Coluna
Fernando Calmon
Nº 1.067 — 17/10/19
CELULAR SOBRE RODAS
Se há um tema que provoca muitas dúvidas e, às vezes,
discussões acaloradas é a condução autônoma. Dividida em cinco níveis, dos
quais os três primeiros já apontam para uma tecnologia praticamente dominada e
os dois últimos ainda por definir prazos, este recurso vai se incorporar ao dia
a dia inexoravelmente. O problema é saber quando, de que forma e por quanto.
O atual Nível 3 de autonomia está disponível em, pelo menos,
três modelos no exterior: Tesla 3, Cadillac CT6 e Audi A8. Vários outros
fabricantes dispõem de tecnologia semelhante, mas relutam em oferecer: temem o
mau uso do recurso. Na Europa não é possível, ainda, homologar um veículo desse
tipo para rodar em estradas e ruas de livre trânsito. Já os EUA liberaram,
mesmo depois de alguns acidentes.
O risco do Nível 3 é a possibilidade de burlar o sistema,
que se desliga automaticamente dependendo de certos fatores entre eles
velocidade, número de faixas de rolamento, sinalização horizontal e vertical e
vias expressas. No Tesla, por exemplo, há uma zona cinzenta entre os Níveis 2 e
3. Basta, por exemplo, um leve encostar de mão ou perna no volante para o carro
seguir em frente de forma autônoma.
Os EUA argumentam que muitas vidas foram poupadas em
acidentes evitados, apesar de imperfeições, uso abusivo e mortes. O Nível 4,
totalmente autônomo, se mantém em testes. Mas, quando alcançar homologação,
entre 2020 e 2021, o preço será muito alto. Sem ninguém ao volante, ainda
estará limitado a serviços em percursos restritos e dentro de perímetro de cerca
eletrônica.
Algumas empresas, como a fabricante alemã de equipamentos
ZF, afirmam que antes de 2030 a tecnologia não estará madura para o chamado
robô-táxi de livre circulação. A Ford também argumenta existir um otimismo
exagerado com os prazos. A Waymo, subsidiária do Google para automação
veicular, segue em frente com os testes, porém visa ao uso comercial no
transporte de pessoas e bens.
Interessante são as apostas em conectividade, via rede celular
5G, capazes de reduzir a frequência de acidentes por uma fração do custo de um
veículo totalmente autônomo. Essa alternativa vai se expandir logo que a
comunicação pelo ar, até 20 vezes mais rápida que a 4G atual, for sendo
implantada ao redor do mundo. Conhecida pela sigla em inglês C-V2X (Veículo
Conectado a Tudo via Celular), permitirá interações bastante eficientes a fim
de antecipar situações de perigo que o próprio motorista ou o carro poderão
evitar.
A empresa iniciante inovadora (startup) israelense
Waycare é uma das especialistas nisso. Em vez de investir em caríssimos
equipamentos para que o motorista esqueça o volante — se tiver dinheiro
suficiente para adquirir um automóvel autônomo de Nível 4 — ela trabalha com os
administradores de trânsito. Estes poderão analisar, em tempo real ou bem
próximo a isso, as situações de risco e avisar aos motoristas no intuito de
evitar colisões.
Quanto ao Nível 5, quando se eliminarão volante e pedais nos
autônomos, é algo tão caro que ninguém, hoje, consegue calcular com o mínimo de
exatidão o seu preço. Muito melhor investir no que está à mão: um telefone
celular ultrarrápido sobre rodas.
ALTA RODA
Confirmado o investimento de R$ 220 milhões da PSA, em sua
fábrica de Porto Real (RJ), para produção de modelos compactos e
médios-compactos sob a nova arquitetura modular CMP. Argentina já garantiu a
fabricação, em 2020, do novo Peugeot 208 e também o 2008. Fontes da coluna
indicam que, no Brasil, começará pela nova geração do Citroën C3, em 2021.
Programa IncentivAuto, do governo paulista, aprovado pela
Assembleia Legislativa, poderá ser o último ainda sob as regras que devem mudar
com a reforma tributária nacional. Incentivos são moderados: 2,5% de isenção do
ICMS para cada R$ 1 bilhão investido e mínimo de 400 novos empregos diretos.
Pode ajudar nessa fase inicial de recuperação econômica do País.
Civic Touring só desaponta pelo preço alto, pois continua a
impressionar no uso urbano e em estradas pela dirigibilidade de alto nível.
Motor turbo (173 cv) garante bom desempenho sem consumo exagerado, embora o
câmbio CVT imponha limites. Freio de autoimobilização eletromecânico
(auto-hold) é extremamente útil no para e anda do trânsito.
Alternativas como gás (natural ou biogás) podem ajudar na
diminuição de emissões em ônibus e caminhões, explicitadas na feira do setor,
Fenatran, em São Paulo. Cummins, Scania e Iveco oferecem essa solução.
Mercedes-Benz aposta no óleo vegetal (HVO), utilizável de imediato. VW
desenvolve aplicações elétricas para entregas urbanas, mas preço muito elevado
atrapalha.
Reciclagem de veículos no Brasil beneficiaria o meio
ambiente e a própria indústria automobilística. Peças recicladas e
reutilizadas, especialmente as de plástico, saem a um custo muito menor.
Segundo Ariane Marques, química da BASF, evita-se a busca incessante por
matérias-primas, um dos fatores que encarecem a produção de novos modelos.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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