Quantas histórias a arquitetura de uma cidade é capaz de contar? As edificações de Belo Horizonte não só representam uma variedade de estilos e influências culturais, como revelam figuras marcantes para a preservação de sua memória e patrimônio.
A Casa Fiat de Cultura dá destaque ao arquiteto Edgard Nascentes Coelho (1853-1917), cujas obras ainda hoje marcam a paisagem da cidade, como a Igreja de São José, o Coreto da Praça da Liberdade e o prédio do Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG), que este ano recebe o Modernos Eternos BH - 2024.
Integrando este evento de arquitetura, a exposição “BH eclética: a arquitetura de Edgard Nascentes Coelho na Casa Fiat de Cultura” proporciona, por meio de fotografias, documentos, desenhos arquitetônicos e cartões postais originais, uma visão do estilo eclético dos projetos do arquiteto. O acervo de objetos e do mobiliário da época do Instituto de Educação (IEMG) ativa o imaginário do público, ampliando a percepção desse período para além da arquitetura. A mostra fica em cartaz até 18 de agosto de 2024. Toda programação da Casa Fiat de Cultura é gratuita.
Mais de 50 peças em exposição recontam o modo de viver do início do século XX e evocam memórias afetivas daqueles que passaram pelo Instituto de Educação.
Segundo o presidente da Casa Fiat de Cultura, Massimo Cavallo, a exposição apresenta referências de diferentes tempos do IEMG, com peças que fizeram parte do universo acadêmico de várias gerações, em mais de 100 anos de história.
“A mostra revela a importância do patrimônio cultural e artístico e apresenta aspectos marcantes da identidade da capital, estimulando novas percepções sobre a história com um olhar para o futuro.”
Dentre as peças em exposição, os postais – um meio de comunicação tão importante naquela época – reforçam a importância da arquitetura ao retratar os edifícios que faziam parte da paisagem da cidade. Um quadro de giz e outros objetos pedagógicos do final do século XIX e início do século XX dão uma visão de como eram os materiais escolares nesse período.
Além disso, os móveis de época permitem a compreensão não só da arquitetura, mas dos interiores dos ambientes na época da construção da cidade. Também compõe o ambiente um trecho original do discurso do jornalista e poeta Olavo Bilac (1865-1918) na Escola Normal, escrito à mão em 1916.
Na mostra, a Casa Fiat de Cultura ainda relembra Jeanne Milde (1900-1997), escultora belga naturalizada brasileira que, além de artista, foi pioneira na educação para as artes em Minas. Formada pela Real Academia de Belas Artes de Bruxelas, ela aceitou o convite para compor a Missão Pedagógica Europeia para uma reforma educacional em Belo Horizonte.
Na então Escola Normal Modelo – hoje Instituto de Educação – era responsável pelas disciplinas de modelagem e pintura. Milde é considerada a primeira presença feminina, artista e profissional, no universo das artes na capital mineira, abrindo espaço e oportunidade para outras mulheres nos anos a seguir.
Atualmente, o hall de entrada do IEMG possui dois painéis em baixo-relevo esculpidos por ela, um representando o ensino artístico e o outro o ensino das ciências.
A exposição conta com três esculturas de Milde, do acervo do Museu Mineiro: “As primeiras palavras” (1946), voltada para a temática da educação ao retratar uma mulher e uma criança juntas, “Retrato de Vera” (1960), em que explora a mulher e o feminino, e a emblemática “As adolescentes" (1937), produzida pela artista logo ao chegar em BH, que apesar de trazer uma escultura clássica, é uma obra muito importante do Modernismo.
A exposição “BH eclética: a arquitetura de Edgard Nascentes Coelho na Casa Fiat de Cultura” é uma realização da Casa Fiat de Cultura e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta com o patrocínio da Fiat, copatrocínio da Stellantis Financiamento, do Banco Stellantis, do Banco Safra, da Usiminas e da Sada. O evento é uma parceria com a Modernos Eternos, tem apoio institucional do Circuito Liberdade, além do apoio do Governo de Minas e do Programa Amigos da Casa.
Visita mediada
No dia 25 de junho, às 19h30, a exposição “BH eclética: a arquitetura de Edgard Nascentes Coelho na Casa Fiat de Cultura” será apresentada pelo curador e arquiteto especializado em design de interiores, Will Lobato. Durante a visita mediada, ele irá mostrar os conceitos e as escolhas feitas para montar esse ambiente que traz referências dos primeiros anos de vida da capital mineira.
Uma oportunidade de conhecer os detalhes e as descobertas deste projeto, despertando no público um olhar para o passado e para o legado de pessoas que contribuíram com a vida da cidade que marca várias gerações.
Edgard Nascentes Coelho
Edgard Nascentes Coelho (1853-1917) nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se para Belo Horizonte em 1894 para integrar a seção de Arquitetura da Comissão Construtora da Nova Capital.
Seu desafio era não apenas a substituição da antiga capital Ouro Preto, mas a construção de uma cidade que simbolizasse o progresso e a modernidade. Para o curador Will Lobato, a capital mineira não seria a mesma que conhecemos hoje sem Edgard.
“O arquiteto desempenhou um papel importante na implementação do estilo eclético de arquitetura na cidade, sinalizando o início de uma longa tradição de modernização, intercalada pelos traços da tradição e do passado.”
Além do Instituto de Educação (IEMG), o arquiteto é autor do projeto do Coreto da Praça da Liberdade (1904), o único remanescente do primeiro traçado da praça radicalmente remodelado após a visita dos reis da Bélgica em 1920.
Também são suas obras o Palacete do Secretário de Finanças (1897), o Palacete rua dos Timbiras (1897), o Palacete Grupo Escolar Affonso Penna (1897), o Primeiro Corpo da Polícia Militar (1901), a Igreja de São José (1901), a Igreja do Sagrado Coração de Jesus (1901), a Residência Dr. José Oswaldo Araújo (1903) e o Palacete Vivacqua (1909).
Outras obras de Edgar são relembradas apenas pelas fotografias e documentos, como é o caso da antiga Estação da Estrada de Ferro Central (1896), a antiga Faculdade de Direito (1901) e o Theatro Municipal (1908).
Os edifícios projetados por Edgard, com suas fachadas ornamentadas e detalhes elaborados, traziam muitas características arquitetônicas europeias. “Edgard se valeu amplamente do ecletismo como meio de trazer para Belo Horizonte uma arquitetura que pudesse dialogar com as tendências internacionais”, explica Will Lobato.
A fusão de elementos neoclássicos, barrocos, art nouveau e até mesmo art déco resultaram em uma paisagem urbana diversificada, em que cada edificação conta uma história sobre a época em que foi construído e sobre as aspirações da sociedade daquele período para seu futuro.
BH eclética
O ecletismo teve grande destaque no final do século XIX e início do século XX. E esse estilo impactou diretamente a construção de Belo Horizonte, marcando uma fase de busca pela modernidade e pelo progresso. O estilo eclético não apenas conferiu uma estética distintiva à cidade, mas expressou sua identidade em constante evolução.
A arquitetura eclética é um patrimônio e um testemunho da riqueza cultural e histórica da capital mineira, refletindo a evolução arquitetônica da cidade.
Instituto de Educação de Minas Gerais
No mesmo ano da inauguração da nova capital, em 1897, o prédio situado no quarteirão formado pelas ruas Pernambuco, Timbiras, Paraíba e Avenida Carandaí começou a ser construído. Inicialmente projetado por Edgar Nascentes Coelho para ser o Gymnasio Mineiro, ele acabou abrigando o Fórum de Justiça.
Mas, quando o Fórum foi transferido para outro local, o prédio foi destinado a abrigar a Escola Normal Modelo. A partir de 1912 iniciou-se a primeira de muitas modificações para adaptar o prédio às dependências de ensino. O novo projeto procurou preservar a fachada em estilo eclético com diversos estilemas arquitetônicos e ornamentais da tradição neoclássica europeia.
Casa Fiat de Cultura
A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições. A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desde a arte clássica até a arte digital e contemporânea.
Por meio do Programa Educativo, a instituição articula ações para ampliar a acessibilidade às exposições, desenvolvendo réplicas de obras de arte em 3D, materiais em braille e atendimento em libras.
Mais de 80 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 18 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto – espaço de experimentação artística – e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico.
A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959.
O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 4 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 700 mil participaram de suas atividades educativas.
SERVIÇO
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