Foto: Divulgação Alerj
A Assembleia Legislativa fluminense tomou, no último dia 25 de outubro, uma iniciativa inusitada que tornou a Produção e a Comercialização do Acarajé Patrimônios de Valor Histórico e Cultural do Estado do Rio de Janeiro, quando o acarajé é conhecidamente uma tradição baiana, embora seja vendido em vários pontos do Rio. Seria de bom tom que a Assembleia Legislativa do Bahia analiasse com atenção e carinho essa matéria. Entretanto, só o Rio de Janeiro protege o acarajé.
A iniciativa foi dos deputados Renata Souza e Dani Monteiro (PSOL) e Átila Nunes (MDB), autores da Lei 10.157/23, sancionada pelo governador e teve o apoio da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM) que publicou uma nota em seu perfil no Instagram defendendo a aprovação da lei pelo parlamento fluminense.
O mais estranho dessa história é que o então prefeito de Salvador, ACM Neto, em 2017, vetou projeto do vereador Sílvio Humberto (União) que tornava o acarajé Petrimônio Imaterial de Salvador.
O acarajé é um bolinho feito de massa de feijão-fradinho, cebola e sal, e frito em azeite de dendê, é uma especialidade gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira, especiaria tradicionalíssima de Salvador cujo nome vem da língua africana iorubá, onde ‘akará’ quer dizer “bola de fogo” e ‘jé’ significa “comer” e é uma e iguaria baiana. Mas, o soteropolitano ACM Neto que comandava o município não honrou sua cidade.
Associação das Baianas de Acarajé
A ABAM ressalta e defende que o Estado da Bahia e a prefeitura de Salvador se posicionem e tomem as medidas efetivas de defesa do acarajé, tema que causou um certo acirramento de opiniões nas redes sociais quando o legislativo fluminense tomou essa frente.
Enretanto, a ABAM, lançou, na terça-feira, dia 31 de outubro, às 11h, no Memorial das Baianas de Acarajé, na Praça da Cruz Caída, a campanha “Dia da Baiana Feliz” que tem o propósito de fortalecer a entidade e dar apoio à categoria das Baianas de Acarajé, símbolos do Brasil, que enfrentam cotidianamente problemas de saúde e qualidade de vida, falta de condições de trabalho e de apoio institucional.
Apoiada pela Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo e da Secretaria Municipal da Reparação, no âmbito do Prodetur Salvador, a campanha realizará várias ações. A primeira delas é a venda, de 31 de outubro a 25 de novembro, de um voucher de R$ 10,00, que dará direito a um acarajé completo que poderá ser trocado em 24 tabuleiros de baianas espalhados por Salvador, nos dias 25 e 26 de novembro. Este voucher poderá ser adquirido em tabuleiros, bares e restaurantes e diversos tipos de outros empreendimentos e terá sua renda revertida para a ABAM.
Dia 25 de novembro é o Dia Nacional da Baiana de Acarajé e até lá, durante o mês de novembro, outras ações celebrarão este ofício que existe há mais de 400 anos, e que hoje é fonte de renda no Brasil para mais de 10 mil profissionais – a grande maioria delas mulheres afrodescendentes.
Na Bahia são cerca de oito mil. A partir do dia 17 de novembro fotos em tamanho grande de 40 baianas de acarajé que atuam em Salvador, realizadas pelo fotógrafo Mário Edson, serão expostas em lugares públicos, como praças, no Rio Vermelho e no Pelourinho. Nas fotos com dimensão de 80cm por 1,6m, além do rosto da baiana homenageada, o seu nome e as informações sobre onde encontrar seu tabuleiro.
Missa festiva e entrega de kits
No dia 25 de novembro, às 10h da manhã, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos abre suas portas e celebra uma missa especial em homenagem às baianas de acarajé.
Após a cerimônia, conduzida por Padre Lázaro Muniz, e que contará com a presença do prefeito Bruno Reis, as baianas sairão em cortejo rumo à Praça da Cruz Caída, acompanhadas pelo grupo percussivo Tambores e Cores, do Mestre Pacote.
Chegando à sede da ABAM será realizado um almoço para 400 convidados. Neste dia também haverá uma série de três shows. Durante a festa a Prefeitura de Salvador entregará 50 dos 580 kits que serão doados às baianas, compostos de um tabuleiro de jacarandá, um ombrelone (sombreiro), uma vestimenta (Richelieu 100% algodão), duas caixas térmicas, uma placa de sinalização, cinco colheres de polietileno, uma lixeira e um protetor de fogareiro. Até o dia 1 de dezembro os outros 530 kits serão entregues.
“Não se pode falar em Salvador e da Bahia sem se lembrar da baiana e do seu acarajé. Não tem como desvincular as imagens, então nada mais justo do que a Prefeitura homenagear e valorizar este ofício tão importante culturalmente e que também sustenta tantas famílias”, declara o diretor de Turismo de Salvador, Gegê Magalhães, que afirma que a Prefeitura deseja fazer um grande evento e dar mais estrutura para estas trabalhadoras desenvolverem seu ofício da maneira melhor possível, dando um melhor atendimento para os clientes, não só os visitantes, mas também os soteropolitanos.
Rita Santos, presidente da ABAM, associação que trabalha há 32 anos pela categoria, afirma que a campanha Dia da Baiana Feliz acontece pela primeira vez e será de muita ajuda para a associação. “Nossa festa já faz parte do calendário brasileiro. Nossa campanha ajudará a ABAM a trabalhar pelas baianas de acarajé. Segundo Rita, para a festa virão baianas de toda a Bahia e de outros estados.
“Neste dia podemos conversar sobre este ofício maravilhoso e renovar nossas forças para as batalhas do dia a dia. Queremos pedir à sociedade que colabore com estas mulheres que dão este cheiro de dendê à nossa cidade e levam adiante este legado ancestral com muita garra”, diz emocionada.
A ABAM e o Memorial das Baianas funcionam como um só corpo, movimentando as ações que tem como foco a preservação do Ofício das Baianas e a manutenção da história, memória e acervos das primeiras empreendedoras do Brasil, as Baianas de Acarajé. Com pouco – praticamente nenhum – amparo do poder público, na condição de informalidade, mulheres e, mais recentemente, homens, no geral, de camadas menos favorecidas, se espalham pelas ruas, fazendo do acarajé um meio de vida.
Vinculada, de início, à obrigação religiosa para com os santos do candomblé, a venda do acarajé, nas ruas de Salvador, passou a ser normatizada pelo Decreto Lei Municipal 12.175/ 98. As baianas, que no decorrer do século XIX saiam a oferecer seus quitutes de porta em porta, com os tabuleiros na cabeça, têm, hoje, que assentá-los em local fixo e cumprir determinações que passam pela higiene do local e preparo dos alimentos, dimensões do tabuleiro e uso da vestimenta típica, imprescindível para conseguir a licença expedida pela prefeitura.
A atividade das baianas de acarajé foi registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2005 no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan
Assessoria de Imprensa da ACHE – Associação Centro Histórico Empreendedor – Doris Pinheiro – 71 98896-5016
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