Fernando Calmon
Nº 1.018 — 12/11/18
SALÃO TEM NOVA PEGADA
Um passo em direção à eletromobilidade bem mais forte que o
evento de dois anos atrás. Assim será o Salão do Automóvel de São Paulo, de 8 a
18 de novembro. Entre protótipos e modelos de série (inclusive em testes de condução)
movidos a bateria haverá uma dezena, sem contar híbridos convencionais e plugáveis.
Em sua 30ª edição, será o maior até hoje realizado com
110.000 m², incluindo as pistas externas. Números superlativos: 29 fabricantes
(seis marcas, sendo quatro de dois grupos automobilísticos, não participam este
ano); mais de 540 veículos em exposição; 1.200 horas de atividades interativas
e cerca de 100 eventos paralelos. O organizador Reed-Alcântara estima atrair mais
de um milhão de fãs pelas redes sociais.
Dos sempre aguardados veículos-conceito, pelo menos dois vão
atrair muita atenção: nova picape Volkswagen para concorrer com a Toro e o
primeiro SUV da Fiat de porte médio-grande. Ambos estarão bem próximos das versões
definitivas, mas à venda somente em médio prazo (até 18 meses após o Salão), ou
seja, 2020.
Carros elétricos serão mais motivo de curiosidade do que realidade
no mercado brasileiro, apesar do esforço de fabricantes e importadores em divulgar
e estimular seu uso em um evento tão importante.
A começar pelo preço de
aquisição bastante elevado, infraestrutura por montar, custo das baterias de
reposição e sua reciclagem final, valor de revenda e autonomia baixa para
dimensões continentais do País.
Inexiste, ainda, a possibilidade de subsídio
pela difícil situação das contas públicas nacionais. Na Europa, por exemplo,
alguns governos pagam até 10.000 euros (R$ 43.000) para quem adquirir um
elétrico a bateria.
Na semana passada, em São Paulo, a 18ª Conferência
Internacional Datagro dedicou um painel, moderado por este colunista, às novas
tendências em tecnologia automotiva. João Irineu Medeiros, da FCA, frisou que a
rota tecnológica mais próxima da realidade brasileira deveria incluir uso de
etanol em veículos híbridos e plugáveis associado a motores de combustão
interna flex de alta eficiência.
Em termos de emissões absolutas (ciclo de vida) de CO2 principal
gás de efeito estufa responsável por mudanças climáticas, um híbrido flex
consumindo o nosso combustível vegetal alcançaria no final da próxima década,
com os avanços previstos no programa Rota 2030, algo como 14 g/km de CO2.
Na Europa,
considerando a participação média da energia elétrica gerada por fontes
fósseis, essa referência para um carro elétrico puro seria de 82 g/km. Se os
europeus conseguissem, também em 2030, limpar 100% de sua geração de
eletricidade (improvável, nesse prazo) chegariam a 10 g/km.
Besaliel Botelho, da Bosch, mostrou estudo da companhia
apontando 2030 como a data mais provável em que o preço de um automóvel
elétrico fique bem próximo ao de um convencional a gasolina. Ainda assim, haveria
uma dependência de lítio e cobalto para produção de baterias. Para se ter ideia,
um telefone celular utiliza 2 a 3 gramas de lítio, enquanto um automóvel médio
exige nada menos de 40 kg.
Enquanto isso não se resolve, quem for ao Salão poderá testar
um carro elétrico para admirar baixo ruído a bordo e torque exuberante logo ao
arrancar. Divirtam-se.
ALTA RODA
PRIMEIRO automóvel
nacional com chip 4G na central multimídia, permitindo tráfego de dados e
acesso à internet, será Chevrolet. O sistema admitirá pagamentos online e no
futuro interação com a infraestrutura. A empresa, ao anunciar a novidade no
Salão do Automóvel de São Paulo, não revelou ainda o modelo. Tudo indica que
será o novo Onix, dentro de um ano.
PARA defender liderança
entre SUVs compactos, Honda fez retoques no HR-V 2019 típicos de meia geração. Novos
faróis, para-choque, grade, lanternas traseiras de LEDs, rodas de 17 pol. e
suspensão recalibrada. Melhorou o isolamento acústico; fez ajustes no câmbio
CVT. Motor manteve 140 cv (1 cv a mais com gasolina do que com etanol,
estranho). R$ 92.500 a 108.500.
CITROËN C4 Cactus,
no uso diário, demonstra desempenho bem acima da média do seu segmento graças
ao motor turbo de 1,6 L. Na realidade, até “sobra”, mas sem afetar tanto o
consumo. Atmosfera interna agrada, em especial pelo espaço para cabeça de todos
os ocupantes e para pernas no banco traseiro. Plásticos internos poderiam
melhorar. Porta-malas, apenas 320 litros.
QUEM pensa que o
motor de combustão interna já deu o que tinha que dar, está enganado. Na Europa,
unidades a gasolina já conseguem consumo praticamente igual a diesel (estrada,
25 km/l) por meio de recursos como turbos de geometria variável, desligamento
de 50% dos cilindros e até do motor para aproveitar o “embalo” sob algumas
condições de uso.
CICLOS de euforia
e depressão continuam com sinais trocados entre Brasil e Argentina. Aqui, o
mercado vai muito bem, enquanto o argentino entrou em forte recessão este ano. Lá,
o clima de pessimismo resvalou para o cancelamento do Salão do Automóvel de
Buenos Aires, em julho de 2019. Isso ainda pode se reverter. Até o governo
federal tenta ajudar.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2
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