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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

TER AUTOMÓVEL JÁ FOI MUITO MAIS DO QUE ATUALMENTE SÍMBOLO DE STATUS - EMBORA AINDA TENHA MUITO ESSE SIGNIFICADO EM ALGUMAS REGIÕES DO BRASIL - E EM ÁREAS MAIS DESENVOLVIDAS PASSOU A SER PARA A MAIORIA UM SIMPLES MEIO DE DESLOCAMENTO. MUITA GENTE AINDA TEM CARRO DEVIDO AO SISTEMA DE TRANSPORTES SER RUIM. PORÉM, NOS ÚLTIMOS ANOS, NO RIO DE JANEIRO, É SIGNIFICATIVA A QUANTIDADE DE PESSOAS QUE OPTOU POR VENDER O CARRO, ADERINDO À BICICLETA, METRÔ, TÁXI. MEU FILHO E DIVERSOS AMIGOS DELE NÃO TÊM SEQUER CARTEIRA DE DIRIGIR



Alta Roda 

Nº 863 — 31/12/15

Fernando Calmon



O AUTOMÓVEL E OS JOVENS

De uns tempos para cá, pesquisas apontam desinteresse dos jovens em dirigir automóveis ou até se candidatar a uma carteira de motorista. 

Essa tendência aparece em países centrais de alta taxa de motorização e se atribui, entre outras razões, ao crescente grau de conectividade da internet em dispositivos portáteis, à menor necessidade de deslocamentos e, de certa forma, a meios de transporte coletivos e alternativos, incluindo aplicativos para táxis e motoristas particulares do Uber.

Quem produz autopeças, fabrica veículos e os comercializa estão atentos sobre o impacto desses novos consumidores. 


Já se prevê salões de concessionárias diminuindo de área e até com apenas um ou dois modelos em exposição – o mais vendido e/ou o recém-lançado.

No Brasil, esse caminho poderá também ser trilhado, só não se sabe em que ritmo. Para prospectar intenções, a pesquisa Jovem x Automóvel conduzida por Lupércio Thomaz, jornalista e diretor da rede social Campus Universitário, entrevistou 404 estudantes (51%, masculino; 48%, feminino) entre 18 e 25 anos, de São Paulo e Ribeirão Preto. 

Uma das revelações foi de que 59% dos entrevistados ainda não possuem carteira de habilitação, mas entre esses 95% pretendem fazê-lo, demonstração de sensível diferença em relação às enquetes no exterior.


Curiosamente, o carro significa expressão de liberdade para 18% desses universitários, enquanto 51% o consideram apenas meio de transporte. 

Para as gerações do Século XX a resposta à mesma pergunta provavelmente teria proporção invertida.

Outros dados interessantes da pesquisa:
69% declaram que utilizam pouco ou raramente carros em seus deslocamentos. 

Ônibus (46%) e metrô (31%) são as alternativas mais citadas. Motocicleta, 3% e bicicleta, 5%. 

60% dão carona a quem estuda ou trabalha junto. 

90% usariam menos o automóvel, se o transporte público fosse melhor. 

77% aceitariam compartilhar um veículo, a exemplo de bicicletas. 

73% não estariam dispostos a se endividar para ter um carro. 

Se tivessem R$ 50.000, apenas 13% comprariam um automóvel. 

Outras respostas: intercâmbio cultural (18%), viagem de estudo (15%), pós-graduação (12%), cursos complementares (11%), outra graduação (8%), turismo (7%) e outros projetos (16%). 

Entre os que indicaram a preferência pelo carro, 53% são homens e 47% mulheres.

Das conclusões que se podem tirar do estudo, há sentimento de diminuição de prioridade do automóvel na vida dos jovens. 

Vontade de compartilhar e não se endividar podem ser sinais de alerta tanto para fabricantes quanto concessionárias sobre o futuro do negócio. 

Mais negativo, porém, o fato de apenas 11% considerarem o carro como objeto de desejo, enquanto 7% o apontam como fonte de poluição/barulho, 6%, vilão do meio ambiente; 5%, estorvo para o trânsito; 2%, gerador de acidentes.

Por outro lado, objeto de desejo e expressão de liberdade somam 29%, contra 20% de posições críticas. 

Também é necessário frisar que a pesquisa foi conduzida em duas das maiores cidades do estado mais desenvolvido do País. 

Em regiões com taxa de motorização menor, o resultado certamente seria outro. Para sorte do automóvel.
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fernando@calmon.jor.br e www.facebook.com/fernando.calmon2


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