Pesquisar este Blog do Arnaldo Moreira

terça-feira, 30 de julho de 2024

COLUNA MECÂNICA ONLINE®



COLUNA MECÂNICA ONLINE®

Tarcisio Dias

30 | JULHO | 2024


Descarbonização - Muito além do escapamento

Análise da cadeia produtiva é essencial para a verdadeira descarbonização, afirma especialista


A descarbonização completa de veículos vai além das emissões de escapamento e deve abranger toda a cadeia produtiva, desde a extração de matérias-primas até a reciclagem, segundo João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios Stellantis.

A ênfase excessiva nas emissões de escapamento pode levar a uma visão incompleta do problema climático, negligenciando outras fontes significativas de emissões ao longo do ciclo de vida dos automóveis.

O desafio da descarbonização começou na Era Industrial, quando o uso intensivo de combustíveis fósseis aumentou a temperatura média da Terra. Este aumento está diretamente ligado às emissões de CO₂, que perturbam a camada de ozônio e contribuem para o efeito estufa.

No entanto, focar apenas nas emissões do escapamento ignora a complexidade e as diversas fontes de emissões ao longo do ciclo de vida de um veículo.

Descarbonizar significa considerar cada etapa da vida útil do veículo, desde a extração das matérias-primas até a fabricação, uso e reciclagem.

Um automóvel começa sua jornada com a extração de elementos da natureza, como ferro e bauxita, que são transformados em componentes nas fábricas dos fornecedores. Cada transporte dessas peças, a montagem final e a logística envolvida contribuem para as emissões de CO₂.

Durante a fase de uso, o tipo de combustível – seja fóssil, biocombustível ou eletricidade – também impacta as emissões.

Mesmo fontes de energia consideradas limpas, como a eletricidade hidrelétrica predominante no Brasil, não são totalmente isentas de emissões de CO₂ devido à decomposição de material orgânico nas represas.

Uma vantagem dos biocombustíveis, como o etanol, é que suas emissões de CO₂ podem ser parcialmente compensadas pela fotossíntese das plantas utilizadas para sua produção. No entanto, essa neutralização não é completa, já que a produção e o transporte do etanol ainda dependem de máquinas a diesel.

João Irineu destaca que, apesar das pressões por uma rápida transição para veículos elétricos, uma abordagem equilibrada e gradual é essencial. 

Países em desenvolvimento, como o Brasil, enfrentam desafios econômicos e sociais significativos se tentarem uma mudança brusca. 

A eletrificação total requer investimentos massivos em infraestrutura de baterias e novas tecnologias, algo que não pode ser feito da noite para o dia.

Os compromissos assumidos em conferências internacionais, como a COP 21, 26 e 27, são fundamentais para atingir o Net Zero, mas devem ser implementados considerando todo o ciclo de vida dos produtos.

Países como China, Estados Unidos e Comunidade Europeia são grandes emissores de CO₂, não apenas pelo transporte, mas também pela geração de energia.

Descarbonizar a cadeia inteira de produção de veículos é uma tarefa complexa que requer colaboração de todos os setores.

Desde a agropecuária até a indústria energética, todos devem contribuir para uma solução sustentável. No Brasil, onde a matriz energética é relativamente limpa, a integração de biocombustíveis com tecnologias híbridas pode ser um caminho viável e equilibrado para a descarbonização.

O fluxo de mudanças na cadeia produtiva, especialmente no contexto de descarbonização e transição para tecnologias mais sustentáveis, deve ser bem planejado e executado de forma gradual e integrada. Aqui estão algumas etapas e considerações importantes:

1. Avaliação Inicial e Planejamento Estratégico

- Análise de Impacto: Realizar uma análise detalhada do impacto ambiental, econômico e social das mudanças propostas.

- Definição de Metas: Estabelecer metas claras e alcançáveis de descarbonização e eficiência energética, alinhadas com acordos internacionais como o Acordo de Paris (COP21, COP26 e COP27).


2. Desenvolvimento de Tecnologias

- Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): Investir em P&D para desenvolver tecnologias mais limpas, como motores mais eficientes, biocombustíveis avançados, veículos elétricos e híbridos.

- Parcerias e Colaborações: Estabelecer parcerias com universidades, institutos de pesquisa e outras empresas para compartilhar conhecimento e acelerar o desenvolvimento tecnológico.

3. Implementação Gradual

- Fases de Implementação: Implementar mudanças em fases, começando com projetos-piloto e expandindo gradualmente conforme os resultados são avaliados.

- Testes e Ajustes: Realizar testes rigorosos das novas tecnologias e processos, ajustando conforme necessário para garantir eficiência e sustentabilidade.

4. Revisão da Cadeia de Suprimentos

- Fornecedores Sustentáveis: Selecionar fornecedores que compartilhem o compromisso com a sustentabilidade e que estejam dispostos a adotar práticas de produção mais limpas.

- Logística Verde: Otimizar a logística para reduzir emissões, utilizando, por exemplo, transporte de baixa emissão e rotas mais eficientes.

5. Capacitação e Treinamento

- Formação de Equipes: Treinar a força de trabalho atual para lidar com novas tecnologias e processos.

- Educação Contínua: Promover a educação contínua sobre práticas sustentáveis e tecnologias emergentes.

6. Incentivos e Financiamento

- Incentivos Governamentais: Aproveitar incentivos e subsídios governamentais para tecnologias limpas e iniciativas de descarbonização.

- Investimento Privado: Atrais investimentos privados para financiar a transição, demonstrando viabilidade econômica e benefícios a longo prazo.

7. Monitoramento e Avaliação

- KPIs de Sustentabilidade: Estabelecer indicadores-chave de desempenho (KPIs) para monitorar o progresso das metas de descarbonização.

- Revisões Periódicas: Realizar revisões periódicas para avaliar o progresso e fazer ajustes conforme necessário.

8. Comunicação e Transparência

- Relatórios Regulares: Publicar relatórios regulares sobre o progresso das iniciativas de descarbonização, sendo transparente com todas as partes interessadas.

- Engajamento das Partes Interessadas: Envolver todas as partes interessadas, incluindo funcionários, fornecedores, clientes e comunidades locais, para garantir apoio e colaboração.

9. Gestão de Fim de Vida

- Reciclagem e Reutilização: Implementar práticas de reciclagem e reutilização para minimizar o desperdício e maximizar o valor dos materiais.

- Descarte Responsável: Garantir que os processos de descarte de materiais e produtos no fim de vida sejam feitos de maneira ambientalmente responsável.

Portanto, a verdadeira descarbonização vai além do escapamento. Envolve um compromisso global e holístico, integrando avanços tecnológicos, políticas públicas e estratégias econômicas para alcançar um futuro sustentável.

Sugestão de vídeo | Carro elétrico europeu emite mais CO₂ que carro 100% etanol

TAGS: descarbonização, CO₂, biocombustíveis, eletrificação, sustentabilidade

Coluna Mecânica Online® com Tarcisio Dias - Aborda aspectos de manutenção, tecnologias e inovações mecânicas nos transportes em geral. Menção honrosa na categoria internet do 7º e 13º Prêmio SAE Brasil de Jornalismo, promovido pela Sociedade de Engenheiros da Mobilidade. Distribuição gratuita todos os dias 10, 20 e 30 do mês.
https://mecanicaonline.com.br/category/engenharia/tarcisio_dias/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça seu comentário

ACESSE TODAS AS POSTAGENS E SAIBA TUDO SOBRE O MUNDO AUTOMOTIVO.