Texto e fotos: Eduardo Rocha
O Volkswagen T-Cross teve dois períodos de liderança no Brasil. O primeiro foi em 2020, que pode ser classificada como uma liderança inventada. Isso porque na retomada da produção pós-pandemia, quando faltavam semicondutores, a marca adotou a estratégia de esvaziar a fila de espera por encomendas PcD.
Resultado: chegou a vender 10 mil unidades em um único mês – volume jamais repetido – e terminou o ano à frente do Jeep Renegade. Depois disso, os líderes foram Renegade em 2021 e Chevrolet Tracker em 2022.
Em 2023 começa a segunda liderança do T-Cross, mas agora trata-se de uma liderança construída. Naquele ano, vendeu 72.441 unidades, quase 10% a mais que o crossover da Chevrolet, o segundo no segmento. Em 2024, a Tracker ainda se manteve em segundo, mas agora o T-Cross emplacou 20% a mais, com 83.990 exemplares, o que fez do modelo o 5º mais vendido no ano.
Tem uma inteligência por trás dessa curva ascendente do crossover compacto da Volkswagen, mesmo que tenha partido de um base alta – desde que foi lançado, sempre vendeu mais de 5 mil unidades por mês em média e ano passado bateu as 7 mil/mês.
Um desses pontos foi a distribuição da gama. Apesar de ser um carro bastante caro para o segmento, a tabela do T-Cross começa em baixa, com os R$ 120 mil da versão Sense.
Daí pula para R$ 150 mil da 200 TSI e vai até os R$ 200 mil da Highline 250 TSI completa. Entre estas duas últimas está a Comfortline 200 TSI, que custa entre R$ 170 mil e 180 mil e tem um papel estratégico.
Ela deixa de fora poucos itens da versão de topo, o que significa que ainda funciona como vitrine tecnológica, e tem um preço próximo aos das configurações mais recheadas dos rivais. Ou seja: tem um toque de status com uma dose de racionalidade.
A redução de preço se deve ao fato de usar motor menos potente e bloquear o acesso a opcionais como estacionamento semiautomático, sensor de faixa, de ponto cego e de tráfego traseiro. Por outro lado, passou a contar com revestimento em couro sintético, 1.0 turbo, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência.
No inventário de conteúdo estão seis airbags, ar-condicionado digital, central multimídia com tela de 10,1 polegadas VW Play, com GPS e espelhamento sem fio, painel digital configurável, iluminação em led, rodas de liga leve aro 17, pacote acústico, chave presencial para travas e ignição, câmera de ré e sensores dianteiros e traseiros.
A unidade avaliada contava ainda com pintura metálica, teto solar elétrico, sensor de chuva e espelho interno eletrocrômico, o que elevou o preço de R$ 171.490 para R$ 180.790.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.0 TSI de três cilindros se espalhou por todo o line-up da Volkswagen no Brasil desde que surgiu, em 2016 empurrando o Golf. É um propulsor confiável, robusto e bastante eficiente, com seus com 116/128 cv e 20,4 kgfm, com gasolina e etanol, gerenciado por um câmbio automático de seis marchas também robusto.
Com o T-Cross, esse trem de força faz um conjunto bastante justo, com uma boa agilidade e retomadas satisfatórias, com um sutil turbolag. O SUV/crossover da Volks se movimenta muito bem quando vazio, com relação peso/potência perto de 10 kg/cv, mas se ressente quando próximo da carga máxima, com cerca de 13 kg/cv. A aceleração de zero a 100 km/h em 10 segundos é correta. Nota 7.
Estabilidade – Nesse aspecto, a Volkswagen tem uma tradição histórica, que começou com os primeiros modelos com refrigeração líquida. Em função da altura mais elevada, o T-Cross Highline rola um pouco, mas o controle da carroceria é eficaz, oferecendo uma sensação de solidez e segurança. Tanto que é preciso se esforçar bastante para conseguir ver os controles eletrônicos precisarem intervir. Nota 8.
Interatividade – Na linha 2025 do T-Cross, a Volkswagen manteve o esquema quase padrão de seus modelos. No interior aparece a nova localização da tela da central multimídia VW Play, que foi elevada e tem a parte superior ligeiramente projetada em relação ao console frontal. Isso ajuda na usabilidade, embora botões físicos para volume e sintonia seria ainda melhor.
Os comandos estão nos lugares típicos, com fácil acesso e há tecnologias bastante interessantes no habitáculo. Como a central multimídia com GPS e, principalmente, o painel digital configurável. Nota 8.
Consumo – O Volkswagen T-Cross Comfortline 200 TSI aparece na mais recente tabela do InMetro com bons números. Na cidade, faz 8,2/11,9 km/l e na estrada chega a 10,1/14,3 km/l, com etanol/gasolina, na ordem. Os índices foram B na categoria e C no geral. Nota 7.
Conforto – A suspensão não foge à regra da marca alemã e é um pouco dura. Se justificativa por oferecer um bom controle de carroceria, embora se distancie da lógica de conforto e capacidade de encarar pisos ruins, base do conceito básico de um crossover. Já os bancos até recebem bem os ocupantes e o espaço interno é generoso, tanto para quem viaja à frente quanto para quem vai atrás. As versões de topo recebem o chamado pacote acústico padrão, para melhorar o isolamento de ruídos. Nota 7.
Tecnologia – O T-Cross é construído sobre a plataforma MQB A0, lançada em 2017 no Polo. Trata-se de uma estrutura versátil, que combina leveza e rigidez de forma eficiente. Já o motor 1.0, apesar do conceito moderno, é mais antigo. Ainda assim, é robusto e confiável.
O crossover compacto traz uma carência na parte de segurança. Tem alerta de colisão e frenagem autônoma, mas monitor de faixa e de ponto cego são restritos à versão Highline, assim como o sistema de estacionamento automático. Tem uma central multimídia atualizada e painel digital configurável. Nota 8.
Habitabilidade – Em viagens, o T-Cross acomoda até quatro adultos e uma criança sem apertos. Daí o espaço ser bom para pernas e cabeça, graças ao excelente entre-eixos de 2,65 metros – maior que o do Jeep Compass, por exemplo.
O acesso à cabine também é bom, graças à altura elevada, mas não tanto. Há muitos porta-objetos espalhados pelo interior, o que torna o uso cotidiano mais fácil. O porta-malas é apenas razoável para o segmento, com 372 litros de capacidade. Nota 8.
Acabamento – A Volkswagen manteve o padrão de plásticos rígidos em boa parte da cabine, mas na versão Comfortline há mais áreas com revestimento em couro sintético (de boa qualidade) e acabamento das peças mais cuidadoso.
Ainda assim, é pouco para um modelo que bate os R$ 180 mil. Esteticamente, os tons em cinza e preto se equilibram de um jeito charmoso, mas falta de sofisticação nos apliques em plástico no tablier e no console central. Nota 6.
Design – A Volkswagen conseguiu alinhar elementos que remetem à robustez e à esportividade. Na linha 2025, o modelo traz um face-lift sutil, que não chegaram a renovar o modelo.
A frente traz faróis com o e assinatura luminosa em L no contorno externo e inferior do conjunto ótico e um recorte interno em diagonal, que se conecta a um friso cromada no centro da grade.
Na versão Comfortline, a entrada de ar inferior recebe uma moldura em preto. Na traseira, o formado externo da lanterna foi mantido, mas agora a barra horizontal que liga as duas lanternas ganhou faixas internas iluminadas. Nota 7.
Custo/benefício – O Volkswagen T-Cross é caro, sob qualquer ângulo que se olhe. Na versão Comfortline avaliada começa acima de R$ 170 mil e bate os R$ 180 mil sem qualquer dificuldade e ainda assim não é completo. Este valor é próximo ao de versões de topo de modelos como Hyundai Creta, Jeep Renegade e Honda HR-V, que são mais tecnológicos, e superior a modelos como Chevrolet Tracker e Nissan Kicks. Nota 6.
Total – O Volkswagen T-Cross Comfortline 200 TSI somou 75 pontos de 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Base sólida
A Volkswagen atualmente colhe os frutos de ter apostado em um modelo mais caro que a maior parte dos rivais do segmento, mas com conteúdo e estrutura também superiores. A começar pelo espaço interno do T-Cross.
Ele conta com o maior entre-eixos entre os compactos e supera até mesmo crossovers de segmentos superiores, como os médios-compactos Compass e Toyota Corolla Cross.
Na linha 2025, a marca ainda resolveu tornar a versão Comfortline 200 TSI uma espécie de topo de linha na prática, já que o T-Cross Highline, com motor 250 TSI, acaba sendo mais caro até que aqueles mesmos rivais de segmentos superiores.
O fato de trazer sob o capô o motor 1.0 de 116/128 cv, com 20,4 kgfm de torque, torna o T-Cross um carro de comportamento racional. Desde o lançamento, em 2019, o propulsor passou por pequenas melhorias, principalmente no mapeamento, que melhoraram tanto o consumo como o comportamento dinâmico.
Quando chegou, o motor fazia um grande esforço para movimentar os 1.259 kg do modelo sem carga e ainda apresentava um acentuado turbolag. Tudo isso desapareceu.
O T-Cross não se tornou um bólido, mas o conjunto dá conta da tarefa de animar o crossover da marca alemã com muita dignidade. Acelera bem, retomada sem engasgar e ganha velocidade com desenvoltura.
Mas além do espaço, o melhor do T-Cross em relação ao segmento é a estabilidade. É bem verdade que há um certo sacrifício do conforto, mas a neutralidade do modelo faz até lamentar um pouco que o motor mais potente não esteja presente.
Outra melhora, direcionada às versões superiores apenas, foi o isolamento acústico, que agora permite conversas em tons normais mesmo em velocidades mais altas.
Ficha técnica
Volkswagen T-Cross Comfortline 200 TSI
Motor: Etanol e gasolina, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, com quatro válvulas por cilindro. Com injeção direta de combustível, turbocompressor e duplo comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico de tração e bloqueio eletrônico do diferencial.
Potência máxima: 116/128 cv a 5.500 rpm.
Torque máximo: 20,4 kgfm a partir de 2 mil rpm.
Aceleração 0 a 100 km/h: 10 segundos.
Velocidade máxima: 192 km/h.
Diâmetro e curso: 74,5 mm x 76,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente, com triângulos inferiores e barra estabilizadora. Traseira por barra de torção com braços de controle longitudinais, molas helicoidais e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira. Oferece assistente para partida em subida.
Pneus: 205/55 R17.
Carroceria Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,22 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,57 m de altura e 2,65 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 1.259 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 373 litros.
Tanque de combustível: 49 litros.
Produção: São José dos Pinhais, Paraná.
Lançamento: 2019.
Preço da versão: R$ 171.490.
Preço da unidade testada: R$ 180.790.
Fonte: Auto Press
Ótimo texto de avaliação do T-Cross. Pontos abordados de forma racional e completo. O carro é bem atraente e o preço desperta para a concorrência.
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