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domingo, 3 de janeiro de 2021

Dakar: com recuperação incrível, brasileiros vencem primeira etapa na Arábia Saudita. Campeão de 2018, piloto Reinaldo Varela e o navegador Maykel Justo tiveram pneu furado com apenas 10km de prova. Participam da prova representantes de 49 países, alguns em conflito

 


Como previsto, será uma disputa muito apertada e difícil. A dupla Reinaldo Varela/Maykel Justo venceu neste domingo (3) na categoria UTV a primeira etapa do Rally Dakar, que percorrerá um total de 7.646km até o dia 15 de janeiro dentro do território da Arábia Saudita, privilegiando a presença em dunas do deserto, cordilheiras, cânions e trechos rochosos. 

Varela/Justo completaram os 277km de especiais – trechos cronometrados em alta velocidade – com apenas 28 segundos de vantagem para a dupla segunda colocada, o norte-americano Austin Jones e o brasileiro Gustavo Gugelmin. Os vencedores, no entanto, tiveram sérias dificuldades para alcançar a vitória.

“Em um trecho rochoso pegamos uma pedra que rasgou o pneu traseiro direito e nos obrigou a parar com apenas 10km de corrida. Fizemos a troca bem rápido, mas enquanto isso vimos o pessoal nos ultrapassando. Foi um sufoco, não estávamos acreditando no que estava acontecendo”, conta Varela. “Depois, tivemos que manter a calma e ir passando o pessoal um a um, sempre com cuidado para não furar outro pneu. O Dakar, aqui na Arábia Saudita, tem essa característica, de destruir pneus nos trechos rochosos. Que bom que conseguimos superar isso”, completa o piloto, que compete pela equipe Monster Energy Can-Am.

“Outro ponto importante: eu e o Maykel estamos estreando nossa parceria e acho que não poderíamos ter um teste e um resultado melhor do que os de hoje. Ele está de parabéns pelo trabalho que fez e a nossa equipe está orgulhosa do que alcançamos aqui”, concluiu o piloto, que corre pela primeira com navegação de Maykel Justo.



“Deserto puro” – O trajeto total deste domingo, contando os deslocamentos, foi composto de 622km em estradas de terra e areia, rumo ao interior saudita. Largando dos arredores de Jedá, maior cidade portuária do país, a caravana do Dakar chegou a Bisha, na beira de uma região mais desértica. Amanhã, a partir dali, a corrida segue para Wadi Ad-Dawasir, no centro-sul da Arábia Saudita.

“Já estamos às portas do deserto puro. Amanhã vamos encarar as primeiras dunas. Um dos destaque é um trecho de 30km formado somente por dunas, com saltos e descidas intermináveis. Vai ser um teste de resistência”, conta Maykel Justo. “Depois disso, teremos um longo trecho de nada mais do que areia para todos os lados, uma vastidão, que é o que assusta quando se está no deserto”, pontua o navegador da equipe Monster Energy Can Am. O clima a partir de amanhã passa a ser típico do deserto. Em Wadi Ad-Dawasir, o calor pode atingir 54oC no verão e chegar a -2oC durante a noite no inverno, atual estação na Arábia Saudita. “Mesmo assim, o calor chega a 35oC ao meio dia nessa época do ano, horário em que estaremos no meio da trilha”, avisa Reinaldo Varela.

O Dakar em resumo – Disputada inteiramente na Arábia Saudita, a 43ª edição do Dakar terá em seus 7.646km um total de 4.767km de especiais – trechos cronometrados em alta velocidade. Os restantes 2.879km são correspondentes aos deslocamentos entre os pontos de largada e chegada em cada um dos doze dias. O roteiro da prova começa e termina Jedá. Reinaldo Varela e Maykel Justo também contam com apoio de Norton, Divino Fogão e Motul.



Rally Dakar, Etapa 01
03 de janeiro, Jedá a Bisha (Arábia Saudita)
622 km (277 de especiais)
1º) Reinaldo Varela (Brasil)/Maykel Justo (Brasil), Can-Am XRS Turbo
2º) Austin Jones (EUA)/Gustavo Gugelmin (Brasil), Can-Am XRS Turbo
3º) Francisco Lopez Contardo (Chile)/Juan Pablo Latrach Vinagre (Chile), Can-Am XRS Turbo
4º) Gerard Farres Guell (Espanha)/Armand Monleon (Espanha), Can-Am XRS Turbo
5º) Sergei Kariakin (Rússia)/Anton Vlasiuk (Rússia), Can-Am Maverick X3 Turbo
6º) José Antonio Hinojo Lopez (Espanha)/Diego Ortega Gil Espanha), Can-Am Maverick X3 Turbo
7º) Santiago Navarro (Espanha)/Marc Sola Terradellas (Espanha), Can-Am Maverick X3 Turbo
8º) Saleh Alsaif (Arábia Saudita)/Oriol Vidal Montijano (Espanha), Can-Am Maverick X3T3PRO Turbo

No Dia Mundial da Paz, Dakar reúne 49 países, alguns em conflito


Divididos entre pilotos, navegadores e o mecânico obrigatório que vai dentro do veículo na categoria Caminhão, somente entre os competidores o Rally Dakar 2021 reúne representantes de 49 países. O Brasil vai com força na categoria UTVs com a dupla Reinaldo Varela/Maykel Justo e o navegador Gustavo Gugelmin (que neste ano compete em parceria com o piloto americano Austin Jones), além das duplas Marcelo Gastaldi/Lourival Roldan e Guilherme Spinelli/Youssef Haddad que disputarão a categoria Carros.

Neste primeiro de janeiro, Dia Mundial da Paz, o Dakar é a maior concentração de nacionalidades em atividade no planeta. “É uma espécie de ONU do esporte”, pontua Varela, que tenta o bicampeonato do Dakar pela equipe Monster Energy Can-Am. Ele e Gugelmin venceram em 2018.

O Dakar também é um mosaico da atual fase do planeta. Entre os países presentes, alguns enfrentam situações de conflito em suas fronteiras, que já causaram milhares de mortes. É o caso de Rússia e Ucrânia, que vivem dias de tensão e desconfiança devido ao suposto apoio dos russos a grupos separatistas no país vizinho. Situação semelhante à dos gigantes China e Índia, que em 2020 viram incursões armadas em suas fronteiras e, nos últimos meses, assuntam o mundo ao posicionar mais de 100 mil soldados na região dos Himalaias.



Simbolismo
“Em contraposição a tudo isso, é de um simbolismo muito bonito o fato de essas bandeiras se cruzarem nas trilhas do Dakar, no melhor espírito de esportividade e até fraternidade – por que faz parte da ética do Dakar ajudar um competidor em sérios apuros. E isso não é raro”, diz o navegador Maykel Justo. “Mais do que isso, todos convivemos em paz e clima de colaboração nos acampamentos e refeitórios, até mesmo pela questão da covid”, completa o navegador da equipe Monster Energy Can-Am.

No lado econômico, chama a atenção a crescente participação de representantes da pujante economia chinesa e de países da península árabe impulsionados pelo petróleo. Nestes últimos, salta aos olhos a presença do príncipe catarense Nasser Al-Attiyah e do xeique emiradense Khalid Al Qassimi. Al-Attiyah, especialmente, é grande destaque por ser considerado um dos melhores pilotos do mundo.

Dez países latino-americanos estão representados: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Equador, México, Peru e Uruguai. Mas há nacionalidades com grande tradição nos rallies que surpreendem pela pequena representatividade, casos da Suécia e Noruega. 

Potência destacada das indústrias automobilística e motociclística, o Japão também está muito ausente. O país natal de líderes mundiais como Toyota, Honda, Mitsubishi, Kawasaki e Yamaha conta com apenas um piloto na categoria Carros (Akira Miura), além do trio Teruhito Sugawara/Hirokazy Somemiya/Yuji Mochizuki em um caminhão da nipônica Hino Motors.

Impacto da pandemia 
A crise sanitária mundial assustou os organizadores do Dakar, assim como o fez nos demais esportes. Chegou-se a prever uma fraquíssima participação e, como nas demais modalidades, houve o receio do cancelamento da prova. Mas o evento se recuperou. Com 321 veículos inscritos na edição 2021, o atual grid é apenas 6,1% menor que o da última prova (342 veículos) e 4,2% mais enxuto que a média dos últimos cinco anos da corrida (335 veículos). Em 1993, seu pior ano, o Dakar largou com 153 veículos.

“Um ponto importante para o bom grid do Dakar é que ele reúne as equipes e fábricas mais profissionais do rally mundial. E nesse nível o impacto econômico é menor”, opina Reinaldo Varela, único brasileiro contratado por uma equipe de fábrica que compete no Dakar, a canadense Can-Am, marca líder mundial entre os UTVs. “Outro fator é o momento: o mundo está lidando melhor com a pandemia e tem a perspectiva da chegada próxima da vacina. Psicologicamente, acho que isso ajudou bastante a realização da prova”, continua Varela.

Com largada no próximo domingo, dia três de janeiro e disputada inteiramente na Arábia Saudita, a 43ª edição do Dakar terá em seus 7.646km um total de 4.767km de especiais – trechos cronometrados em alta velocidade. Os restantes 2.879km são correspondentes aos deslocamentos entre os pontos de largada e chegada em cada um dos doze dias. O roteiro da prova começa e termina Jedá. Além de Monster Energy e Can-Am, Reinaldo Varela e Maykon Justo disputam a prova com apoio de Norton, Divino Fogão e Motul.

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