Toda vez que ouço ou leio a expressão “curva parabólica”, logo me vem à mente o antigo traçado de Monza e sua famosa curva inclinada.
Mas há alguns anos descobri que esta não é a única parabólica famosa da Itália.
Na mesma época em que o autodromo nazionale foi inaugurado, a Fiat estava construindo sua fábrica de Lingotto.
Essa nova fábrica trazia duas novidades: uma linha de produção ascendente e uma pista de testes no telhado do prédio! Sim: uma pista de testes no telhado.
Quando a Primeira Guerra Mundial finalmente acabou, a Fiat retomou a fabricação de automóveis, detendo 80% do mercado interno.
Fora uma breve revolta comunista entre os funcionários no ano de 1921, tudo seguia muito bem e a empresa estava pronta para voltar a crescer.
Assim, a Fiat encomendou ao engenheiro Giacomo Mattè-Trucco o projeto de uma nova fábrica que se tornaria o símbolo da indústria italiana e a maior fábrica de automóveis do mundo.
A obra ficou pronta em em 1923 e tinha cinco andares e uma pista de testes simples em seu teto, com duas curvas parabólicas e que ocupava um espaço de 494 metros de comprimento por 85 de largura.
As curvas da pista foram construídas com uma complexa série de estruturas de concreto, uma técnica que não havia sido utilizada anteriormente, muito menos em uma pista no sexto andar de um prédio.
Diferentemente do que você deve estar pensando, a pista não foi feita por acaso ou por mera extravagância italiana.
Ela era, na verdade, a última etapa do processo de fabricação dos carros.
Como a fábrica de Lingotto tinha uma linha de produção em espiral ascendente, em cada andar era feita uma etapa da fabricação, fazendo com que o carro subisse aos poucos pelo prédio.
O punhado de peças e componentes no andar inferior chegava ao topo do prédio como um automóvel completo, pronto para ganhar o mundo.
Quando um Fiat terminava seu percurso fabril pelos 1.500.000 m² de Lingotto, ele saia do prédio por uma rampa de acesso ao teto.
Cada carro percorria então a pista para garantir que o pessoal nos pisos inferiores havia feito seu trabalho corretamente.
Assim que aprovado, o carro descia direto para o térreo por uma das duas rampas espirais que saem da pista.
A pista de testes se tornou tão famosa quanto a fábrica abaixo dela. Ela até apareceu no filme Um Golpe à Italiana (The Italian Job – 1969).
Durante a famosa cena de fuga, os três Mini Cooper usados pelos ladrões ficam lado a lado em uma das parabólicas, com o policial em sua cola.
Se você tem um Fiat italiano produzido entre 1923 e a década de 1970 é provável que ele tenha percorrido seus primeiros quilômetros no último andar de Lingotto.
A fábrica foi responsável por boa parte da produção da Fiat desde sua inauguração até a década de 1970, quando suas linhas de produção já estavam defasadas em relação às novas técnicas de fabricação.
A fábrica fechou oficialmente em 1982, quando um Lancia Delta deixou a linha de produção.
Alguns anos depois do fechamento da fábrica, o prédio foi reformado para ser um gigantesco espaço comercial.
Seus andares são ocupados agora por um shopping center, um teatro, um centro de convenções e um hotel.
Quanto à pista no teto, ela permanece intacta, e é utilizada principalmente como local para reunião de empresas, clubes de automóveis, além de atração turística — você pode alugar um carro e subir os seis andares e dar uma volta pelas retas da pista.
Mesmo assim, é bom saber que tanto a pista quanto o prédio de Lingotto foram preservados e bem cuidados do jeito que um lugar tão importante e incrível merece.
(Fotos: Flickr/Jon & Mell Kots, New York Times, Google Earth.)
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