Olá caros leitores, meu nome é Ricardo Caffarelli e a convite do amigo Arnaldo Moreira - editor deste Blog - estarei escrevendo aqui sobre um tema de que sou eternamente apaixonado, antigomobilismo.
Para começar preciso contar um pouco da minha história.
Tenho 40 anos, sou casado e tenho um bambino lindo de um ano e cinco meses chamado Luigi. Sou administrador de empresas de profissão, mas antigomobilista de coração.
Nascido em Sampa, vim para o Rio de Janeiro com cinco anos e por aqui fiquei. Meu envolvimento com os veículos vem de infância, quando eu não me separava do meu saco de carrinhos matchbox com os quais passava horas e horas brincando.
Desde de sempre, cresci com o assunto automobilístico presente. Quando meus pais viajavam de carro, apesar de “proibido”, lá estava eu sentado sempre no banco de trás, mas apoiado entre os dois bancos da frente observando tudo. Sabia de olhos fechados algumas rodovias que passávamos com frequência. E sempre gostei de velocidade.
Com meus 10/12 anos já colecionava revistas (a maioria Quatro Rodas) e lia muito sobre o assunto a ponto de ter de cabeça o resumo dos testes de todos veículos nacionais.
Dados como aceleração (0-100km/h), velocidade máxima, frenagem 80-0km/h e consumo eram na época os que eu mais prestava atenção. Calma, também não precisam achar que eu tinha uma mente tão privilegiada assim.
Ao contrário dos dias de hoje onde temos mais de 800 possibilidades diferentes para escolher seu “melhor amigo de 4 rodas”, na época só existiam as quatro grandes (uma delas ainda nem tão grande assim – FIAT) e pouquíssimos modelos disponíveis, sem falar que entrava ano saía ano, pouca coisa mudava.
Mas vamos ao tema de abertura da coluna.
Pensei muito sobre que carro escrever e não achei outro melhor do que o nosso Ford Modelo “T”.
Para quem não conhece algumas “particularidades” de Henry Ford, ele foi escolhido como uma das figuras mais importantes do século XX.
Para quem não conhece algumas “particularidades” de Henry Ford, ele foi escolhido como uma das figuras mais importantes do século XX.
Se hoje temos automóveis como são, devemos muito a esse visionário ex-fazendeiro que por sua genialidade e determinação fundou a Ford Motor Company, em 1903, junto com outros 11 investidores e com a soma “astronômica” de 28.000 dólares.
Ford tinha exatamente 40 anos! (que coincidência)! Arrisco dizer que se ele tivesse tentado fundar a Ford Motor Company antes, muito provavelmente não teria tido êxito.
Aliás, a história conta que ele participou ou fundou outras três empresas de outros segmentos que foram a falência antes de definir que automóveis era em que ele desejava empenhar-se.
Resumindo a história, Henry Ford começou a produzir carros e numerá-los de acordo com as letras do alfabeto, começando com o modelo “A”.
Como com outros “aventureiros” da sua época, é claro que o primeiro carro não deu muito certo.
Ele ainda não tinha “acertado a mão”, muito embora já soubesse realmente o que tinha de fazer.
Nos anos borbulhantes do início do séc. XX, o automóvel era disparado a maior invenção com que a humanidade já tivera contato.
Muitos tinham o sonho de construir um carro e que essa invenção traria sucesso, prosperidade e reconhecimento.
Bem para meus amigos engenheiros, construir um carro confiável não é tão fácil assim.
Henry Ford foi brilhante, pois ele foi o primeiro a pensar no automóvel como um produto para massa, ou seja em grande escala. Isso abriu definitivamente os horizontes.
Bem para meus amigos engenheiros, construir um carro confiável não é tão fácil assim.
Não adiantava produzir um veículo maravilhoso mas que demorasse meses para ficar pronto ou custasse uma fortuna... Sem falar que o carro precisava ter manutenção e confiabilidade.
Sendo assim, foi testando, testando até que, em 1908, ele acertou o alvo. Foi o ano em que lançou o modelo “T” que teve mais de 15 milhões de unidades produzidas ao longo dos 19 anos em que foi produzido.
Quando li a primeira vez este número tive que o reler, pois achei que estava errado, mas era isso mesmo, para ser mais exato: 15.007.034 unidades, atingindo um número de carros produzidos por hora que nunca foi superado até os dias de hoje.
Qual o segredo de tanto sucesso? Ter o produto certo, no valor certo, no local certo (acessível) para o público certo, com o marketing certo.
Até na gestão dos operários ele foi eficiente, pois determinou um considerável aumento nos salários dos funcionários da sua fábrica.
Até na gestão dos operários ele foi eficiente, pois determinou um considerável aumento nos salários dos funcionários da sua fábrica.
Ele queria ter os melhores e mais motivados operários e dava condições-lhes de adquirirem um carro após um tempo de trabalho. Quer melhor propaganda do que essa?
A coleção de carros antigos da minha família teve diversos modelos “T” começando por um 1908, quatro lugares, 1910 Speedster (que permanecem na coleção até hoje), 1917 Runabout (foto acima), 1919 Phaeton,1922 Phaeton, 1927, Phaeton. Cada um deles tem uma história.
O 1908 (no documento está 1904) foi do comediante Juca Chaves. O Speedster veio da oficina Magneto (SP) e o 1917 também.
O 1922 (placa, SL-1922) foi um dos primeiros carros da coleção e tinha capota e bancos com couro original.
Proveniente da Jardineira Veículos, esse carro estava bom, mas depois o reformamos na garagem da nossa casa. Pintura, preto “cadillac”, da Ipiranga.
Sistema elétrico voltando para 6V e fiação toda refeita com fio da pano. Ficou muito bom!
O modelo da foto acima tem o carinhoso apelido de “vovó Donalda”, pois é o carro usado pela personagem de Walt Disney.
Algumas características marcantes do modelo “T” merecem ser comentadas. De mecânica extremamente simples e eficiente, o carro ganhou rapidamente o mundo.
Diversas variantes e acessórios são encontrados. Ele já foi usado como carro, ônibus, caminhão e até trator.
Seu motor de 4 cilindros tinha 2.896 cilindradas, mas produzia apenas 17 CV (em algumas publicações encontrei 20,2 CV), mas a apenas 1.600 rpm. Taxa de compressão também era baixíssima.
Boa parte do combustível saia cru pela descarga. Com certeza não passaria hoje nos testes de gases das vistorias do Detran.
Outra curiosidade que lí recentemente é que este motor queimava praticamente qualquer coisa que você colocasse no tanque como querosene ou alcool. É verdade, era o flexfuel da época.
Cor, somente preta (após 1915). Barateava custos produção e a secagem era mais rápida. Alguns componentes tinham custo zero.
Dizem que alguns componentes que o carro usava como motor de arranque, Ford exigia que fossem entregues na fábrica em determinada embalagem de madeira com algumas características.
Na fábrica essa embalagem era desmontada e usada como assoalho do carro. Dirigir um modelo “T” não é algo para iniciantes. Difere de tudo que conhecemos hoje.
Eu mesmo já tive más experiencias. Uma vez bati (de leve) o carro num móvel que estava na garagem.
Como o modelo “T” usava um câmbio de pedais o pedal da esquerda que para nós hoje é a embreagem, neste carro na verdade é a mudança da primeira para a segunda marcha.
Eu mesmo já tive más experiencias. Uma vez bati (de leve) o carro num móvel que estava na garagem.
O pedal do meio que para nós é o freio, neste caso, é a marcha ré e o da direita, que para nós é o acelerador, no modelo T é o freio (mecânico, sem qualquer recurso hidráulico e somente nas rodas traseiras). Imaginem a confusão.
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