Coluna Fernando Calmon
Nº 1.246 — 13/4/23
Renovar frota e carro
de entrada
dependem de renúncias
fiscais
Balanço de vendas, produção e exportação de veículos leves e
pesados no primeiro trimestre mostra que este ano pode ser mais desafiador do
que as projeções iniciais. A análise isolada do mesmo período, comparando 2023
e 2022, dá a falsa impressão de recuperação. As vendas de 471.800 unidades cresceram
16,3%, enquanto a produção atingiu 536.000 unidades (avanço de 8%).
O problema é que a referência com 2022 foi influenciada por
uma base comparativa muito baixa, quando houve um período de paralisação nas
fábricas por falta aguda de componentes eletrônicos. Em relação ao primeiro
trimestre de 2021, por exemplo, a comercialização deste ano está 21% abaixo.
Em consequência deste cenário, no primeiro trimestre de 2023
oito fábricas deram férias não programadas e o mês de março foi “salvo” por
entregas às locadoras. Como o movimento de compradores nas concessionárias
ficou bem abaixo do esperado, essa estratégia permitiu que os estoques nos
pátios subissem relativamente pouco: de 29 para 31 dias. Mas continuam muito
elevados para a demanda atual.
A Anfavea, ainda assim, acha cedo para rever suas projeções,
bastante modestas, de evolução de 3% nas vendas sobre 2022 em razão de juros
altos e crédito curto. Há duas possíveis atenuantes que poderiam salvar o ano.
Uma é criar o carro “verde” de entrada que algumas marcas sugerem ao Governo
Federal. A outra seria ampliar o programa de renovação de frotas aprovado para
caminhões e ônibus, em 2022, estendendo-o agora para veículos leves.
A entidade dos fabricantes não deu aval à primeira proposta
pois nem todas as associadas concordam com a estratégia que beneficiaria poucas
marcas. Os otimistas acham que renúncia fiscal e simplificação de equipamentos
– mantendo itens de segurança e emissões – poderia baixar preços sugeridos para
a faixa de R$ 50.000. Hoje os dois modelos (Kwid e Mobi) mais em conta ficam em
torno de R$ 70.000. Essa é uma equação muito difícil de fechar, como já
comentei, pois o carro “pelado” de 1993 hoje custaria R$ 80.000 com a correção
inflacionária.
Quanto à renovação de frota, um mote de maior alcance,
também depende de incentivos que, segundo o ministro da Fazenda, estariam
previstos com fundos advindos da taxação extra sobre empresas de exploração de
petróleo. Acontece que os Estados também querem sua parte. Precisaria haver alguma
“sobra” para veículos pesados e inclusão dos leves.
Outra associação, a Abeifa, que reúne importadores e algumas marcas que também têm ou terão produção nacional, sugere que imposto de importação sobre veículos elétricos, hoje zerado, passasse a ser cobrado a um ritmo de 2% a cada ano até atingir 20% em 10 anos. Isso poderia motivar a produção local, mas a ideia não foi bem recebida. Mesmo porque o investimento, que incluiria custosas fábricas de baterias, seria inviável para uma procura tão baixa durante muito anos.
Novas picapes médias no segundo semestre
Ainda sem data exata, mas possivelmente em outubro, a nova
Ranger está na reta final para lançamento na Argentina e quase simultaneamente
no Brasil. A picape média é conhecida desde o final de 2021 quando foi
apresentada na Austrália, responsável pelo projeto, e está à venda nos EUA,
Europa e Ásia desde o ano passado. O produto recebeu grandes aperfeiçoamentos
em relação à geração atual e a Ford investiu US$ 580 milhões (R$ 2,9 bilhões)
na modernização da fábrica de General Pacheco, na Grande Buenos Aires.
Há pouco dias anunciou um aporte adicional de US$ 80 milhões
(R$ 400 milhões) para produção de motores Diesel, sem adiantar suas
especificações (há versões de 150 cv e 170 cv).
Em outros mercados estará à venda a nova Amarok que tem por
base a nova Ranger. Mas a Amarok produzida na Argentina (numa fábrica vizinha
de muro com a da Ford) e exportada para o Brasil nada tem a ver com o mesmo
modelo lançado agora na Europa. O modelo da VW que receberá retoques de estilo,
mas sem o chassi novo, estreia aqui só no primeiro semestre de 2024.
Também neste segundo semestre será lançada a picape Ram,
produzida com carroceria de monobloco alongado da Toro na fábrica pernambucana
de Goiana. Esse projeto avançou com celeridade para disputar mercado com Hilux,
S10, Ranger, L200 Triton, Frontier e Amarok. A lógica indicava que se chamaria
Ram 1200, porém o site Autossegredos revelou que será outro: Ram Rampage (Alvoroço,
em inglês). O nome foi usado pela Dodge nos EUA numa picape derivada de
automóvel entre 1982 e 1984.
Além deste lançamento, a Stellantis terá também a Landtrek com o tradicional chassi tipo escada atualmente montada no Uruguai e que aqui será lançada com a marca Fiat e não Peugeot.
ALTA RODA
-Audi Q3 Sportback Performance
Black atende quem procura um SUV de dimensões contidas (4.500 mm de
comprimento e 2.680 mm de entre-eixos) e com desempenho que o Q3 antes ficava
devendo. Agora o motor 2-litros turbo (gasolina) entrega 231 cv e 34,7 kgf.m e
mesmo com o peso adicional da tração quattro
(4x4 sob demanda) apresenta respostas muito boas e comportamento em curvas
exemplar em especial ao se considerar que as especificações para o Brasil elevaram
a altura de rodagem em 18,5 mm na dianteira e 13,5 mm na traseira.
Curvatura do teto na área da coluna traseira pode incomodar
pessoas mais altas no banco traseiro, mas como este é corrediço o espaço para
pernas favorece o conforto. O porta-malas garante ótimo volume de até 530
litros. O acabamento do habitáculo segue o padrão Audi com materiais de alta
qualidade. Para o motorista o banco tem firmeza e apoios corretos, além de
regulagens elétricas que incluem rebatimento dos espelhos externos. Tela
multimídia de 8,4 pol. oferece ótima resolução, mas poderia ser um pouco maior.
-DPVAT
(Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por
Veículos Automotores de Vias Terrestres)
continuará sendo administrado em 2023 pela Caixa Econômica Federal (CEF),
de acordo com a lei promulgada no último dia 5. Segundo a Agência Câmera
Notícias, “a escolha da CEF pelo Governo Federal decorre do seu porte,
capilaridade e experiência em operações de pagamentos de maior complexidade”.
Entretanto isto não é tão importante quanto saber quando o seguro voltará a ser
cobrado e seu preço. O DPVAT existe desde 1974 e indeniza vítimas de acidentes
de trânsito. O fundo de ressarcimento deve acabar este ano e não se observa
qualquer movimento explícito para estabelecer o custo do DPVAT para cada
proprietário, possivelmente em 2024. O assunto não comporta improvisação e já
deveria estar sendo discutido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário