Por Sônia Santos Pereira
Ramon Colillas era um ilustre desconhecido no mundo do póquer. Mas de repente tudo mudou. Este jovem espanhol, de 30 anos, marcou presença no Pokerstars Players Championship, nas Bahamas, o maior evento na história deste jogo, e ganhou 5,1 milhões de dólares (mais de 4,5 milhões de euros e cerca de R$ 20 milhões).
Desde janeiro que é um 007 das cartas e deixou de passar incógnito nas mesas dos torneios. “Agora sou constantemente observado. Há jogadores que só pensam em ganhar-me”, conta.
Para além do avultado prêmio e do prestígio internacional, Ramon Colillas tornou-se embaixador da Pokerstars, uma das maiores operadoras de jogos online no mundo e que marca presença em Portugal.
Em março, no European Poker Tour Sochi 2019 (Rússia), ganhou apenas 19 mil euros. O torneio promovido pela Pokerstars teve como vencedor o israelita Uri Gilboa, que contabilizou um prêmio de 382 mil euros.
O póquer mexe com milhões de euros e milhões de jogadores em todo o mundo. O jogo de cartas mais popular do mundo, reconhecido como um desporto de estratégia e habilidade, a par com o xadrez, bridge ou damas, é para muitos uma profissão.
E não há superstições. Jogo de amigos
Tudo começa como uma distração. Colillas iniciou-se no póquer aos 19 anos, em jogos com os amigos.
Tudo começa como uma distração. Colillas iniciou-se no póquer aos 19 anos, em jogos com os amigos.
A sua paixão é o futebol, o seu clube o Barcelona, mas várias lesões acabaram por ditar o fim do sonho de pontapear a bola nos relvados.
Tornou-se treinador de futebol de camadas jovens e, em simultâneo, começou a dedicar-se ao póquer. Há quase cinco anos assumiu o jogo de cartas como profissão. “Não é um vício, é um desafio mental”, frisa ao Dinheiro Vivo.
O palmarés (lista de prêmios) do brasileiro Felipe Panjota não se assemelha ao de Ramon Colillas, mas as vitórias são suficientes para viver “confortavelmente” dos rendimentos do póquer. Para o jovem Panjota, este “é um jogo de inteligência, não é possível ficar viciado”.
Ser profissional de póquer exige “a dedicação de um atleta olímpico – é preciso treinar diariamente, ter disciplina, organização e saber perder”, sublinha. Sorte a dobrar Colillas acorda tarde, porque se deita fora de horas.
“Trabalho até tarde, mas obrigo-me a ter uma rotina. Como o pequeno-almoço (café da manhã) e visiono os jogos do dia anterior. Vejo onde falhei e procuro melhorar as jogadas. Depois vou jogar”, explicou. Na sua opinião, há alguns mal-entendidos sobre a vida e rotinas de um profissional de póquer.
“As pessoas não sabem a quantidade de horas que dedicamos à preparação técnica, mental e física”, afirma. Resiliência à frustração é uma das armas que o profissional de póquer tem de assegurar. Segundo Felipe Panjota, o jogador tem de saber gerir a derrota e a frustração que daí advém.
“Os profissionais de póquer recorrem muito a psicólogos para os ajudar a lidar com a frustração. Todos queremos ganhar, mas é preciso aceitar que nem sempre se ganha e precisamos estar preparados psicologicamente para isso”, diz. Afinal, “em 30 dias a jogar, só se ganha em 11, é preciso ter estrutura para aguentar 19 dias a perder”, alerta.
A sorte no jogo não é desprezada, mas “é um momento pontual, numa rotina de trabalho e estudo onde predomina a matemática e a estatística”, considera Ramon Colillas.
Felipe Pantoja alinha na mesma filosofia. Este jogador brasileiro tornou-se especialista em póquer depois de muitos jogos e cursos da especialidade. A sua técnica assenta “no racional, sem superstições”. Para além das cartas, “observo as expressões faciais dos outros jogadores, que dão muitas informações”, sublinha.
A máxima “sorte ao jogo, azar no amor” também não alinha com o póquer. Ramon Colillas admite “ter sorte a dobrar” e Felipe Pantoja garante “ter uma vida muito confortável com a família”.
O póquer garante-lhe um rendimento que lhe permite “viver bem”. Jovem e ambicioso Ramon Colillas vive do póquer e apesar do prémio milionário que ganhou nas Bahamas não pensa em retirar-se.
Este jogo de cartas é a sua profissão. Por isso, o dinheiro é “uma ferramenta de trabalho”, que lhe permite apostar e marcar presença em torneios.
“Sou demasiado jovem e ambicioso e há muitos torneios que quero fazer. Este ano, vou um mês para Las Vegas”, ilustra. Os impostos que incidem sobre os prêmios são elevados e diferentes de país para país.
O prêmio ganho por Colillas nas Bahamas não estava sujeito a tributação, mas no Brasil a taxa é de 27,5%. Apesar dos impostos sobre o jogo, os ganhos são claros.
Não ganhassem Colillas e Pantoja (e muitos outros pelo mundo) o pão do seu dia-a-dia nos jogos de póquer online e nos torneios ao vivo. A jornalista acompanhou o European Poker Tour Sochi 2019 a convite da Pokerstars.
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