REMÉDIO OU VENENO
Por Fernando Calmon
Diz o velho ditado que a diferença entre o veneno e o remédio é só a dose.
Os limites anteriores de 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h para as pistas expressas, centrais e locais, respectivamente, eram viáveis e seguros.
Os limites caíram para 70 km/h, 60 km/h e 50 km/h. Aí vêm as justificativas de 73 mortos por ano em acidentes somadas as duas vias, mas faltaram explicações essenciais.
Nos EUA, os índices de acidentes fatais são obtidos pela divisão do número de mortes pela multiplicação da frota e distância percorrida.
Essa é a forma mais correta de calcular a letalidade de uma via.
Estudos da CET estimam o tráfego de cerca de 800.000 veículos/dia
nas duas marginais.
Para se ter ideia, a ONU estima que 1,2 milhão de pessoas morrem todos os anos ao redor do mundo em acidentes de trânsito, incluídas ruas e estradas.
Será que o índice é menor ou maior do que, por exemplo, o da avenida Brasil ou das linhas urbanas expressas da capital do Rio de Janeiro, onde o limite de velocidade é maior que em São Paulo?
Também fica difícil entender o que levaria um pedestre em São Paulo a atravessar as pistas expressas, pois do outro lado só existe um rio poluído.
No entanto, vários ambulantes circulam entres os carros e não são retirados pela polícia.
Muitas teses
Declarações atabalhoadas
igualmente não ajudam.
Publicações que fazem testes mostram que automóveis atuais (não os de 80 anos atrás) precisam de apenas 40 metros em média, mais 50 metros para um teórico tempo de reação.
Assim, os números divulgados são 55% maiores que os reais.
Outra tese aponta que, em velocidades menores, os veículos tendem a rodar mais próximos uns dos outros e "isso equivaleria a aumentar o fluxo".
Mas a capacidade de escoamento
deve ser levada em conta.
O congestionamento aumenta
e não diminui.
Intervenção exagerada
Recentemente, o prefeito Fernando Haddad afirmou em uma entrevista que tudo não passa de uma "experiência" e que poderia reverter a medida.
Ou seja, não há certeza da
necessidade da redução.
Há os que desconfiam, mais uma vez, da "indústria de multas". Os 55 radares nas duas vias marginais aplicam 2.000 multas por dia.
É tanto dinheiro que se incorporou ao orçamento geral da cidade.
Em outras palavras precisamos fiscalizar os fiscais e isso não vem de hoje.
Essa dose de intervencionismo é exagerada, desnecessária e deveria ser revertida pela Justiça ou espontaneamente sob tantas críticas.
Trata-se de pura mentalidade anticarro para desespero do doente, que tem medo de envenenamento em vez de ser curado ou pelo menos bem medicado.
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