Alta Roda
Nº 679 - 3 de Maio de 2012
Fernando Calmon
DISCURSO DÚBIO
Aspecto até certo ponto confuso do novo regime
automobilístico, em vigor entre 2013 e 2017, é o estímulo às inovações
tecnológicas. De fato, trazer as conquistas já conhecidas no exterior aos carros
aqui produzidos só merece apoio.
As barreiras para esse fim são amplamente
conhecidas: baixo poder aquisitivo dos compradores e alto preço desses equipamentos,
em geral absorvidos em escalas de produção bem maiores nos países centrais de
três continentes.
Além disso, cerca de 70% das vendas no mercado brasileiro se
concentram em carros compactos e seus derivados que, por razões óbvias, são os
últimos, em qualquer lugar do mundo, a receber as conquistas técnicas de
segurança, conforto e utilidade.
Portanto, é bom não esperar milagres. Mesmo porque o
estímulo chegará na forma de redução de apenas dois pontos percentuais no IPI. Os
fabricantes serão estimulados a ampliar seus investimentos em pesquisa e
desenvolvimento.
Porém, o grande desafio está em adaptar o conhecimento
existente no exterior às condições de uso no Brasil e, mais importante, ao
bolso dos compradores. Como também não havia nenhum tipo de apoio fiscal, esse
objetivo ficava cada vez mais distante, em especial no campo da eletrônica e
informática de bordo.
Faltam também coerência e continuidade nas políticas
governamentais. Afinal, de um mandato presidencial para outro as prioridades
mudam. A justificativa para adoção em massa de motores flexíveis foi a volta do
uso do etanol em larga escala e a segurança ao motorista em eventual escassez ou
subida de preço temporária. No entanto, não se resolveu o impasse crucial nas
bombas dos postos: a gasolina tem preço congelado; o etanol, ao deus-dará.
Talvez os fabricantes utilizem a especialização desenvolvida
ao longo dos últimos anos para melhorar a tecnologia dos motores flexíveis e se
creditar da diminuição do IPI. À exceção recente de motores de 1,6 litro da PSA
Peugeot Citroën e apenas um modelo da Volkswagen, até hoje continua desprezada a
partida a frio aquecida eletricamente apenas com etanol.
Esse é apenas um
exemplo simples do atraso da indústria. A solução, todavia, tardou tanto que
pode ficar superada. Basta os fabricantes resolverem investir em sistema de
injeção direta de combustível, que vai bem com gasolina e ainda melhor com
etanol, em termos de consumo e desempenho.
Não se pode assegurar que tudo isso ocorrerá sem resolver
o impasse do custo por quilômetro rodado por um e outro combustível. Ou, então,
se mudar a taxação sobre emissões, como ocorre na Europa, onde gás carbônico (CO2)
tem impacto direto sobre o preço final dos veículos.
O Inmetro, responsável pelo programa de etiquetagem veicular
que classifica os carros em termos de consumo de combustível, prepara nova
tabela que incluirá informações sobre CO2. A novidade é o índice corrigido,
corretamente, pelo ciclo fechado: da produção à ponta de escapamento dos
motores.
Nesse caso, combustíveis fósseis ficam mal na fotografia e abrem espaço
para biocombustíveis, caso do etanol de cana. Se o governo vai mexer nesse
vespeiro, afinar seu discurso dúbio, inconsistente, sobre meio ambiente e criar
taxação sobre CO2 é algo de que ninguém tem a menor ideia.
RODA VIVA
FINAL da produção
do Citroën Xsara Picasso e o fim próximo do Chevrolet Zafira viram uma página
sobre monovolumes médios fabricados no Brasil. Só monovolumes compactos
resistem. Fica expectativa sobre por quanto tempo a Renault produzirá station
média Mégane Grand Tour, último produto brasileiro nesse segmento (tristemente)
em extinção.
AUMENTO de 8%
sobre importados da Fiat provenientes do México – subcompacto 500 e crossover
Freemont – teve a ver não apenas com valorização do dólar frente ao real, mais
ou menos, na mesma proporção. Ocorre que cotas acertadas no acordo bilateral de
comércio limitaram o equilíbrio oferta-demanda e o preço (no caso do 500)
subiria de qualquer forma.
POR outro lado,
forte concorrência entre produtos nacionais levou à redução definitiva (não é promoção)
de até R$ 2.000,00 nos preços de Polo e Golf. Importados da Coreia do Sul e China,
que não subiram de preço por razões estratégicas e outras menos elogiáveis, forçam
uma situação a que todos se submetem: leis de mercado.
DISTORÇÕES típicas
do sistema tributário brasileiro: imposto estadual (ICMS) menor para veículos
importados que chegam via portos em razão de “guerra” fiscal. Lei federal
colocará ordem na casa, mas como Estados pedirão compensação, quem compra carros
(mesmo os nacionais, sem usar portos) pagam a conta de forma indireta. Coisas
do Custo Brasil.
ENTRE dois e três
anos, se rodar em média 60 km/dia, comprador teria retorno do investimento no
Fox BlueMotion (R$ 36.730,00 - 2 portas; R$ 38.300.00 - 4 portas). Recebeu mudanças
mecânicas e aerodinâmicas para economizar até 10% de combustível. Com gasolina,
em estrada, a 90 km/h constantes, marcou 22 km/l. VW espera BlueMotion
representar 5% das vendas totais do Fox.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon
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