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domingo, 18 de fevereiro de 2018

Venda mundial de carros acirra estratégias. Conheça os planos das empresas para ganhar mercado e se posicionar no topo da tabela

 Renault Kangoo Z.E. é o furgão elétrico líder do mercado europeu, que conta com cada vez mais modelos do gênero (Divulgação)

Carros do Célio


Por Célio Galvão

Os primeiros meses de 2018 começaram com uma discussão interessante, depois do fechamento das contas dos carros vendidos no ano passado. 

A aliança Renault-Nissan-Mitsubishi diz que o título de maior vendedora de automóveis no mundo é dela. Em dados de venda, foram 10,6 milhões de veículos comercializados. 

Ainda abaixo dos 10,7 milhões da Volkswagen, mas os franco-japoneses se julgam os líderes, já que o número da montadora alemã também inclui os caminhões.

A briga pelo topo do ranking de venda se tornou, cada vez mais, acirrada e isso se reflete também nas aquisições e uniões de fabricantes de veículos. 

A Renault, que já controlava a Nissan, virou a maior acionista da Mitsubishi. 2017 foi o primeiro ano cheio em que foram computadas as vendas das três juntas. Não é novidade os negócios entre as montadoras. 

No mercado de luxo, por exemplo, praticamente todas as marcas têm ligação com outras empresas, como Ferrari/Fiat e Porsche/Volkswagen.

No caso da Renault-Nissan-Mitsubishi, os planos passam pela mesa de um brasileiro. Carlos Ghosn comanda as companhias e revelou, recentemente, que pretende investir em start-ups. O foco, claro, seria a mobilidade urbana e carros elétricos, onde já se destaca na Europa. 

O investimento nos próximos cinco anos deve chegar a US$ 1 bilhão, segundo o executivo. Faz parte da estratégia do conglomerado que diz ser o maior grupo de construtores de carros do mundo.

Adquirir companhias é antiga prática em diferentes mercados, principalmente, quando um líder vê alguma ameaça ou um produto que possa agregar valor. 

O Google é dono do Youtube, assim como o Facebook comprou o Instagram e o Whatsapp. Mas estas foram as negociações bilionários. Nesse período, empresas de tecnologia menos conhecidas também foram incorporadas a todas estas gigantes.

A Renault foi ousada e mais uma a adotar esse plano. Rivalizar com a Volkswagen, que também é dona da Audi, ou com a Toyota, que tem no seu portfólio a Lexus, só seria possível com a união, ou melhor, compra do controle de concorrentes.

Essa é uma aposta certeira? Provavelmente. Cada empresa mantém seus produtos, mas as decisões são tomadas com uma visão global, incluindo, o compartilhamento de dados. 

Todas as empresas que têm o maior valor de mercado, não por acaso a maioria do ramo tecnológico, fizeram isso. Agora, ser dona, ditar as regras é bem diferente de sócia, e a história mostra isso.

Quando a VW e Ford foram parceiras

Ford Versailles: sedã era feito na linha de montagem da Volkswagen, de onde também saia o Santana (Divulgação)

Vou relatar um caso que vivi de perto: a Autolatina. Volkswagen e Ford uniram-se no Brasil e na Argentina, e formaram uma joint venture

Em 1 de julho de 1987, as duas grandes montadoras anunciaram os planos formando um gigante no setor automobilístico. 

Enquanto o objetivo de integrar fábricas, as operações financeiras e administrativas e redução de custos deu teoricamente certo, o compartilhamento de plataformas de veículos a médio prazo mostrou-se um desastre.

Apesar do anúncio público, apenas em 1990, as fabricantes iniciaram o funcionamento da empresa, que tinha 51% de suas ações controlados pela Volkswagen e 49% pela Ford. 

Buscando os pontos fortes de cada uma das montadoras, a Autolatina quis reviver uma experiência tentada entre VW e Ford também em Portugal com a AutoEuropa.

Volkswagen Apollo: o primeiro Volkswagen com plataforma da Ford, tinha um certo apelo esportivo (Divulgação)


A Volkswagen e a Ford mantiveram-se com suas redes de revendas próprias para manter a identidade e individualidade das marcas. 

Mesmo considerando que era apenas um acordo operacional, houve compartilhamento de plataformas e motores, exclusivamente, nos segmentos de médios e carros grandes.

O VW Apollo foi um dos modelos de plataforma compartilhada e durou somente dois anos. O carro era uma versão do Ford Verona, por sua vez, baseado no sedã europeu, chamado Orion. 

Outros modelos sem futuro surgiram como o VW Logus e o Pointer (derivado do Escort) e os Ford Versailles e Royalle (derivados do VW Santana e Quantum).

O grande filão de mercado, o de carros pequenos onde o Gol era o líder, ficou de fora dessa estratégia de carrocerias, o que foi decisivo para continuidade da Autolatina. 
 E, talvez por isso, apressou, em 1995, o fim da parceria.

Ford Verona da segunda geração era derivado do modelo Orion, vendido na Europa (Divulgação)

Uma medida do governo Itamar Franco, em 1993, foi fundamental para o fracasso dessa operação. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos chamados carros populares, com motor de 1.000 cc, caiu de 37% para 0,1%. Isso mesmo. O imposto praticamente desapareceu.

Quem se deu bem foi a Fiat que já tinha o Uno, a VW seguiu na esteira com o Gol e as outras que não tinham grandes investimentos nos populares, como a Ford, precisaram correr atrás do tempo perdido. 

O impacto disso tudo se refletiu durante muitos e muitos anos no Brasil. Tanto que a Fiat não repetia no resto do mundo o mesmo sucesso que fazia aqui.

Hoje, a lista dos seis mais vendidos do País não inclui um Fiat. Formam esse ranking em 2017 o Chevrolet Onix (188.654 unidades), o Hyundai HB20 (105.539), o Ford Ka (94.893), o VW Gol (73.913), o Chevrolet Prisma (68.968) e o Renault Sandero (67.344).

VW Gol é ainda o quarto veículo mais vendido no País, depois de muitos anos no mercado (Divulgação)


Se na década de 90, os modelos eram locais, mais básicos e sem expressão, os carros produzidos atualmente no Brasil são modernos e globais. O importante é não olhar apenas o próprio quintal, mas as movimentações mundiais.

Os carros da Autolatina, por exemplo, desapareceram sem deixar grande saudade. Já o VW Gol, que ficou fora da parceria, foi o carro mais vendido no País por 27 anos. 

O reinado de venda acabou em 2014, mas não há do que se reclamar. Ele ainda sobrevive bravamente num meio em que os concorrentes já foram aposentados.

Fonte: IG






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