Coluna Fernando Calmon
Nº 1.334 — 17/1/2025
Anfavea faz previsão mais otimista
que Fenabrave para vendas em 2025
Desta vez os cálculos
se inverteram. A associação dos fabricantes prevê crescimento nas vendas de
6,3% sobre 2024 (para 2,802 milhões de unidades entre leves e pesados), enquanto a federação das concessionárias
estima em 5% (mas pode revisar, trimestralmente, ao longo de 2025). De acordo
com a Anfavea, a comercialização de veículos novos no ano passado (2,635
milhões de unidades, apesar de dezembro abaixo do esperado) subiu 14,1% sobre 2023, contra apenas 2% da
média mundial apontada pela OICA (Organização Internacional da Fabricantes de
Veículos, na sigla em francês).
A soma de veículos
leves novos e usados em 2024 alcançou 14,4 milhões de unidades, recorde
histórico. A recomposição da frota gaúcha destruída pelas enchentes teve peso
neste resultado. O Brasil se manteve, porém, como sexto maior mercado mundial
de modelos novos, atrás de China, EUA, Japão, Índia e Alemanha. Com produção de
2,550 milhões de veículos (mais 9,7%), o País superou a Espanha, passando ao
oitavo lugar.
Apesar da reação no
segundo semestre e da desvalorização de quase 30% do real que reduziu preços de
vendas ao exterior, exportações caíram 1,3%. Anfavea prevê que exportações
subam 7,4% em 2025 com ajuda do câmbio favorável e da aceleração do mercado
argentino em contínua recuperação. Por outro lado, as importações se elevaram
em 32,5% no ano passado (em valores, R$ 30 bilhões, maior nível desde 2014) puxadas
por marcas chinesas.
Este ano os
primeiros meses devem ser bons em vendas porque o estoque nas fábricas e
concessionárias diminuíram de 29 para 27 dias, de novembro para dezembro de
2024. SUVs continuaram a crescer no ano passado (mais 19,4%), seguidos por
picapes (mais 17,9%). Nominalmente SUVs avançaram mais que o dobro de hatches e
sedãs (mais 8,1%).
Por tipo de motorização
e combustível, flex representou 77%; diesel, 9,8%; gasolina, 4,4%; híbrido
plugável, 3,9%; híbridos básico e pleno, 3,2%; elétrico, 1,8%. A queda de
veículos elétricos foi expressiva, cerca de 30% no último trimestre de 2024.
Este cenário reflete o que já acontece no exterior.
Na Alemanha, maior
mercado europeu de veículos, elétricos desmoronaram 27% em 2024 com fim de
subsídios e já se cogita de voltar parte destes. Até na China, volume mais
importante do mundo, há tendência de estagnação e crescimento de híbridos
plugáveis. Nos EUA, a Chrysler desistiu de produzir um crossover elétrico. Algumas estatísticas erradas somam vendas de
elétricos e híbridos plugáveis (como se fossem elétricos).
SPVAT, extintores e IPVA: imbróglios de 2025
Quando questões
técnicas se juntam à política entre Governo Federal e o Congresso Nacional,
tudo desanda mesmo. A começar pelo Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas
de Acidente de Trânsito (SPVAT). Sem dúvida é necessário e nos países
civilizados são regulamentados e por conta da consciência de quem dirige. O
antigo DPVAT era coordenado por um pool de seguradoras e o que tinha de errado,
principalmente, era cobrar de quem já fazia o seguro em favor de terceiros, ter
de pagar de novo um valor pequeno. DPVAT era uma grande soma quando considerada
a frota rodante.
Este é o principal ponto a se resolver. Cada proprietário deveria,
obrigatoriamente, contratar um seguro específico e comprovar junto aos Detrans
ou, quando solicitado por agente de trânsito, mostrar a apólice adquirida com
indenizações até maiores. Todavia, simplificação passa longe da cabeça dos
políticos. Outro imbróglio: Caixa Econômica Federal administrar o seguro
obrigatório, pois é instituição bancária. Do jeito que está, não pode ficar.
Outra polêmica, esta
inacreditável, é tentar trazer de volta a obrigatoriedade de extintores de
incêndio para veículos leves. Para piorar, lobistas de carros elétricos
difundem estatísticas maliciosas sobre risco de fogo. Há 1,4 bilhão de veículos
com motor a combustão em circulação no mundo. Frota de elétricos não passa de
5% disso, quase todos praticamente novos, sem histórico do que pode ocorrer
depois de 20 anos de uso ou acidentes. Tipo de discussão inócua insuflada por
fabricantes de extintores.
Por fim, qual o
problema de o governo de São Paulo reduzir provisoriamente o IPVA para veículos
híbridos flex fabricados no Estado por apenas dois anos? Nenhum. Afinal, gera
empregos, estimula os híbridos e a alíquota anterior voltará paulatinamente de
2027 a 2030. Elétricos são todos importados com alíquotas “camaradas”. Tão cedo
não vão gerar muitos empregos no País, até que se crie uma rede capilar de
recarga e de produção local de baterias.
CES não é salão de automóveis, mas estes têm seu espaço
Las Vegas, apelidada
nos EUA de “cidade do pecado”, demonstra sua aura além dos cassinos. Alguns
fabricantes de automóveis e autopeças aparecem por lá todos os anos (são apenas
10% entre mais de 4.000 expositores). Procuram chamar a atenção em um evento
que tem abrangência impressionante. Na CES (Consumer Electronics Show) palestras
se sucedem quase sem fim (mais de 300 de 1.200 apresentadores), espremidos
entre 170.000 visitantes, de 7 a 10 de janeiro deste ano.
Fabricantes europeus
tiveram presença discreta, ao contrário das asiáticas e de empresas de
tecnologia americanas focadas em direção autônoma. BMW sempre prestigia e desta
vez com iDrive de nova geração que inclui projeção de dado de uma ponta a outra,
acima do para-brisa. Será que ninguém vai se distrair com isso? Mercedes-Benz
anunciou acordo com a Sony, dona da Columbia Pictures, para suas telas a bordo.
Hyundai Mobis partiu para um interessante projetor de dados holográfico.
Toyota avançou no
seu ambicioso projeto de cidade-laboratório, no interior do Japão, para várias
tecnologias com inauguração este ano, demonstrada mais uma vez pelo presidente
do Conselho, Akio Toyoda. Foco na IA (Inteligência Artificial) que está no
cerne dos táxis autônomos da Waymo (Google). Estes, aliás, flagrados em um
recente vexame: um deles se atrapalhou em uma rotatória da qual não conseguia
sair e o passageiro quase perdeu seu voo.
Honda destacou-se na
reapresentação evoluída de um SUV e um sedã elétricos, batizados de Série 0
(zero), a serem produzidos nos EUA, além do Afeela 1, em parceria com a Sony,
na faixa de US$ 100 mil (R$ 600.000). Suzuki estreou na CES apresentando novo people mover autônomo para transporte de
pessoas em espaços controlados e, no futuro, igualmente em cidades.
C3 You! resgata experiência de compactos rápidos
Um hatch compacto — 3.981
mm de comprimento, 2.540 mm de entre-eixos, 1.734 mm de largura e 1.587 mm de
altura — com motor tricilindro turbo flex de 1 L, 130 cv (E)/125 cv (G), 20,4
kgf·m e massa em ordem de marcha de 1.115 kg torna-se combinação atraente para
quem gosta de acelerar. E isso o C3 You! faz bem, mas exige certa atenção em
curvas. Afinal, com o mesmo vão livre do solo de 180 mm, suspensão levemente
mais firme e pneus de mesma seção (195/65 R15) das outras versões, não se pode
esperar muito nesse mister.
A decoração tem
apliques azuis exclusivos externos e internos que fogem do tradicional
vermelho, sem nenhum atrativo em especial. Também não ajudam uma posição alta
demais ao volante e a sentida ausência de simples conta-giros no modesto quadro
de instrumentos. Para compensar há uma boa tela multimídia de 10 pol. e câmera
de ré, além de conexão sem fio (AndroidAuto e Apple CarPlay) para celulares.
As limitações do
projeto deixaram de lado a regulagem de distância do volante. Mas o espaço
interno é muito bom, em especial no banco e trás. Porém, os comandos dos vidros
elétricos traseiros ficam no console em posição recuada, inadequada. Porta-malas
oferece bons 315 litros, acima da média dos compactos.
Não dá para
considerá-lo um hot hatch, contudo o
desempenho mostra-se razoável com aceleração de 0 a 100 km/h em 8,4 s (só
consegui 9 s). Motor funciona em boa harmonia com o câmbio automático CVT de
sete marchas. É pouco suave, como todos de três cilindros, todavia seleção do modo
Sport proporciona um pouco mais de emoção nas respostas ao acelerador.
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