Coluna Fernando Calmon
Nº 1.342 — 14/3/2025
Estratégia de
provocação
parece pouco
inteligente
Pela segunda vez, a BYD fez questão de mostrar seu magnífico
navio ro-ro (específico para transporte de veículos que entram e saem rodando),
de última geração, que nada mais é que um “presente” do governo da China,
desembarcando 5.524 carros desta vez no porto de Aracruz (ES). Ao mesmo tempo
em que procura demonstrar uma posição de força junto ao mercado, fica claro que
nenhum outro importador em qualquer época pôde ou pode se dar a essa ostentação.
Como a empresa vem formando estoques enormes a fim de driblar
o aumento gradativo do imposto de importação sobre elétricos e híbridos, está
sendo obrigada a dar descontos generosos para continuar sua escalada de vendas.
Quem comprou seus carros antes, deve estar pouco feliz com o futuro valor de
revenda. Seus planos de produção em Camaçari (BA) continuam envoltos em
mistério e, tudo indica, que a etapa de simples SKD (agregação de conjuntos
semidesmontados) de veículos importados vindos praticamente prontos da China
será longa ou, no mínimo, pouco animadora.
Sinal disso, no mesmo tom da Anfavea, foi a crítica do
Sindipeças que reúne produtores de componentes, em grande parte de capital
nacional, até agora nem ao menos sondados sobre possíveis contratos de
fornecimento. O presidente do sindicato, Cláudio Sahad, disse que “países com
indústria automobilística instalada não praticam imposto tão baixo para
importações de elétricos e híbridos, tornando o mercado brasileiro um alvo
fácil”.
GWM, segunda marca chinesa em vendas aqui, que adquiriu a
fábrica da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), evidencia transparência.
Começará a operação local no próximo trimestre apenas comprando de fornecedores
locais rodas, pneus, bancos e vidros (para-brisa continuará importado, a
exemplo do restante do carro).
BYD serve à estratégia de “campeã nacional” do governo
central chinês e isso fica longe de surpreender. De fato, fora de tom é rufar
tambores de novo para o desembarque numeroso de veículos importados, quando em
contraste exportar se enquadra em algo mais digno de atenção. Faltou
sensibilidade para compreender coisa tão simples. Soa como provocação e iniciativa
nada a agregar.
Bom bimestre não muda projeções 2025 da Fenabrave
Os dois primeiros meses do ano somaram 332,5 mil unidades
vendidas entre automóveis e comerciais leves e pesados, crescimento de 8% sobre
o mesmo período de 2024. É um bom resultado, contudo influenciado pelo número
de dias úteis de fevereiro que este ano não teve Carnaval, embora as duas
últimas quinta e sexta-feira tenham sido às vésperas da longa festa nacional, responsável
por afastar compradores das concessionárias.
De acordo com Arcelio dos Santos Jr., presidente da
Fenabrave, os números são animadores — melhor primeiro bimestre desde 2014, se
somadas também as motocicletas —, entretanto ainda cedo para pensar em revisão.
A federação espera em 2025 crescimento de 5% sobre o ano passado para
automóveis e veículos comerciais. Anfavea projeta praticamente o mesmo
resultado: aumento de vendas de 6%.
Automóveis cresceram 9% em fevereiro sobre janeiro, acima
dos comerciais leves (picapes e furgões, basicamente), cujo resultado foi de
7%. Permanece também o avanço nas vendas de modelos híbridos que progrediram
69% em relação ao primeiro bimestre de 2024, sem esquecer de que percentuais
elevados refletem uma base comparativa muito baixa. Quanto aos 100% elétricos,
houve quase estagnação — apenas mais 2% sobre o mesmo período do ano passado.
Reflete exatamente o cenário externo atual de acomodação ou recuo da demanda.
A observar os próximos meses e sentir quanto inflação e
juros, ambos ainda em ascensão, poderão mudar o humor e em especial pesar no bolso
daqueles que ambicionam comprar ou trocar de carro.
Segurança impõe volta aos botões físicos tradicionais
As telas de toque pareciam uma solução elegante e atraente,
sem volta aos tradicionais botões que nasceram juntamente com os automóveis há
140 anos. A influência de celulares e tabletes chegou de forma avassaladora e
exagerada. Entretanto, logo ficaram claras as sérias limitações ao desviar o
olhar e/ou a atenção dos motoristas. Há de se reconhecer que também o fator
custo, em geral mais baixo, pode ter levado aos exageros observados quase como
regra.
Isso começou a ser mais bem pesquisado. A entidade Euro NCAP
que executa testes de colisão desde 1997 e classificação por estrelas, ampliou
os estudos para outros aspectos da segurança veicular. E vai limitar a quatro
estrelas, do máximo de cinco, os modelos que por critérios objetivos exagerem
nos comandos por toque e não apenas em telas.
Renault foi uma das primeiras, no final de 2024, a
reconhecer que certas funções não podem depender de tato ou de desvio do olhar.
Nos próximos lançamentos vai mudar. Por outro lado, a VW acaba de anunciar uma
revisão total dos conceitos atuais em vários de seus modelos que incorporam
controles deslizantes e comandos táteis. O chefe de projetos, Andreas Mindt,
foi taxativo à Autocar inglesa:
“Nunca mais cometeremos esse erro. Volume de multimídia, pisca-alerta
e controles de ar-condicionado central e laterais terão apenas botões. No
volante e na coluna de direção só botões e alavancas. Acabará a adivinhação. Honestamente,
carro não é telefone”, reconheceu.
Taycan Turbo GT tem aceleração quase de F-1
Com a gama 2025 de 10 opções, inclusive de carrocerias, o
primeiro carro elétrico da Porsche lançado em 2019 demonstra como um mero sedã
de quatro portas pode surpreender. Aceleração de 0 a 100 km/h (com controle de
largada) começa em 4,8 s (408 cv) e vai à estonteante versão de topo (e pacote
Weissach) que entrega até 1.034 cv, 126 kgf·m e acelera de 0 a 100 km/h em 2,2
s. Em certas condições este tempo pode baixar de 2 s, o que ocorreu no teste da
revista americana Car and Driver.
Um dos destaques, o novo motor elétrico traseiro entrega 109
cv a mais que a geração anterior e ainda é 10,4 kg mais leve. No pacote Sport
Chrono, ao toque de um botão a potência aumenta até 95 cv durante 10 s (como
referência um ótimo motor a combustão de 1 litro produz 80 cv). O desempenho
máximo é garantido pelo pacote Weissach. Este inclui a redução da massa total
em 75 kg pela utilização de compósito de fibra de carbono e substituição do
banco traseiro por uma tampa bem desenhada, o que melhora a relação massa-potência.
No modelo de primeira geração, o tempo de carregamento de 10
a 80%, a 15° C, era de 37 minutos. Sob as mesmas condições, o Taycan atualizado
leva apenas 18 minutos, apesar de sua maior capacidade de bateria (passou de 93
para 105 kW·h), um grande avanço. Porém, é bom lembrar, que a recarga até 100%
pode levar o dobro do tempo ou mais em função de temperaturas muito altas ou
muito baixas. Sem esquecer: só em raras estações de recarga DC, de 800 V, muito
caras.
Também recebeu retoques de estilo nos para-lamas dianteiros,
faróis de matriz HD, lanternas e novas rodas em todas as versões. Segue a
filosofia da marca alemã de evoluir continuamente ao longo das gerações, sem
romper com aspecto geral do modelo cujo exemplo (incomparável) é o 911.
Uma experiência impressionante: a volta completa no
autódromo Velocittà, em Mogi Guaçu (SP). Além da nova suspensão pneumática
evoluída que controla rolagem da carroceria de modo surpreendente, a capacidade
de acelerar é quase indescritível em especial nas saídas de curvas e na reta
principal relativamente curta, porém em descida. A potência dos freios faz até
“esquecer” dos 2.305 kg de massa.
Em Interlagos, o piloto Felipe Nasr, com o Turbo GT, conseguiu
baixar agora em 7,7 s o tempo de volta anterior (2022).
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