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domingo, 31 de outubro de 2021

O veloz e talentoso José Carlos Pace, vencedor do GP Brasil de F1 de 1975

 
Automobilismo em revista


Por
Luiz Carlos Secco






Um dos mais rápidos e empolgantes pilotos de sua geração, José Carlos Pace nos brindou com atuações sensacionais, desde as categorias de base e obteve vitórias e resultados que trouxeram alegria aos apaixonados por corridas de automóveis.

Foi um dos melhores entre os brasileiros que chegaram à Fórmula 1 com sua facilidade de se familiarizar com os carros, assimilar as características e reações e tirar deles desempenho além dos limites.

Pode-se afirmar que não teve a sorte de defender uma equipe de ponta, como a Lotus de Emerson Fittipaldi, e seus primeiros times foram as pobres, na época, Williams, dirigida por Frank Williams e, em seguida, a Surtees, do ex-piloto John Surtees.



A Williams em que estreou na Fórmula 1 em 1972 lhe deu um carro March usado do ano anterior que, naturalmente, não incorporava os avanços das outras equipes. Sabemos que a evolução dos carros é muito veloz e que um modelo do ano anterior, fica ultrapassado, muito abaixo do nível dos novos modelos.

Mas, como era o que tinha à disposição para chegar à principal categoria do automobilismo mundial, aceitou o desafio. Com o pior carro do campeonato, assim mesmo, obteve o quinto lugar no Grande Prêmio da Bélgica e o sexto, na Espanha, completando três pontos no campeonato. Uma façanha!

No ano seguinte, recebeu convite da Surtees, equipe menos pobre que a Williams, mas ainda sem o poder das grandes equipes. Com o Surtees, José Carlos Pace conseguiu terminar 7 provas. Foi décimo terceiro na França; décimo na Suécia; oitavo na Bélgica; sétimo na Holanda; quarto na Alemanha e terceiro na Áustria, o seu primeiro pódio.

Na Alemanha, deu um show em Nürburgring, por ter garantido a volta mais rápida da prova que superou cinco vezes seguidas, registrando o recorde de 7 minutos, 11 segundos e 4/10, à velocidade de 190,600 km/h. No Grande Prêmio da Áustria, classificou-se em terceiro lugar e, de sobra, também fez a volta mais rápida, com 1 minuto, 37 segundos e 29/100, com a velocidade de 218,720 km/h, comprovando talento em pistas de alta velocidade.

Em 1974, começou a temporada na Surtees, mas na metade do campeonato mudou de equipe, passando para Brabham, conseguindo o quinto lugar na Itália e estabelecendo a volta mais rápida da prova, com o tempo de 1 minuto 34 segundos e 2/10, à velocidade de 220,891 km/h. Nos Estados Unidos fechou o ano com o segundo lugar em Watkins Glen, onde também registrou a melhor volta da prova, com o tempo de 1 minuto, 40 segundos e 608/1.000, a 194,431 quilômetros por hora. Terminou o campeonato em 12º lugar, com 11 pontos.

Em 1975, mantendo-se na Brabham, fez sua melhor temporada. O principal resultado foi a vitória no Brasil, com Emerson em segundo lugar, além de quarto na África do Sul; terceiro em Mônaco; quinto na Holanda e segundo na Inglaterra.

Além da Fórmula 1, participou do Campeonato Brasileiro de Turismo, sagrou-se campeão e venceu também a corrida 25 horas de Interlagos, pilotando um Maverick da equipe Ford.

O engenheiro Francisco Castejon do Couto Rosa, famoso Chico Rosa, companheiro de Emerson Fittipaldi no seu início de carreira e consultor de vários pilotos brasileiros e de outros países, ao ser inquirido sobre como analisava o piloto José Carlos Pace, justificou que seria mais respeitoso ele transmitir a definição de Enzo Ferrari, que o considerava um dos mais talentosos do mundo.



José Carlos Pace sempre se destacou pela ousadia, habilidade, além da facilidade na análise das reações dos carros, que lhe permitiam transmitir as características aos mecânicos para os acertos corretos e obter o melhor desempenho. Com essas virtudes, destacou-se no Brasil, até 1967, correndo pela equipe Willys e, em seguida, da Ford onde obteve expressivas vitórias, com os berlinetas WilIys-Interlagos e depois, com os Ford Maverick.

Com o patrocínio da Brahma, José Carlos Pace seguiu o caminho trilhado por Emerson Fittipaldi e chegou a Londres para competir nas categorias de base, entre as quais a Fórmula 3, da qual se tornou campeão inglês, em 1970. No ano seguinte venceu o Grande Prêmio de Ímola, da Fórmula 2.

O primeiro convite expressivo foi da Ferrari para integrar a equipe que disputou o Campeonato Mundial de Marcas da categoria Esporte Protótipo e tive a satisfação de conviver alguns dias com José Carlos Pace e Chico Rosa com a equipe Ferrari no Autódromo de Monza.

Nessa convivência pude conhecer os bastidores da equipe e ouvir, do argentino Carlos Reutemann, uma crítica à decisão da engenharia da Ferrari, que os carros 312P, que pilotavam nesse campeonato, era um Fórmula 1 transformado em modelo biposto e, por ser mais leve, precisou receber a aplicação de chapas de aço como lastro para atender o peso mínimo exigido pela categoria.

Em dupla com Arturo Merzario, José Carlos Pace obteve a segunda posição na 24 Horas de Le Mans, a mais importante corrida do mundo na categoria. Um resultado fantástico para o Brasil pela tradição da prova.

Entre as virtudes de José Carlos Pace era um piloto extremamente ousado e que se destacava em pistas de alta velocidade. Por essa qualidade, mesmo com carros inferiores aos das principais equipes garantiu largada na primeira fila na África do Sul, na pole position, e também na Argentina, Bélgica, Inglaterra e Alemanha, todas pistas de alta velocidade.

Também estabeleceu voltas mais rápidas em corridas, como na África do Sul, Áustria, Estados Unidos, Itália e Alemanha. Imaginem o que ele teria conseguido se tivesse pilotado um carro de ponta.

Nossos super heróis também sentem medo

Como repórter do Jornal da Tarde, redigi a notícia da conquista do segundo lugar em Le Mans e, em algum ponto do texto, fiz uma menção de que José Carlos Pace gostava de competir no circuito francês. Ao ler a notícia, ele ligou para mim para revelar o desconforto que sentiu em Le Mans, principalmente à noite e com chuva, para administrar um carro com velocidade próxima de 300 quilômetros por hora em meio a outros que atingem menor velocidade, exigindo muito cuidado para evitar acidente.

Algum tempo depois, Wilson Fittipaldi Júnior fez o mesmo comentário, mencionando a atenção que Le Mans exige na condução de um Porsche 917, ao longo de 24 horas.

Tenho saudade de José Carlos Pace, piloto que merecia melhor sorte esportiva. E meu filho, José Carlos guarda em suas relíquias um macacão que o Moco utilizou em suas corridas e nos presenteou como emocionante recordação.

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