Fernando Calmon
Nº 1.004 — 2/8/18
OS DESAFIOS DA FCA
A inesperada morte de Sergio Marchionne, o ítalo-canadense
responsável pela recuperação financeira de dois grandes grupos automobilísticos
que acabou por fundir sob o nome Fiat Chrysler Automobiles (FCA), trouxe, além
de enorme consternação, uma série de novos desafios. Todos propostos por ele
mesmo, um executivo altamente dinâmico, cerebral e impulsivo.
Marchionne tinha um jeito próprio de trabalhar, desde que
entrou na empresa em 2004. Primeiro passo foi obrigar a GM a assumir a Fiat ou
pagar US$ 2 bilhões de indenização como rezava um contrato malfeito.
Ele venceu
a disputa e com esse dinheiro apostou tudo na releitura moderna do subcompacto 500,
em 2007, transformando-o em grande sucesso. Em 2009, foi sozinho aos EUA
convencido de que poderia salvar a concordatária Chrysler. A empresa pertencia
ao governo americano, que a entregou de graça para se livrar do problema.
Cinco anos depois, em 2014, promoveu a fusão e prometeu zerar
toda a dívida da FCA em 2018. Promessa cumprida. Marchionne não tolerava erros
e nem contestações. Assim dois Luca, de Meo (Fiat) e di Montezemolo (Ferrari),
bateram de frente e saíram. Mas ele continuou. Também não desanimou ao errar seguidas
previsões de vendas para as marcas Alfa Romeo e Lancia.
Em 1º de junho último, em Balocco (Itália) apresentou a investidores
o segundo plano quinquenal (2018-2022) a ser tocado por seu sucessor, a partir
de abril de 2019. Em lance audacioso, diminuiu bastante o volume de
investimentos nas marcas Fiat e Chrysler, em favor das mais rentáveis Jeep, Ram,
Alfa Romeo e Maserati.
Já tinha a resposta pronta, quando questionado se não
havia contradição com o próprio nome da empresa: “Acho que não. Há uma marca
premium que também não está na razão social”, disparou. Todos entenderam se tratar
da Daimler, dona da Mercedes-Benz.
Apesar da profunda admiração do seu nome nos meios
automobilístico e financeiro, alguns analistas consideram como bem mais
desafiadores os próximos cinco anos da companhia. Marchionne já tinha escolhido
seu sucessor, mas só pretendia anunciá-lo adiante.
Ele não se aposentaria de
vez, pois continuaria na presidência da Ferrari e, claro, de olho no seu ungido
para ajudar no que fosse possível.
O inglês Mike Manley, líder da Jeep e Ram, comandará agora a
empresa por escolha de John Elkann, neto do falecido Gianni Agnelli, da família
fundadora da Fiat. Manley é um executivo muito competente, mas a sua ascensão levou
ao pedido de demissão de Alfredo
Altavilla, um dos cotados para a sucessão. Deixou sinal de divisão interna,
embora se especule que havia um terceiro nome de preferência do desparecido
executivo.
Marchionne sempre
defendeu a consolidação de grandes grupos automobilísticos. Ideia era enfrentar
a imensa necessidade de capitais e reinventar essa indústria no disruptivo campo
da mobilidade do futuro.
Tentou, de público, acordo com a GM por considerar
existir fortes sinergias entre os dois grupos, mas foi rechaçado provavelmente por
mágoas do passado. Antes havia conversado com a PSA e, há pouco, com a chinesa
Geely.
Talvez, agora, com
um anglo-saxão à frente da FCA o diálogo seja reaberto. Marchionne aplaudiria
de pé.
ALTA RODA
PELA primeira
vez, Gol e Voyage passam a oferecer câmbio automático. É um Aisin (japonês) de
seis marchas que forma conjunto com o motor EA 211 de 1,6 L/120 cv (etanol). VW
afirma que a opção, em torno de R$ 3.000, é mais acessível que os R$ 4.000 da
média de mercado. O preço do Gol parte de R$ 54.580 e do Voyage, 59.990.
MARCA alemã também
lançou Polo e Virtus com o mesmo motor e câmbio (antes só manual) por R$ 62.690
e 66.525, na ordem. Estima-se que, em apenas dois anos, 60% de todo o mercado
brasileiro será de automáticos – hoje, 40%. Programa para pessoas com
deficiência (PCD) tem estimulado a demanda. Como há limite de preço de R$
70.000, carros compactos, aos poucos, tomarão o lugar dos médios.
ARGENTINA tornou-se
celeiro das picapes médias. Nissan acaba de inaugurar nova fábrica em Córdoba
para 70.000 unidades/ano de Frontier e, no final do ano, Renault Alaskan e Mercedes-Benz
Classe X. Em dois meses, o modelo argentino substituirá o mexicano no Mercosul.
Haverá duas novas versões e alguns reforços estruturais em relação à atual
picape.
CARRO autônomo de
Nível 3 (motorista pode largar o volante, mas deve monitorar o tráfego) tem
preço estimado em US$ 30.000/R$ 115.000, apenas pelo equipamento. Equivale
quase aos US$ 35.000/R$ 133.000 de um modelo elétrico básico nos EUA. Por isso,
Audi ainda não revelou o preço do A8 autônomo. Estima-se que em cinco anos
opção custaria U$$ 10.000/R$ 38.000.
APENAS três dos
cinco fabricantes com efemérides em 2018 se movimentaram no exterior para
comemorar. Renault (120 anos), Porsche e Land Rover (ambas fundadas há 70 anos).
Honda (70 anos) e Subaru (60 anos) até agora deixaram passar em branco. Ford, a
marca mais antiga instalada no Brasil, vai comemorar 100 anos de atuação aqui
em 2019.
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