de alívio. Seus últimos tempos por aqui não
lhe foram fáceis nem tranquilos.
O Fábio Amorim, meu editor na Gazeta de
Alagoas, ligou-lhe ao seu aniversário e me sugeriu não chamá-lo: você estava
hospitalizado.
Fernando Siqueira, mesma função na Tribuna do Norte,
foi visitá-lo e fez-me cenário pouco claro. Entendi, você estava aquecendo o
velho motor para a passagem.
Cartas a amigos idos no usual têm acentos de perdas e lamúrias pelo que
não foi feito. Não é o caso e peço entenda-a como ode a uma personalidade de
ações indeléveis.
Sei claramente, neste país sem memória, poucos se lembrarão
você ter sido o remanescente do trio paulistano implantador do antigomobilismo
no Brasil.
Com o Roberto Lee e o Eduardo Matarazzo mostraram ser o colecionar
automóveis atividade de agentes históricos culturais, longe do rótulo de rico
ocioso.
Juntaram outros sonhadores, como o Júlio Christiano e o Fernando
Carneiro Leão no Rio, o Pacífico Mascarenhas na mineira BH, para espraiar a
ideia.
Meados dos anos ’60 auxiliaram criar o primeiro dos Veteran Car Club, no
Rio de Janeiro e, a seguir em S. Paulo. Este, com molde internacional, foi a
semente disseminadora de tantos clubes assemelhados até na razão social.
Fluminense de Itaboraí, RJ, criado em Natal, RN, de nome peculiar
– parto complicado, seu pai fazia palavras cruzadas, e não conseguiu fechá-las:
faltava uma – Rei de Bazan, duas letras. Nascido, foi premiado com a
descoberta...
Com tal início, você foi peculiar no colecionar, na opção mudar-se da
Paulistânia para grande chácara na periferia, sobre carregando a querida Maú
com toda a enorme logística envolvida para criar quatro meninos, pelo olhar
profissional aplicado em sua bem sucedida vida de empreendedor.
Distante, criou
estrutura para restaurações em domicílio, uma vila abrigando os prestadores de
serviço e de manutenção constante.
Sua visão de preservar discrepava do
inicialmente praticado, focando nos veículos especiais, de relevo, pouca
produção, optando pelos muitos norte-americanos disponíveis.
Você antevia, logo
desapareceriam, trocados pelos novos produtos da então nascente indústria
automobilística nacional.
Macio de convívio, modesto como enciclopédia de conhecimentos, em
especial os produzidos nos EUA, garimpador de veículos e de sua história, você
foi exemplo de seriedade às atividades do antigomobilismo no Brasil.
Antes de
conhecê-lo, o admirava: ao fim da década de ’60 para preservar o acervo
nacional você e o Roberto Lee conseguiram ato federal vedando exportar veículos
antigos –fosse válido atualmente impediria o dispersar da frota antiga brasileira.
Por sua densidade no meio, em 1985, quando organizei a dita rematada maluquice,
e na prática a pioneira longa viagem em carros antigos, no caso em Fords A
entre S Paulo e Brasília, fui pedir sua presença, aval de importância e
seriedade.
Em Brasília, entregamos aos Ministros dos Transportes e da Justiça o
pedido de criação da figura do veículo antigo no Código de Trânsito, o hoje
dito Placa Preta.
Criávamos ali, todos os 100 participantes, o Turismo
Antigomobilístico, pois até então os antigos na estrada eram apreendidos por
falta de equipamentos tornados obrigatórios posteriormente à produção. Um
disparate jurídico, mas era o que se cometia.
Logo em seguida, com a crise do
Veteran Car Club SP, para manter vivo o movimento, você criou a SPAA, Sociedade
Paulista de Automóveis Antigos, reunindo os colecionadores da capital.
Realizou a viagem de S Paulo-Natal, muitos quilometros e
efeito-demonstração de factibilidade dos clubes de veículos antigos,
disseminando a atividade por infindável sequência de cidades.
Quando propus a criação da Federação Brasileira de Veículos Antigos e me
indicaram presidente, condicionei-a a você aceitar ser o Vice – e sucessor-,
para lastrear credibilidade aos antigomobilistas espalhados pelo País.
Mesma
razão, sua presença ajudou a formar a sólida base para o Encontro Nacional, em
Araxá, tornar-se a grande referência nacional.
Faço um salto para reverência pessoal.
Há algum tempo, após 12 anos de tratativas, a Ford atendeu a solicitação
minha para cancelar o contrato de comodato de cinco automóveis com o museu
implantado pelo Roberto Lee em Caçapava, SP, incluindo um Overland 1906 e o
único exemplar do Willys Capeta ao Museu Nacional do Automóvel, em Brasília.
O
Lee se fora, o Museu estava vilipendiado, peças e veículos desapareciam, os
carros da Ford haviam sido saqueados.
Cautela de advogado, para retirada e
recebimento, preparei laudos descritivos, constando estado dos veículos e
ausência de componentes. E convoquei-o para co-assiná-los. Que manhã,
Alah.
Aberto o prédio, o ar era impregnado de mofo, unidade, matérias em
decomposição, fezes de pássaros e de roedores, água empoçada.
Os automóveis,
degradados, pilhados, e deles muitos você participou da localização,
restauração, revivificação para serem entronizados no Museu.
Andávamos com
dificuldade, e o ar nos era pesado fisica e emocionalmente pelas lembranças e
pelo desprezo deste país e suas pretensas autoridades às tentativas
particulares em formar acervo cultural para a posteridade.
Eu examinava os
carros sendo retirados, conferia os itens para entregar os laudos ao advogado
da Ford, e me surpreendi ao procurá-lo, dando com você encostado num pilar, num
choro silencioso e sentido.
Foi para mim a maior declaração de amor à causa, de
respeito à ideia que você ajudou a apresentar, praticar, manter viva, ante o
retrato do desrespeito do Estado à Cultura.
Entendi também, você, quase
octagenário, me distinguia muito, dirigindo quase 300 km para me ajudar. E
sabia, você estava nitidamente preocupado com o futuro seu acervo, pois a
Secretaria de Cultura, em S. Paulo, inflava esperanças de perpetuar sua coleção,
adquirindo-a para implantar merecido e óbvio Museu do Automóvel em S. Paulo – depois
condensou a proposta em um valor: R$ 0. Queria recebê-los em comodato, sem
custos…
Nada de história, cultura ou antigomobilismo, mas apenas marketagem
politica barata. Nesta trilha da insensibilidade oficial, lamentei
profundamente não ter tido êxito ao conduzir, junto à Presidência da República
sua generosa proposta, de ceder e conduzir conversível antigo em uma das posses
da má lembrada presidente Dilma.
Nas providências alguém acometido de ataque de
idiotia considerou-o de pouca segurança, condicionando aceitar, com condução
por motorista do Palácio do Planalto, impossível pela falta intimidade e de
tempo para treino.
Resultado, trapalhada óbvia – abriram mão do automóvel
impactante, histórico, conduzido por um dos ícones do antigomobilismo, alugando
adulterado Ford 1929, conduzido pelo dono, pois o tal de motorista não
conseguiu dirigi-lo…
Há, evidentemente, muito mais, em especial pelo legado do seu exemplo de
seriedade, confiabilidade e dedicação ao extremada ao tema, de seu jeito
objetivo e prático para restauração e uso dos automóveis, pelo cultivar a
história e contá-la, com riqueza de detalhes, a todos os interessados em beber
em fonte tão privilegiada.
Das muitas lembranças generosamente geradas por
você, duas trazem-me especial registro: a férrea vontade em manter unidade da
coleção, resistindo vendê-la em partes, apesar de todas as dificuldades
externas sinalizando como a mais óbvia das soluções; segunda, de orgulho
pessoal, e você se lembra do telefonema que lhe dei em março do ano
passado, desde o aeroporto de Orlando, Fla.
Relatei-lhe minha surpresa e
alegria, contando, indo ao Amelia Island Concours d’Élegance, em Jacksonville,
no balcão da imigração o oficial perguntou o propósito da minha viagem.
Expliquei-lhe o assistir ao evento em Amelia.
E ele, surpreendendo,
indagou se eu conhecia a certain mister Possoli (?!), a famous
Brazilian cars collector. Foi a glória no País do mensalão, da lava
jato, da descrença nos poderes da República, das dúvidas quanto ao futuro, da
emigração: na terra do automóvel um brasileiro limpo, ético, era reconhecido!
Soube da sua última notícia ao fim de desafio a 4x4 nas serras mineiras,
chegando a sinal para comunicação, recebi da Vera, mulher do nosso
enciclopédico Zé Luiz Vieira, sintética mensagem: Og se
encantou hoje à tarde.
Ela usava conceito do escritor e diplomata Guimarães Rosa – as pessoas
não morrem, ficam encantadas. Delicada e adequado.
Durante sua vida de
estelares conquistas profissionais e pessoais, da implantação do
antigomobilismo, do co-optar pessoas ao novo hobby, a localizar veículos e
suas partes, contando histórias, descrevendo automóveis, implementando a ideia,
encantou a todos. E ao final, coerente, encantou-se.
Fique em paz, velho amigo. Roberto Nasser.
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Jipe Lada pode ser paranaense
AutoVAZ, a grande fabricante russa hoje controlada
pela união Renault-Nissan-Mitsubishi, anunciou atualizar o Niva, o quarentão
jipe Lada.
O brilhante projeto inicial, mesclando Fiats 124 e 127, foi revisto
pela GM ao controlar a marca e, com assunção do controle pela líder francesa,
novamente adequado aos métodos, processos e controles da Aliança.
Resistente
até em projeto, terá modificações totais, trocando plataforma e mecânica, de
princípio nova carroceria sobre a base mecânica comum aos Renaults Logan,
Sandero, Captur, Oroch, Duster, estes com opção de tração 4x4, sendo fácil
fazê-lo.
Possibilidade de produção no Brasil é grande. No
Continente há demanda e inexiste produto para cumprir a função de jipe, mas
apenas utilitários esportivos com tração nas quatro rodas.
Factibilidade ficou
patente há 15 dias em conversa entre Olivier Murguet, presidente da Aliança
para operações no continente sul, e alguns jornalistas.
Indagado da
possibilidade de ter a nova geração do pequeno hatch Twingo,
foi claro ao declarar, produtos no Brasil terão a plataforma multi aplicada do
Logan.
É base para serviço duro, desenvolvida na Romênia pela Dacia, sub marca
de sub preços da Renault, adequada às exigências das condições
terceiro-mundistas do mercado nacional.
2021, com a mesma aptidão, mas fugindo à simpática
imagem de pequeno jipe.
Projeção do futuro Niva (foto Divulgação)
Roda-a-Roda
De volta – Marco profundo na história da Toyota no Brasil, picape e jipe
Bandeirante podem voltar ao mercado, por importação ou produção na Argentina. O
espírito, a resistência, são atributos da atual linha T70.
Jogo duro – Parece veículo do início dos anos ’90, até pela motorização
diesel antiga, V8, DOHC, 4,5 litros, 200 cv e 500 Nm de torque. Projeto em
análise.
Toyota T 70 (Foto: Toyota Austrália)
Mudança – Na Europa, Uber negocia com a Volvo aquisição de 24 mil (!) veículos com
tecnologia autônoma. Inicia mudar o negócio deixando de ser apenas gestão de
aplicativo.
Quando – Possibilidades de vir ao Brasil? Remotas.
Carro autônomo exige adequada infraestrutura urbana. Quer dizer, participação
na via de rolamento com faixas, placas, sinalização a ser lida pelo pacote de
eletrônica veicular.
Constatação – Buracos, asfalto de terceira categoria, sinalização ausente ou
deficiente, placas encobertas por matos urbanos, espantam os autônomos. Só os
teremos após mudança conceitual: quando houver respeito ao contribuinte.
Clareza – Tempo de confusão quanto a definições de morfologia – o que é um
SUV? -, e de técnica, Bob Sharp, editor do ótimo sítio Autoentusiastas,
baixou regra interna. O câmbio CVT – sigla de Continuous Variable
Transmission - será tratado como Câmbio Automático de Polias
Antagônicas.
Compass. Aniversário com
liderança (Foto: Divulgação)
Parabéns para
o Compass
Ao completar
um ano de produção o Jeep Compass, feito pela FCA em sua novíssima fábrica em
Goiana, norte de Pernambuco, tem muito a comemorar, em especial enorme
liderança: no disputado segmento domina 57% do mercado – a soma de todos os
concorrentes.
Até o início do mês havia emplacado 39.489 unidades, num
crescendo com patamar mais elevado em outubro, ao faltar apenas 36 para atingir
a plataforma de 5 mil vendas mensais.
É o terceiro produto da fábrica
pernambucana, segundo da marca Jeep, e sua performance de vendas fomentou
crescimento de 57%, recorde dentre as 10 maiores marcas no mercado nacional.
Superou previsão FCA/Jeep de 2.000/mês.
Projeto para
mercados mundiais, o Brasil foi o primeiro país a produzi-lo e a iniciar
exportar, pela Argentina, à América do Sul. Atualmente México, China e India o
produzem e vendem a mais de 100 países.
O desenho das vendas no mercado
brasileiro é pela faixa superior de dotação e preço. No caso, 35% dos compradores
optam pelo conjunto mecânico oferecido com exclusividade: motorização diesel,
2 litros, 170 cv de potência e 35,7 kgmf de torque, câmbio automático de nove marchas, tração nas quatro rodas e reduzida.
A opção mais vendida, 65%, emprega
motor flex, dito TigerShark, 2,0 litros, 166 cv e 20,5 m.kgf de torque,
eficiente transmissão automática Aisin de seis velocidades.
Melhor dotado dentre os nacionais, pode ser bem equipado, com sistemas
de condução semi autônoma, controle adaptativo de velocidade (ACC); alerta de
colisão com frenagem automática (FCWp), monitoramento de mudança de faixa de
direção (LDW); indicador de veículo nas laterais; estacionamento semi autônomo
(Park Assist).
________________________________________________edita@rnasser.com.br
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