A revista Quatro Rodas está prestes a
comemorar 50 anos de realização do teste de durabilidade, que começou em 1973
com a distância de 30 mil quilômetros para avaliar os novos veículos produzidos
e lançados no Brasil e também a qualidade dos serviços prestados pela rede de
concessionários.
A iniciativa, que assustou os fabricantes
nacionais de automóveis, proporcionou a significativa evolução e a elevação da
qualidade e confiabilidade dos modelos oferecidos no mercado.
Tanto que, anos depois, o teste teve a sua
duração ampliada para 50 mil quilômetros e, desde 1990, para 60 mil em razão da
constatação, a cada nova avaliação, do progressivo aumento de qualidade dos
produtos nacionais. Análises da revista indicaram que 60 mil quilômetros
correspondem ao uso do automóvel durante quatro anos.
Por ter sido inédito em todo o mundo foi
compreensível a preocupação, na época, dos executivos das montadoras
brasileiras com o temor da eventual ocorrência de problemas que pudessem
comprometer a confiança dos consumidores e provocassem a queda de venda do
veículo testado.
A revista Quatro Rodas é a única do mundo
que compra o automóvel submete-o ao longo teste e depois o coloca à venda se
estiver em perfeitas condições, especialmente de segurança.
A ideia de realização desse teste de
durabilidade ou de longa duração e que vem prestando à indústria nacional
importante benefício foi do jornalista Luís Guerrero, ex-editor da revista
Quatro Rodas.
Além das medições e avaliações de
desempenho, consumo de combustível, nível de qualidade, custo de manutenção e
funcionamento geral dos veículos, os repórteres da revista fazem uso comum dos
carros em deslocamentos diários em compromissos de trabalho e viagens para
reportagens diversas o que faz com que uma diversificada de forma de condução
seja aplicada aos veículos, assim como diferentes tipos de percursos
utilizados. Ou seja, os carros são realmente testados em ruas e estradas das
mais diferentes condições. E todos os usuários devem seguir os procedimentos
indicados no manual do proprietário.
Mas o ponto mais singular e diferenciado
desses testes foi e continua sendo o trabalho realizado pela equipe de Yutuka
Fukuda e de seu filho Fábio. Foram eles que ao longo de muitos anos causaram
preocupação às fábricas brasileiras de automóveis.
Tranquilos, gentis e competentes
especialistas em mecânica automotiva, há 50 anos, eles são responsáveis pelo
minucioso programa para desmontagem e montagem desses veículos e fazem a
avaliação da durabilidade e desgastes de cada sistema e componente.
O programa do inédito teste de
durabilidade exigiu dos Fukuda, pai e filho, além da competência e experiência
que possuíam e possuem ainda mais atualmente, a criação de uma logística com a
maior perfeição possível.
A missão que enfrentaram exigiu local e
instalações próximas às de laboratórios de precisão porque, após concluir a
distância estabelecida, os carros são inteiramente desmontados e submetidos a
uma rigorosíssima análise de todos os seus sistemas e componentes. Depois são
fotografados para a publicação na revista e, por fim, remontados seguindo a
perfeição adotada por cada fábrica sem que eles disponham dos sofisticados equipamentos
das linhas de produção das montadoras.
Para a revista Quatro Rodas, além da
rigorosa exigência de um trabalho o mais próximo possível da perfeição tem
também a preocupação de manter os veículos com o mesmo nível de qualidade
recebido das fábricas. Ou seja, a revista exige que os carros avaliados só
sejam vendidos perfeitos e se estiverem absolutamente confiáveis.
Além do espaço em sua empresa, os Fukuda
precisaram criar e montar instalações para esse importante trabalho e organizar
um esquema sofisticado e eficiente de armazenamento de peças e sistemas do
carro em teste. Com isso, eles praticamente se transformaram em milagreiros
porque os carros estão sempre com o mais elevado nível de qualidade.
Fábio, que estuou engenharia mecânica na
FEI, lembra que a desmontagem dos carros exigiu muito cuidado e uma guarda
perfeitamente organizada das peças e sistemas, seguindo um processo que
facilitasse a remontagem ao final de cada teste. Cada peça recebe o nome do
conjunto ao qual pertence, com uma sequência muito bem planejada para facilitar
a remontagem do automóvel.
Apesar desse cuidado, uma vez pai, filho e
companheiros da equipe passaram um sufoco porque o pessoal da redação pediu que
enviassem as peças de um carro em teste para a produção de uma fotografia para
a edição da revista, mas quando foram devolvidas estavam todas misturadas, o
que exigiu um intenso trabalho de investigação, identificação e reorganização
completa do arquivo dos componentes. Fábio lembrou que foi um episódio
exaustivo, porque as peças exigiram longas horas para reconstruir um arquivo
organizado ao longo de muitos anos.
Com a adoção da identificação oculta de
cada peça, ao receber de volta um carro que foi submetido a uma revisão
periódica os Fukuda descobriram que uma concessionária autorizada incluiu na
despesa a substituição errônea de um componente por ignorar a identificação
secreta criada pela equipe. Essa ocorrência reforçou a dúvida sobre a
necessidade dos serviços prestados e compromete a confiança dos clientes na seriedade
das concessionárias.
No tempo em que trabalhei na indústria
automobilística também me preocupei, quando era informado que a revista Quatro
Rodas submetia ao teste um veículo da marca que eu representava e orientava a
minha equipe para tentar descobrir o número das placas e o nome do proprietário
do veículo para alertar a rede de concessionários para prestar atendimento
necessário e eficiente na hipótese de o veículo ser apresentado para serviço.
Apesar da contribuição que o teste prestou
à indústria automobilística e ao desenvolvimento dos carros brasileiros os
executivos das fábricas tinham motivo para temer as críticas que poderiam
surgir no caso de mau desempenho do veículo ou do serviço realizado pela rede
de concessionários.
A série de testes publicados pela Quatro
Rodas tem a fotografia de um automóvel, com desempenho negativo, que ocupou a
capa da revista com o acréscimo de um carimbo com a palavra reprovado.
Não preciso fazer comentário a respeito da
reação da fábrica desse automóvel. É sempre um sonho para os executivos da
fábrica ver um carro da marca ilustrando a capa de uma importante revista. Mas
com o carimbo “r e p r o v a d o”, é uma grande decepção.
Acesse nossos podcasts: https://soundcloud.com/user-645576547/teste-de-durabilidade-contribui-para-melhor-qualidade-dos-carros-brasileiros
Crédito das imagens: Revista
Quatro Rodas e Fukuda Motorcenter
Muito Além de Rodas e Motores
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