Renault Kangoo Z.E. é o furgão elétrico líder do mercado europeu, que conta com cada vez mais modelos do gênero (Divulgação) |
Carros do Célio
Por Célio Galvão
Os primeiros meses de 2018 começaram com uma discussão interessante, depois do fechamento das contas dos carros vendidos no ano passado.
A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi diz que o título de maior vendedora de automóveis no mundo é dela. Em dados de venda, foram 10,6 milhões de veículos comercializados.
Ainda abaixo dos 10,7 milhões da Volkswagen, mas os franco-japoneses se julgam os líderes, já que o número da montadora alemã também inclui os caminhões.
A briga pelo topo do ranking de venda se tornou, cada vez mais, acirrada e isso se reflete também nas aquisições e uniões de fabricantes de veículos.
Adquirir companhias é antiga prática em diferentes mercados, principalmente, quando um líder vê alguma ameaça ou um produto que possa agregar valor.
A Renault foi ousada e mais uma a adotar esse plano. Rivalizar com a Volkswagen, que também é dona da Audi, ou com a Toyota, que tem no seu portfólio a Lexus, só seria possível com a união, ou melhor, compra do controle de concorrentes.
Essa é uma aposta certeira? Provavelmente. Cada empresa mantém seus produtos, mas as decisões são tomadas com uma visão global, incluindo, o compartilhamento de dados.
Quando a VW e Ford foram parceiras
A briga pelo topo do ranking de venda se tornou, cada vez mais, acirrada e isso se reflete também nas aquisições e uniões de fabricantes de veículos.
A Renault, que já controlava a Nissan, virou a maior acionista da Mitsubishi. 2017 foi o primeiro ano cheio em que foram computadas as vendas das três juntas. Não é novidade os negócios entre as montadoras.
No mercado de luxo, por exemplo, praticamente todas as marcas têm ligação com outras empresas, como Ferrari/Fiat e Porsche/Volkswagen.
No caso da Renault-Nissan-Mitsubishi, os planos passam pela mesa de um brasileiro. Carlos Ghosn comanda as companhias e revelou, recentemente, que pretende investir em start-ups. O foco, claro, seria a mobilidade urbana e carros elétricos, onde já se destaca na Europa.
No caso da Renault-Nissan-Mitsubishi, os planos passam pela mesa de um brasileiro. Carlos Ghosn comanda as companhias e revelou, recentemente, que pretende investir em start-ups. O foco, claro, seria a mobilidade urbana e carros elétricos, onde já se destaca na Europa.
O investimento nos próximos cinco anos deve chegar a US$ 1 bilhão, segundo o executivo. Faz parte da estratégia do conglomerado que diz ser o maior grupo de construtores de carros do mundo.
Adquirir companhias é antiga prática em diferentes mercados, principalmente, quando um líder vê alguma ameaça ou um produto que possa agregar valor.
O Google é dono do Youtube, assim como o Facebook comprou o Instagram e o Whatsapp. Mas estas foram as negociações bilionários. Nesse período, empresas de tecnologia menos conhecidas também foram incorporadas a todas estas gigantes.
A Renault foi ousada e mais uma a adotar esse plano. Rivalizar com a Volkswagen, que também é dona da Audi, ou com a Toyota, que tem no seu portfólio a Lexus, só seria possível com a união, ou melhor, compra do controle de concorrentes.
Essa é uma aposta certeira? Provavelmente. Cada empresa mantém seus produtos, mas as decisões são tomadas com uma visão global, incluindo, o compartilhamento de dados.
Todas as empresas que têm o maior valor de mercado, não por acaso a maioria do ramo tecnológico, fizeram isso. Agora, ser dona, ditar as regras é bem diferente de sócia, e a história mostra isso.
Quando a VW e Ford foram parceiras
Ford Versailles: sedã era feito na linha de montagem da Volkswagen, de onde também saia o Santana (Divulgação)
Vou relatar um caso que vivi de perto: a Autolatina. Volkswagen e Ford uniram-se no Brasil e na Argentina, e formaram uma joint venture.
O grande filão de mercado, o de carros pequenos onde o Gol era o líder, ficou de fora dessa estratégia de carrocerias, o que foi decisivo para continuidade da Autolatina. E, talvez por isso, apressou, em 1995, o fim da parceria.
Os carros da Autolatina, por exemplo, desapareceram sem deixar grande saudade. Já o VW Gol, que ficou fora da parceria, foi o carro mais vendido no País por 27 anos.
Em 1 de julho de 1987, as duas grandes montadoras anunciaram os planos formando um gigante no setor automobilístico.
Enquanto o objetivo de integrar fábricas, as operações financeiras e administrativas e redução de custos deu teoricamente certo, o compartilhamento de plataformas de veículos a médio prazo mostrou-se um desastre.
Apesar do anúncio público, apenas em 1990, as fabricantes iniciaram o funcionamento da empresa, que tinha 51% de suas ações controlados pela Volkswagen e 49% pela Ford.
Apesar do anúncio público, apenas em 1990, as fabricantes iniciaram o funcionamento da empresa, que tinha 51% de suas ações controlados pela Volkswagen e 49% pela Ford.
Buscando os pontos fortes de cada uma das montadoras, a Autolatina quis reviver uma experiência tentada entre VW e Ford também em Portugal com a AutoEuropa.
Volkswagen Apollo: o primeiro Volkswagen com plataforma da Ford, tinha um certo apelo esportivo (Divulgação)
A Volkswagen e a Ford mantiveram-se com suas redes de revendas próprias para manter a identidade e individualidade das marcas.
Mesmo considerando que era apenas um acordo operacional, houve compartilhamento de plataformas e motores, exclusivamente, nos segmentos de médios e carros grandes.
O VW Apollo foi um dos modelos de plataforma compartilhada e durou somente dois anos. O carro era uma versão do Ford Verona, por sua vez, baseado no sedã europeu, chamado Orion.
O VW Apollo foi um dos modelos de plataforma compartilhada e durou somente dois anos. O carro era uma versão do Ford Verona, por sua vez, baseado no sedã europeu, chamado Orion.
Outros modelos sem futuro surgiram como o VW Logus e o Pointer (derivado do Escort) e os Ford Versailles e Royalle (derivados do VW Santana e Quantum).
O grande filão de mercado, o de carros pequenos onde o Gol era o líder, ficou de fora dessa estratégia de carrocerias, o que foi decisivo para continuidade da Autolatina. E, talvez por isso, apressou, em 1995, o fim da parceria.
Ford Verona da segunda geração era derivado do modelo Orion, vendido na Europa (Divulgação)
Uma medida do governo Itamar Franco, em 1993, foi fundamental para o fracasso dessa operação. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos chamados carros populares, com motor de 1.000 cc, caiu de 37% para 0,1%. Isso mesmo. O imposto praticamente desapareceu.
Quem se deu bem foi a Fiat que já tinha o Uno, a VW seguiu na esteira com o Gol e as outras que não tinham grandes investimentos nos populares, como a Ford, precisaram correr atrás do tempo perdido.
Quem se deu bem foi a Fiat que já tinha o Uno, a VW seguiu na esteira com o Gol e as outras que não tinham grandes investimentos nos populares, como a Ford, precisaram correr atrás do tempo perdido.
O impacto disso tudo se refletiu durante muitos e muitos anos no Brasil. Tanto que a Fiat não repetia no resto do mundo o mesmo sucesso que fazia aqui.
Hoje, a lista dos seis mais vendidos do País não inclui um Fiat. Formam esse ranking em 2017 o Chevrolet Onix (188.654 unidades), o Hyundai HB20 (105.539), o Ford Ka (94.893), o VW Gol (73.913), o Chevrolet Prisma (68.968) e o Renault Sandero (67.344).
Hoje, a lista dos seis mais vendidos do País não inclui um Fiat. Formam esse ranking em 2017 o Chevrolet Onix (188.654 unidades), o Hyundai HB20 (105.539), o Ford Ka (94.893), o VW Gol (73.913), o Chevrolet Prisma (68.968) e o Renault Sandero (67.344).
VW Gol é ainda o quarto veículo mais vendido no País, depois de muitos anos no mercado (Divulgação)
Se na década de 90, os modelos eram locais, mais básicos e sem expressão, os carros produzidos atualmente no Brasil são modernos e globais. O importante é não olhar apenas o próprio quintal, mas as movimentações mundiais.
Os carros da Autolatina, por exemplo, desapareceram sem deixar grande saudade. Já o VW Gol, que ficou fora da parceria, foi o carro mais vendido no País por 27 anos.
O reinado de venda acabou em 2014, mas não há do que se reclamar. Ele ainda sobrevive bravamente num meio em que os concorrentes já foram aposentados.
Fonte: IG
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