Alta Roda
Nº 683 - 31/5/12
Fernando Calmon
MATEMÁTICA IMPLACÁVEL
Mercado de automóveis voltou às manchetes em razão da
agitação trazida pelos preços com alívio provisório do IPI, relaxamento de
juros e do número de prestações. Há posições antagônicas entre alguns analistas,
por um lado, indústria e concessionárias, de outro, as duas últimas afinadas em
relação ao otimismo moderado.
Para os céticos, estaríamos diante de iminente estouro da
bolha de consumo, iniciada há três anos pelos financiamentos longos e pouco rigor
na aprovação de cadastros. Essa tese explicaria a alta inadimplência recorde de
5,9% (mais de 90 dias de atraso), o prejuízo de alguns bancos varejistas no
setor e, assim, a dificuldade para queda acentuada dos juros e alongamento dos
prazos.
Outros acham que a redução do IPI, somada aos descontos dos
fabricantes acordados com o governo, deixaram os preços atuais, em alguns
casos, próximos aos promocionais já praticados até a semana anterior. Isso,
realmente, acontece, mas nada indica que o ambiente de competição não
continuaria puxando os preços para baixo.
Otimistas pensam de outra forma. Sérgio Habib, importador
JAC e dono de 95 concessionárias, de Norte a Sul do País, da própria JAC,
Citroën e VW, afirmou à coluna: “Sentimos 35% de aumento de trânsito nas nossas
lojas, nos últimos dias. Aposto que até 31 de agosto um milhão de unidades de todos
os tipos será vendidos. E se mantidas as condições atuais até o final do ano,
não descarto que o Brasil consiga atingir quatro milhões, ainda em 2012.”
Tal previsão supera os 3,8 milhões de unidades, ainda não
revistos pela Anfavea. Seu raciocínio é que o brasileiro troca de carro, em
média, a cada 32 meses. “Em 2009, ano ruim para a economia (0,2% de retração do
PIB), venderam-se mais de três milhões de veículos. Hoje (momento teórico da
troca), mais de 80% dos compradores estão adimplentes, os preços caíram e as
condições de financiamento são similares.”
Como os preços, sempre eles, são motivo de discussão que tal
ver o cenário dos últimos oito meses? Comparar preços com os EUA tem sido
esporte popular. Pegue-se o Civic, mesmo automóvel fabricado aqui e lá. Só que
o Civic mais barato lá é “pelado”, como se fala. Não existe aqui. Então seu
preço para comparar não é o DX de US$ 16.000 e sim o LXL de US$ 23.000,
incluído o frete. Em 1º de setembro de 2011 custava, com dólar a R$ 1,60, cerca
de R$ 37.000,00. Pechincha, não?
Como a diferença de taxação é brutal, a referência menos
ruim é o preço do Civic equivalente para taxistas no Brasil. Em 1º de maio último,
o LXS valia RS 53.000, sem IPI e ICMS, porém, ainda com carga fiscal superior à
dos EUA. Mas o preço, em reais, saltou para R$ 48.000 (dólar a R$ 2,10, antes
da intervenção do Banco Central).
Por sorte, os americanos recebem seus
salários em dólares e os brasileiros, em
reais. Assim, ninguém sentiu os 30% de variação cambial. Se igualadas as cargas
fiscais, os dois modelos custariam aproximadamente o mesmo preço, em B
Maio.
Alguns centavos a mais no valor do dólar e o carro sairia mais barato aqui.
Conclusão: qualquer variação mais forte do dólar leva a
essas distorções, para cima ou para baixo. Não serve de consolo para os nossos preços
altos por impostos e custos, mas a matemática é assim, implacável.
RODA VIVA
NOVO sedã Peugeot
301, embora projetado para países emergentes, tem poucas chances de produção no
Brasil. Talvez na Argentina, mas seu preço ficaria próximo ao do 408. Para
combater o Logan diretamente precisaria ter sido pensado desde o início como baixo
custo, que não parece ser o caso. Peugeot também negou o 206 sedã e o carro é feito
aqui, o Passion.
COTAS com IPI
mais baixo para importados de marcas premium ou de modelos médios-grandes e
grandes já são admitidas pelo governo, segundo fonte da coluna. Problema está
em veículos compactos e médios-compactos de origem chinesa e sul-coreana. Seus
preços baixos de exportação e valorização do real sufocam a produção nacional.
CITROËN DS3 chega
por R$ 79.900 e oferece conceito ampliado de esportividade. Vidros laterais e
traseiro conferem estilo diferenciado da versão normal, ao esconder coluna C e
dar novo aspecto à coluna B. Motor turbo 1,6/165 cv já entrega 48 cv a apenas
1.400 rpm. Destaques para bancos, direção, câmbio manual/6 marchas e suspensões
(embora ruidosas).
ESTILO atraente, bom
espaço interno e câmbio (apenas manual) fácil de manusear. JAC J5, além do
preço agora abaixo da barreira psicológica de R$ 50 mil (R$ 49.990), tem
acabamento simples, visibilidade ruim dos instrumentos, ausência de botão central
de destravamento de portas e imprecisão direcional. Falta torque ao motor de
1,5 l/125 cv.
DEPOIS de 14 anos
de importação, Lexus vendeu em média apenas oito carros por mês no Brasil. A
divisão de automóveis caros da Toyota terá dificuldades nessa fase de
relançamento da marca. Iene valorizado deixou todos os quatro modelos bastante fora
do nível de preços razoável para competir. Precisarão ter muita paciência ainda...
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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