Coluna
Fernando Calmon
Nº 1.066 — 10/10/19
CAMINHOS DA
ELETRIFICAÇÃO
Um salão discreto, focado em várias palestras e participação
bastante limitada do público (6.000 visitantes) se realiza anualmente, no
começo de outubro, por três dias. No entanto, já completou 15 edições. Trata-se
do Veículo Elétrico Latino-Americano, em São Paulo.
Este ano, três dos cinco
fabricantes que vendem esse tipo de automóvel no Brasil (CAOA Chery, JAC e
Renault) montaram estandes. Bicicletas, patinetes e scooters, além de fornecedores
de equipamentos de recarga, serviços e fabricantes de baterias, formaram o
conjunto de expositores.
Sempre merecem especial atenção as baterias. Por isso, se
ouviu com maior interesse o executivo suíço Julian Tanner, da empresa alemã
Innolith. Ele anunciou um alcance de até 1.000 km para automóveis elétricos, com
baixo risco de incêndio e alta densidade energética, sem revelar a
matéria-prima utilizada. A Innolith ainda procura parceiros para iniciar a
produção, sinal de que falta convencê-los sobre a viabilidade econômica.
Tanner até praticou sincericídio
(suicídio por sinceridade) ao reconhecer a resistência do consumidor em sair dos
carros convencionais, apesar da pressão dos governos da China e da Europa. Os
problemas são recorrentes e bem conhecidos: demora em recarga, poucos
eletropostos, alcance limitado, alto custo, peso, volume, durabilidade e
reciclagem.
A empresa de pesquisas de opinião Ipsos divulgou o resultado
de um estudo de como se poderia estimular a demanda por veículos elétricos no Brasil.
Os percentuais somam mais de 100% porque os entrevistados puderam dar mais de
uma resposta:
- 35% opinaram que não há
facilidade para encontrá-los no mercado
- 33% afirmaram a
dificuldade de encontrar estações de carregamento
- 32% apontaram o alto custo
geral (valor de revenda, reposição da bateria e mercado limitado)
- 30% disseram que os modelos
são muito caros
- 29% consideraram o alcance
inadequado para percorrer longas distâncias
Há também os otimistas que confiam no estudo da
BloombergNEF. Esta consultoria foi citada por Raul Beck, do Centro de Pesquisa
e Desenvolvimento em Telecomunicações, por prever que em 2025 os carros
elétricos deverão se equiparar em preço aos convencionais com ajuda dos
subsídios dos governos.
Há dúvidas sobre isso pois significa que a matéria-prima
da bateria, o lítio, continuaria a cair de preço de forma acelerada na medida
em que a demanda subiria consideravelmente. Não tem muita lógica econômica,
quando se considera a Lei da Oferta e Procura.
Os híbridos também tiveram espaço no evento, embora não se
classifiquem formalmente como elétricos. A Toyota e sua subsidiária de luxo
Lexus foram pioneiras nesta solução que deveria representar um caminho mais
prudente até se alcançar uma solução viável para as baterias.
Se o motor a combustão
for flex e usar etanol, as emissões de CO2 são mais baixas do que em
um veículo 100% elétrico recarregado em uma rede cuja geração depender de
fontes térmicas de origem fóssil ou não renováveis.
Para Miguel Fonseca, vice-presidente da Toyota, “é necessário
uma visão de 360° de produto, tecnologia e infraestrutura em qualquer
estratégia de eletrificação”. Não há como não concordar.
ALTA RODA
RECUPERAÇÃO do
mercado interno de veículos leves e pesados perdeu um pouco de fôlego nos
primeiros nove meses do ano. Ritmo de expansão caiu de 12,1% para 9,9% em
relação ao mesmo período de 2018. Previsões da Anfavea para o ano cheio de 2019
foram reduzidas: vendas (mais 9,1%), produção (mais 2%) e exportação (menos 33%)
em razão do forte tombo argentino.
ESTOQUES nos
pátios das fábricas e concessionárias continuam a subir. De agosto para setembro
passaram de 44 para 45 dias, mas tudo indica que começarão a cair neste último
trimestre em razão de juros menores de financiamento e aquecimento tradicional
de fim de ano. Normal seria estocar 35 dias de vendas. Então há espaço para
continuar a negociar descontos.
JETTA GLI é um sedã impressionante a cada vez
que se exige dele: basta selecionar pela alavanca de câmbio e na tela
multimídia a posição Sport. Os 230 cv e os 35,7 kgfm (a apenas 1,500 rpm) não
deixam dúvidas. Ao mesmo tempo oferece conforto – banco do motorista elétrico –
e acabamento coerente à proposta. Além de ótimo porta-malas de 510 litros.
ALGUMAS exigências
descabidas, que só aumentam custos de produção no Brasil, começam a desaparecer.
Anfavea convenceu o governo a revogar antiga ação burocrática que colocava sob controle
do Exército a importação de cintos com pré-tensionador e airbags. De fato, tais
equipamentos contêm pequenas cargas pirotécnicas, mas nada a merecer controle
rígido.
CAMPANHAS de
recall passam a ser mais efetivas. Desde março de 2011 se previa que a
informação sobre não atendimento estaria no certificado de registro anual dos
veículos. Só agora começou a valer. As fabricantes deverão fornecer um comprovante
para quem perdeu o prazo, mas efetivou o conserto. No ano seguinte, a ressalva
será retirada do certificado.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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