Coluna Fernando Calmon
Nº 1.299 — 2/5/2024
Ao completar 25 anos, coluna
vê passado e futuro da indústria
Um quarto de século
sem falhar nenhuma semana. Em primeiro de maio de 1999 esta coluna estreou em 11
jornais. Hoje o número de publicações na internet domina o cenário editorial:
72 sites/blogs e 8 impressos. O ano de 1999 marcou referências históricas importantes.
A exemplo do Novo Regime Automotivo (NRA). Criado em 1996, teve seus efeitos
benéficos concluídos em 1999.
Desde o início dos
anos 1950 já havia fabricantes instalados no Brasil, mas se limitavam a montar
conjuntos mecânicos importados. Somente em 1956 a Romi e a Vemag começaram a
produzir com baixo conteúdo local, na época chamado de índice de nacionalização
e, hoje, índice de localização.
Foi um começo
difícil e crises tiveram que ser superadas. O Brasil voltou a autorizar a
importação de veículos em 1990 (proibidas desde 1976), mas faltava uma visão de
futuro. Houve uma demora até o governo sentir que devia atrair mais fabricantes.
O NRA alcançou seus
objetivos: a produção de veículos aumentou de 1,6 milhão em 1997 para
2,4 milhões em 2000. As exportações cresceram bastante, de US$ 3,5 bilhões em
1997 para US$ 8,5 bilhões em 2000. Instalaram fábricas neste período Honda,
Renault, Mitsubishi (Souza Ramos), Toyota, Chrysler, Mercedes-Benz e VW/Audi.
O ano de 1999 foi movimentado por sete lançamentos no
Brasil: A3, Brava, F250, Astra sedã, Gol III, Parati III e Golf IV (foto).
No exterior dois fatos marcaram o ano de 1999: Ford comprou
a Volvo e Daimler-Benz que havia anunciado uma “fusão de iguais” com a Chrysler
no ano anterior, deixou às claras em 1999 que na realidade havia adquirido a
marca americana. As culturas das duas empresas eram muito diferentes. O
casamento não deu certo e em 2007 a marca alemã “empurrou” a Chrysler para o
desconhecido grupo americano Cerberus.
Aqui o Governo Federal criou o Inovar-Auto (2013 a 2017),
seguido pelo Rota 2030 (2018 a 2023) e agora o Mover que prevê novas
exigências. No exterior, a ascensão da China e seus carros elétricos marcarão o
ritmo dos próximos anos, porém fabricantes de outros países ainda terão tempo
para reagir.
Neste mês dos 25 anos da coluna, um fato positivo e outro
negativo. Finalmente, tramita em Brasília na Câmara dos Deputados o projeto de lei
de Darci de Matos (PSD-SC) que deve pôr fim a um dos maiores absurdos. Multas
não incluídas no Renavam na data da transferência deverão ser cobradas do
proprietário anterior. Hoje, o novo dono é obrigado a pagar pelo que não
cometeu, simplesmente porque o órgão de trânsito atrasou a atualização das
multas.
Um ponto negativo da regulamentação da reforma tributária é o
enquadramento sugerido dos automóveis no novo imposto seletivo. Já existe obrigação
de reduzir emissões ou eliminá-las no futuro, mas o Governo Federal quer manter
automóvel no Brasil como o mais taxado do mundo.
Salão de Pequim mostrou força das marcas chinesas
Se já se torna difícil concorrer com a grande leva de
modelos chineses que não param de ser lançados, imagine em um Salão na capital
do país. Claro que muitas das novidades visam o próprio mercado interno de 26
milhões de unidades por ano (10 vezes maior que o brasileiro). Toda essa
volúpia de lançamentos, no entanto, esconde um risco que os fabricantes locais não
gostam de comentar. A capacidade instalada é aproximadamente o dobro da
demanda. Isso obriga a oferecer descontos crescentes e a exportar a qualquer
custo, em grande parte coberto por subsídios do governo pouco transparentes
para dizer o mínimo.
Há pelo menos 40 novidades na exposição iniciada em 25 de
abril até 4 de maio. Várias marcas e modelos são desconhecidos no Ocidente a
exemplo de Arcfox Alfa S5, Fangchengbao Speedster Super 9, Lynk&Co 07, Mengshi
M-Hunter, Qiyuan E07, Hongqi HQ9, Hyper
SS9, Denza Z9 GT, Zeekr Mix, Avatr 1, Haval Raptor, Geely Galaxy e até o
exótico carro conceitual voador Xpeng, entre outros.
Um dos que mais chamam atenção é o Xiaomi SU7, primeiro
produto da fabricante chinesa de celulares, smart TVs e tablets. Sem nenhuma
experiência em produzir automóveis apelou para a BAIC que, além de produzir os
Mercedes-Benz na China, tem seus próprios modelos.
Fabricantes ocidentais tiveram presença discreta. Honda Ye GT, P7 e S7 (os dois últimos crossovers); Lamborghini Urus SE
(híbrido plugável); BMW Série 4; Mazda EZ6; Mercedes-AMG GT 63 S E Performance
e Classe G elétrico; MINI Aceman; Toyota bZ3X; VW ID Code.
As duas marcas que vão produzir aqui, primeiro GWM e depois BYD,
também sobressaíram. O SUV híbrido Tank 400 (importado inicialmente), Haval H6
reestilizado (primeiro produto de Iracemápolis (SP) e depois a picape Poer) e Haval
H4 são os destaques da GWM no Salão.
A BYD expôs o carro-conceito Ocean M visando o mercado
europeu, a picape média Shark e o sedã médio-compacto King. O plano de negócios
da segunda marca chinesa prevê começar a produção no início de 2025 em Camaçari
(BA). Estão confirmados os hatches Dolphin e Dolphin Mini, além do SUV Song
Plus, a Shark e provavelmente o SUV Yuan Pro.
Stellantis terá um total de 10 lançamentos este ano
Emanuelle Capellano, presidente da Stellantis no Brasil,
detalhou a primeira parte do plano da empresa que tem no seu portfólio de
produtos fabricados aqui Fiat, Citroën, Jeep, Peugeot e Ram. Do total de 30
bilhões de 2025 a 2030, R$ 13 bilhões acabam de ser reservados para a unidade
fabril mais nova e moderna, em Goiana (PE), inaugurada em 2015. As fábricas de
Betim (MG) e Porto Real (RJ) também serão contempladas com aquele amplo
investimento.
O conglomerado tem várias opções, incluindo o total de 40
lançamentos neste e nos próximos cinco anos. Todas as soluções técnicas de trem
de força estão contempladas desde os motores flex atuais, passando por híbridos
básicos, plenos e plugáveis até chegar ao 100% elétrico.
Para o executivo italiano o investimento vai focar no que o
mercado brasileiro exigir. “Não adianta oferecer em curto prazo um carro
elétrico, se não há poder aquisitivo e nem uma rede de infraestrutura de
recarga que facilite as viagens por estradas. Um modelo 100% elétrico hoje
custaria R$ 55.000 a mais que um flex convencional. Se for um híbrido plugável,
a diferença é de R$ 25.000”, ponderou.
Para este ano estão confirmados 10 lançamentos. Três já
chegaram: a inédita Fiat Titano, mais os modelos 2025 da Jeep, Compass e Commander.
Fotos oficiais foram reveladas do inédito SUV cupê Citroën Basalt (está próximo
de apresentação pública) e outro SUV, Peugeot 2008, virá da Argentina em breve.
Do país vizinho também chegará a versão 2025 do hatch compacto 208, até meados deste
ano. O site Autos Segredos aponta que o hatch C3 contará com a nova versão You
Turbo 2025. Fabricado em Porto Real, receberá (finalmente) o motor produzido em
Betim, Fiat Turbo 200, 130 cv (E)/125 cv (G) e 20,4 kgf·m (E)/(G).
Dos três lançamentos que faltam espera-se pela estreia do
primeiro híbrido básico T 270 Bio-Hybrid: deve vir no Compass, no final do ano.
A picape Ram Rampage Big Horn e o microcarro elétrico francês Citroën Ami (só
circula em espaços fechados) foram citados, respectivamente, pelos sites Autos
Segredos e Guia do Carro.
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