Coluna Fernando Calmon
Nº 1.187 — 10/2/22
MERCADO VAI MELHORAR,
APESAR DO INÍCIO FRACO
O primeiro mês do ano
apontou números fracos em vendas internas de automóveis e comerciais leves e
pesados: 126.500 unidades. Em relação a janeiro de 2021 a queda foi 26,1%
explicada por uma combinação de fatores que vão além da sazonalidade observada
normalmente. A dificuldade mundial na cadeia de suprimentos e o avanço da
variante Ômicron da Covid-19 voltaram a afetar também mercados no exterior com
quedas da ordem de 20% na França, Itália e Coreia do Sul. A produção caiu um
pouco mais (27,4%), enquanto exportações apresentaram leve alta de 6,6%.
No Brasil,
especificamente, houve outros acontecimentos como chuvas acima da média e
alagamentos em diversas cidades. Também ocorreram pequenos atrasos nos emplacamentos
com a consolidação do Renave (Registro Nacional de Veículos em Estoque). Esse
sistema, aperfeiçoado pela nova Secretaria Nacional de Trânsito (antigo
Denatran), torna mais seguras as transações em concessionárias e lojas
independentes. Agora em fevereiro está normalizado.
Estoques totais nas
fábricas e concessionárias continuam baixos (apenas 17 dias) e assim levam
também a adiamento da decisão de compra por falta de modelos específicos. O
principal fator inibidor do crescimento das vendas continua sendo a escalada das
taxas de juros, na faixa de 27% ao ano, semelhante ao nível de janeiro de 2016.
Trata-se de um remédio amargo, porém incontornável para controle da inflação.
Os preços dos
veículos tiveram trajetória de alta em 2021 e isso significa fator inibidor de
vendas. Entretanto, tanto Anfavea quanto Fenabrave mantêm suas previsões de
crescimento este ano frente a 2021: mais 8,5% e mais 4,6%, respectivamente. A
Fenauto, que reúne lojistas independentes de todo o País no mercado de veículos
seminovos e usados, também reportou queda nas vendas de 29% na comparação com
janeiro do ano passado. Porém, mantém cautela com viés otimista para 2022, sem
arriscar uma previsão.
A pandemia continua a
afetar o crescimento econômico do País. Em 2021 o PIB (Produto Interno Bruto)
cresceu em torno de 4,5% sobre 2020 porque a base comparativa era muito baixa. Este
ano as primeiras projeções de economistas apontam para crescimento de apenas
0,5%, o que realmente não ajuda a vender mais automóveis e comerciais leves.
No entanto, três
fatores indicam que 2022 terá vendas de razoáveis a boas. As pessoas não
puderam viajar de férias ou a lazer em 2020 e 2021 e vêm redirecionando a
economia forçada para trocar de carro. Esse comportamento ainda mostrará reflexos
positivos este ano.
Aplicativos de
mobilidade em cidades grandes estão menos competitivos em preço e as queixas sobre
cancelamentos e demora para atender as chamadas aumentaram.
E, por fim, há
maneiras indiretas, se necessário, de comprimir a rentabilidade sobre as vendas
das fabricantes de veículos sem mudar os preços sugeridos. Isso acontece com
planos de financiamento especiais que incluem carência para o início de
pagamento e juros um pouco menores. Um desconto disfarçado para estimular o consumidor,
além dos bônus tradicionais. Cerca de 60% das vendas no Brasil são financiadas.
Por tudo isso,
crescimento de até 10% sobre o ano passado, mais do que provável, é factível.
ALTA RODA
SÃO PAULO MOTOR EXPERIENCE, de 6 a 14 de agosto próximos, será o evento
que substituirá o Salão do Automóvel tradicional, cuja primeira edição foi em
1960. Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, “está fora de
cogitação a volta às exposições estáticas em grandes estandes”. Ainda em
fevereiro a RX Brazil (mais conhecida como Reed Alcântara) anunciará os
pormenores. O local é o autódromo de Interlagos com foco em testes abertos aos visitantes
em diferentes traçados, inclusive para carros elétricos. Há rumores de adesão
de algumas fabricantes, mas ainda não se sabe quais.
STRADA manteve em janeiro sua posição de veículo leve mais vendido, como já
ocorria desde o ano passado. É a primeira picape a conseguir esse feito. A Fiat
mostra confiança no sucesso do produto com a oferta do câmbio automático CVT de
sete marchas, que responde por cerca de 20% das vendas com tendência de alta. Versão
de cabine dupla Ranch tem comportamento ágil, mesmo perdendo cerca de 3% de
potência e torque para se enquadrar nas regras do Proconve PL7. Agora são 98 cv
(G)/107 (E). O modo Sport torna o motor mais responsivo e é particularmente útil
quando a picape está carregada. Permanece o controle de tração acionado por
botão para trechos de terra não tão desafiadores.
BATERIAS de estado sólido podem consolidar os carros elétricos, sem as
limitações atuais, embora em prazo ainda indefinido. As baterias de íons de
lítio têm melhorado, mas a produção em alta escala traz desafios desde a
mineração dos metais até os custos que não caem no ritmo esperado. Pelo
contrário, a maior fabricante atual, a chinesa CATL, aumentou os preços em 20%.
Há outra dificuldade e mais bizarra: falta de engenheiros suficientes, no mundo
todo, para ampliar pesquisa e desenvolvimento.
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