Nº 1.033 — 21/2/19
REFLEXO DA REALIDADE
Era notícia esperada, contudo não deixa de causar tristeza. Há
cerca de um ano havia fortes rumores de que, depois de anunciar o encerramento
da produção do Focus na Argentina, a Ford tomaria a decisão de fechar a fábrica
de São Bernardo do Campo (SP).
Esta unidade fabril foi construída pela Willys-Overland,
fundada em agosto de 1952. A produção se iniciou dois anos depois com o
utilitário Jeep CJ-5, seguido pela perua Rural (precursora do que seria, hoje,
um SUV), uma picape, além do sedã Aero-Willys (1960) e sua versão de luxo
Itamaraty.
A empresa também fabricou sob licença da Renault os compactos
Dauphine e Gordini e, ainda, o Alpine A108, pequeno carro esporte rebatizado aqui
de Interlagos, com mecânica Renault, nas versões berlineta, cupê e conversível.
A Willys apostou muito no Projeto M, tendo por base o médio-compacto
Renault 12. Porém, dificuldades financeiras levaram à venda para a Ford de toda
a operação brasileira, em 1967, incluindo as instalações às margens da Rodovia
Anchieta.
O Projeto M se transformou no Corcel, em 1968, cuja carroceria era
completamente diferente do modelo francês, só lançado um ano depois na Europa,
e também produzido na Argentina pela IKA.
No ano em que a Ford completa o centenário de sua fundação
no Brasil, encerrar as atividades em uma unidade com tanta história é
especialmente doloroso para os cerca de 2.800 empregados entre horistas e
mensalistas.
Toda a linha de montagem dos caminhões médios e pesados Cargo, dos
caminhões leves F-350/F-4000 e do Fiesta hatch será interrompida de imediato. A
marca não produzia caminhões na matriz há mais de uma década e o lançamento do
Ka enfraqueceu muito o Fiesta com qual compartilha arquitetura.
A empresa reservou US$ 460 milhões (R$ 1,7 bilhão) para
indenizar funcionários, concessionárias e fornecedores. Prejuízos financeiros
na região da América do Sul foram de quase US$ 700 milhões (R$ 2,6 bilhões) em
2018.
Estima-se que cerca de 60% originaram-se nas operações brasileiras, que
incluem fábricas de veículos e motores em Camaçari (BA), motores e câmbios em
Taubaté (SP) e campo de provas em Tatuí (SP). Atividades nessas cidades
continuarão.
Há quem lembre a Ford contabilizar 24 trimestres
consecutivos de lucro de 2007 a 2012. Apenas isso não garante a uma empresa
manter-se saudável e gerar caixa suficiente para investir, em especial se o
mercado local minguar quase 50%, como aconteceu aqui. Opção pode ser encolher
ou, em caso extremo, sair de um país.
É bastante provável que a GM tenha chegado a um acordo em
São José dos Campos (SP) porque estava próximo o anúncio sobre o encerramento
das atividades de outro fabricante no mesmo Estado. Tais informações vazam nos
bastidores e a preservação dos empregos falou mais alto aos sindicalistas.
Precisa ficar claro: produzir veículos no Brasil com a carga
fiscal insana sobre os produtos, baixa produtividade, alta burocracia e
deficiências graves em infraestrutura, só para citar alguns entraves, é um fato,
apesar de oportunidades poderem surgir no futuro. Diminuir investimentos ou
fechar uma fábrica são alternativas dolentes, incontornáveis. Não se trata de vã
ameaça, porém reflexo do mundo real.
ALTA RODA
Volkswagen confirmou preços do T-Cross, seu primeiro SUV
nacional: R$ 84.990 (motor 1-L turboflex) a R$ 109.990 (1,4-L, idem). Versões
superequipadas passarão de R$ 125.000. Série zero começou a ser produzida em
São José dos Pinhais (PR), mês passado. Nas vitrines em março (motor mais
potente, de início); primeiras entregas em abril, como previsto pela coluna.
Versão híbrida flex do novo Corolla, primeira desse tipo no
mundo, chega às concessionárias em outubro próximo. Unidades convencionais da
quinta geração do modelo, no início daquele mês. Toyota ainda não confirma, mas
SUV a partir do Yaris é dado como certo para 2021. Ela tem R$ 1 bilhão a
receber do governo paulista em ICMS atrasado.
Dos três modelos Nissan, em sua ofensiva elétrica, mais
interessante para o Brasil é o do Note e-Power. Tração totalmente elétrica, mas
fica longe de tomadas: gerador a combustão carrega uma bateria de porte pequeno.
Autonomia até 1.200 km. Avaliado no autódromo de Interlagos mostrou-se silencioso
e ágil. O conjunto estará no Kicks, em 2020.
CAOA CHERY ampliou gama de SUVs: Tiggo 7, cinco-lugares e
4,50 m de comprimento. Pontos fortes, estilo e equipamentos de série. Motor
1,5-L turboflex, 150 cv/21,4 kgfm e câmbio automatizado de dupla embreagem, os
mesmos do sedã Arrizo 5, reclamam um pouco do peso extra de um SUV. Preços
competitivos, mas não de arrasar: R$ 106.990 e R$ 116.990.
SUV médio-grande, T80 completa a linha JAC na faixa de R$
139.990 a 145.990. Espaço é ótimo para cinco adultos e duas crianças na última
fileira. Motor turbo 2-litros, 210 cv/30,6 kgfm e caixa automatizada de duas
embreagens dão conta do recado, embora não passe sensação de mais de 200 cv.
Tela multimídia tem 10 pol. Há câmeras de ré e com visão de 360 graus.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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