Me surpreendi ao receber seguidas informações recentes da tendência de queda do interesse dos jovens em tirar a CNH, documento que lhes proporciona independência e permite desfrutar dos prazeres que o automóvel proporciona.
Sinto-me até constrangido por ter dois netos que depois de possuírem automóveis optaram por vendê-los e fazer uso do dinheiro em investimento, cursos de aperfeiçoamento, viagens e até entretenimentos que lhes ampliam o conhecimento.
E quando pergunto a eles quando chegam à minha casa por intermédio de carro de aplicativo, explicam que existem serviços de transporte pessoal, como Uber, 99 ou outros, que possibilita tempo livre para conversar com um amigo, ler algo interessante, trabalhar, estudar ou, simplesmente, consultar a internet para algum esclarecimento.
Esse relato é uma espécie de confirmação de que está acabando a paixão por dirigir?
Os jovens de hoje já não têm o desejo e como um de seus objetivos principais tirar carta e comprar o primeiro carro. Lembro de minha juventude em que sonhava tirar a CNH. Que alegria e satisfação quando o instrutor da autoescola me fez a entrega de minha primeira carteira de habilitação.
Chego à conclusão de que estou velho e obsoleto. E, pela reação de meus netos, sou obrigado a aceitar que o gosto e a paixão dos jovens pelo carro continuam a cair.
E pensar que, há alguns anos, 9 entre 10 adolescentes não viam a hora de tirar a carteira de habilitação e poder dirigir.
Fico tentando entender quais os motivos que, ao longo dos últimos anos, vêm desestimulando os jovens a dirigir. Afinal, independentemente de dispor de aplicativos de transporte, dirigir foi sempre sinônimo de prazer, independência e conquista.
Fiquei chateado e saudoso ao ler que a procura, em São Paulo, para tirar a CNH caiu 10,5% entre jovens em seis anos. Mas, ainda tenho esperança de que esse comportamento seja apenas passageiro porque a mesma pesquisa indicou que, fora da capital, a procura pela CNH aumentou 17%.
Segundo as notícias, o isolamento social dificultou a busca neste ano e meio, mas ainda assim o desejo de dirigir não parece ser mais o sonho de jovens que completam 18 anos.
Nos diálogos com meus netos sinto segurança no que justificam e nos exemplos que me transmitem que os levaram a vender seus automóveis. Com o uso de serviço dos aplicativos de transporte, livram-se de congestionamentos, pelo uso de metrô ou outro meio de transporte público, dos custos elevados de combustível, estacionamentos, licenciamento, seguro, manutenção, risco de furtos e outros motivos.
Lembro muito bem do tempo em que, como jornalista esportivo, tive a alegria de divulgar as conquistas dos pilotos brasileiros em pistas internacionais e ter sido o profissional que mais de perto acompanhou uma geração de grandes pilotos, como Emerson e Wilsinho Fittipaldi, José Carlos Pace, Nelson Piquet, Ayrton Senna, Antonio Carlos Avallone e vários outros que encantaram o público mundial, com a conquista de vários títulos.
Sem esquecer de Chico Serra, Alex Dias Ribeiro, Hélio Castro Neves, Tony Kanaan, Rubens Barrichello, Gil de Ferran, Roberto Pupo Moreno, Felipe Massa e muitos outros mais jovens e recentes que se dedicam a encantar os fãs de corridas.
Foi o tempo de uma geração de ouro, que até motivou uma pergunta ao ex-campeão mundial dos anos 70 Jackie Stewart sobre aquele grupo de grandes pilotos brasileiros.
Para encurtar o questionamento, Stewart, no auge de sua carreira, recorreu à brincadeira, respondendo que deveria ser a água que os brasileiros bebiam.
Por incrível que pareça, na contramão dessa tendência e com o objetivo de incentivar o surgimento de novos talentos nas pistas, há poucos meses a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) passou a permitir que pilotos com 14 anos completos possam treinar e competir em categorias regionais e nacionais de monopostos. A medida é importante para reduzir as barreiras de desenvolvimento dos jovens competidores e promover o crescimento das categorias de fórmula no Brasil.
O presidente da CBA, Giovanni Guerra, comemorou a redução da "maioridade" para competir em monopostos, pois até recentemente, pilotos só poderiam utilizar esses carros no Brasil a partir dos 16 anos, o que levava muitos desses jovens a deixar o Brasil para competir no exterior.
Américo Teixeira Júnior, assessor de Imprensa da CBA, ao ser consultado, informou que a decisão da entidade teve o objetivo de modernizar-se com o automobilismo internacional, que criou a Fórmula 4 para reduzir o tempo de experiência dos jovens pilotos para chegarem às principais categorias, como acontece na Europa e nos Estados Unidos.
Informou, também que, no final do ano, a CBA promoverá o Campeonato Mundial de Kart na moderna pista de Birigui, ocasião em que os carros da Fórmula 4 serão oficialmente apresentados.
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