Coluna Fernando Calmon
Nº 1.290 — 27/2/2024
Mercedes admite, pela primeira vez,
que não alcançará meta de elétricos
“Por favor, levante
a mão se você previu isso.” Assim começa o texto da versão global do site Motor
1. O ar de surpresa tem razão de ser, pois a marca premium alemã se
classificava como uma das mais otimistas em uma rápida “virada de chave” ao
prever, em 2021, que a soma de híbridos plugáveis (PHEV, na sigla em inglês) e
elétricos (EV, em inglês) representariam 50% de suas vendas mundiais até 2030.
E foi mais longe:
até 2030 pretendia ser “totalmente elétrica, onde as condições de mercado
permitissem”. Apesar de ressalvar que isso estaria condicionado à aceitação dos
compradores, significava que nem mesmo o PHEV, cujo motor a combustão oferece
protagonismo claro sobre o elétrico em termos de alcance máximo na prática,
resistiria. No entanto, a empresa agora está bem mais cautelosa.
A soma dos
Mercedes-Benz PHEV (que não é elétrico e sim híbrido) com a de EV subiu de
16,2% em 2022 para 19,7% das vendas mundiais da marca em 2023. Porém, a luz
amarela acendeu em Stuttgart, sede da empresa, ao prever que os números para
2024 apontam para 19,1% (pouco inferior a 2023) ou até 21% (visão otimista).
Agora, o presidente
do Conselho de Administração e também executivo-chefe (CEO, em inglês) do
conglomerado germânico, o sueco Ola Kallenius, decidiu ser mais prudente. Para
ele, “a paridade de custos entre os carros apenas com motores a combustão e os
EV está a muitos anos de distância", em declaração à Bloomberg Television.
Não se comprometeu com metas nem datas, uma posição bem mais próxima à sua
principal rival no mundo, a BMW.
O assunto esteve
também em alta durante a abertura do Salão de Genebra (26/2 a 3/3/2024), evento
tradicional que está bem esvaziado, mais curto e com pouco expositores, a
maioria chineses. Luca de Meo, presidente do Grupo Renault e da Acea (Anfavea
europeia), esclareceu que “a indústria não vai contestar a regulamentação que
bane carros a combustão a partir de 2035”. No entanto, de Meo faz uma
importante observação: “O banimento é potencialmente viável, mas as condições
corretas para isso têm que ser alcançadas antes.”
Estas condições são
muito conhecidas e sempre citadas: continuidade dos subsídios aos compradores e
expansão das redes de recarga. A guerra Rússia-Ucrânia vem abalando as finanças
dos países europeus que têm de investir em defesa, dificultando bastante os
subsídios.
De Meo chegou a
sugerir que as marcas europeias se associassem inspiradas na Airbus, fabricante
de aviões, como forma de reduzir custos. Em seguida anunciou as tratativas – já
falando como Renault – de uma parceria com a VW para produção de carros
elétricos pequenos. Enfrentar concorrência chinesa é um grande problema, pois
não há transparência sobre subsídios ocultos ou indiretos.
Por aqui, a Audi
lançou um novo aplicativo que integra 240 pontos de recarga próprios e de
parceiros pelo País, sem custos para seus donos. O app gratuito pode ser usado
por qualquer interessado. Os não proprietários da marca pagarão R$ 3,50 em
média por kW.
Dolphin Mini estreia com valor acima do esperado
Depois da trajetória
do Dolphin que já oferece um modelo elétrico e completo por preço bastante
competitivo, esperava-se o mesmo do Dolphin Mini, cujo nome original Seagull
não soa bem em português. Na realidade há semelhanças, principalmente internas
como a tela multimídia rotacionável e o pouco prático seletor de marchas no
centro do painel.
Não dá para afirmar
que o novo compacto tem preço pouco atraente. Porém, ficou quase 30% acima dos
especulados R$ 90.000. A BYD anunciou a tabela inicial de R$ 115.800. Há uma
promoção com desconto de R$ 10.000 para os primeiros 6.600 compradores (só até
29/2) e um “brinde” em forma de carregador de parede que custa R$ 7.000. Estas
primeiras unidades são ano-modelo 2023/2024. O diretor comercial da marca
chinesa Henrique Antunes afirmou que precisou recolher os 10% de Imposto de
Importação para elétricos, em vigor desde de 1º de janeiro último.
Seu estilo é até
mais atraente que o Dolphin, porém com interior bem menos espaçoso e apenas
quatro lugares. Distância entre eixos, 2.500 mm; comprimento, 3.780 mm;
largura, 1.715 mm e altura, 1.580 mm. Na prática há uma boa posição de guiar e
bom espaço para dois passageiros no banco de trás. O porta-malas é um ponto
fraco: apenas 230 litros.
Esqueça a agilidade
de um típico automóvel elétrico. Com apenas 75 cv e 14 kgf·m não se pode esperar
desempenho superior a qualquer motor a combustão de 1 litro de outros
compactos. Massa relativamente elevada de 1.239 kg limita a aceleração de 0 a
100 km/h a 14,9 s e velocidade máxima a 130 km/h. Alcance médio de 280 km
(Inmetro).
Tiggo 7 Sport tem bom preço e simplificações
Caoa Chery
desenvolveu uma solução para enfrentar o concorrido segmento dos SUVs médios. O
Tiggo 7 Sport foi lançado ainda em fevereiro como ano-modelo 2025 e por preço
inicial bastante atraente: R$ 134.990. Porém só chegará às concessionárias na
segunda quinzena de março. A estratégia centrou-se em manter o visual igual ao
Tiggo 7 Hybrid, incluindo a grade do radiador. Esta série “7” lançada em 2019
acumula 24.000 unidades vendidas.
Item externo mais
evidente: eliminação do teto solar panorâmico. Mas na mecânica também houve
simplificações. A mais sentida foi a substituição do motor 1,6 L turbo gasolina
(187 cv e 28 kgf·m) e da caixa automatizada de duas embreagens pelo motor 1,5 L
flex turbo (150 cv/E; 147 cv/G e 21,4 kgf·m) compartilhado com o Tiggo 5X e
câmbio automático CVT de 9 marchas. Queda de desempenho é percebível.
Todo o conjunto
ficou 20 kg mais leve atribuídos ao teto de aço (no lugar do de vidro) e outras
mudanças pontuais: supressão de motorização da tampa traseira e da caixa
organizadora no fundo do porta-malas, o que ampliou seu volume útil para 525
litros (padrão VDA). Visualmente o interior ficou igual. No entanto, para
oferecer o preço acima saíram três assistentes ao motorista e a câmera 360°.
A Caoa estuda
projeto de um modelo próprio, passo bastante ousado. Já o Tiggo 8 Pro PHEV será
produzido no próximo semestre, em Anápolis (GO).
Mais espaço e desempenho no CR-V Advanced Hybrid
O SUV médio da Honda
(2.700 mm de entre-eixos), CR-V Advanced Hybrid importado da Tailândia, está na
sexta geração desde 1995. Dispõe de tração 4x4 permanente, o que ajuda a
explicar o preço alto agravado pelo recente Imposto de Importação de 12%: R$
352.900.
Ao motor a gasolina
de 2 litros, aspiração natural, de 147 cv/19,4 kgf·m junta-se o elétrico de 184
cv e 34,2 kgf·m. Potência total combinada é de 206 cv. Torque combinado não é
tecnicamente possível de medir. O câmbio automático e-CVT agora tem duas
marchas. O sistema trabalha em perfeita harmonia e nível de ruído bastante
baixo, numa primeira e rápida avaliação.
Espaço interno muito
bom para cinco ocupantes e quem viaja atrás conta com assoalho plano e encosto
regulável em oito posições. Ótimo porta-malas de 581 litros. A bordo há quatro
entradas para carregar celular e mais sistema por indução de alto desempenho.
Mesmo com rodas de 19 pol. de diâmetro o conforto de marcha e estabilidade
estão bem adequados às condições brasileiras de rodagem.
Destaque especial para
o silêncio a bordo graças ao para-brisa acústico, aos vidros de dupla camada e
ao sistema de cancelamento ativo de ruídos.