Coluna Fernando Calmon
Nº 1.241 — 9/3/23
Em 20 anos, 40 milhões de
motores flex no Brasil
Os números são
impressionantes. Desde 23 março de 2003 até agora, quando completará 20 anos de
produção, foram 40 milhões de automóveis e comerciais leves fabricados e
comercializados no País. Naquele dia a VW apresentou o Gol Power 1.6 Total Flex,
primeiro modelo brasileiro comercializado com um motor capaz de utilizar
gasolina e etanol hidratado em qualquer proporção.
Isso foi possível com
o advento da injeção eletrônica e o esforço combinado entre o fabricante e dois
fornecedores: Bosch e Marelli. Dez anos antes a Bosch havia começado experiências
com um Omega 2-litros de sua própria frota de testes. A fornecedora italiana
acabou tendo a primazia no Total Flex, apesar de ser uma empresa controlada na
época pela Fiat. Necessário frisar que a ideia de um motor flexível em
combustível nasceu nos EUA, em 1996.
Nestes 20 anos o
motor flex no Brasil avançou bastante. Os pequenos reservatórios de gasolina
para partida a frio foram substituídos por válvulas injetoras de etanol pré-aquecidas
e mais recentemente com o advento dos motores de injeção direta a partida com
etanol em dias frios é imediata sem nenhum outro auxílio. Com os motores turbo
cada fabricante pôde escolher valores de potência e torque diferentes para
etanol e gasolina com muito mais facilidade. Hoje 83% dos veículos novos vendidos têm
motores flex. O restante se divide entre gasolina, diesel e híbridos.
Agora há uma motivação
ambiental ainda maior. Abastecer o tanque 100% com o combustível obtido da
cana-de-açúcar significa no ciclo da produção no campo até o escapamento a emissão
de apenas 37 g de CO2/km. Na Europa com o atual perfil de geração de
energia para recarregar a bateria, um carro elétrico de mesmo porte emite 54 g
de CO2/km.
Mesmo que os europeus
consigam diminuir a emissão de CO2 em sua matriz de geração de
eletricidade até 2035, quando exigirá que todos os carros novos à venda sejam
elétricos, no Brasil bastaria um híbrido flex comum com bateria pequena e
barata abastecido aqui com etanol para superá-los: lá, 35 g de CO2/km;
aqui, 29 g de CO2/km. Um automóvel 100% a gasolina emite em torno de
135 g de CO2/km. No Brasil, um pouco menos, porque a gasolina contém
27% de etanol anidro.
Entretanto, continuam
os desafios para o aumentar a produção de etanol aqui. Porém, o País reúne
quatro condições inigualáveis: extensão territorial, terras cultiváveis, sol e
água. Assim, pode esperar o preço dos elétricos cair até se tornarem
competitivos, sem precisar impor metas.
Para o consultor Ricardo Abreu “o programa já em vigor, RenovaBio, é a forma de incentivar o aumento da produção de biocombustíveis por meio do mecanismo de créditos de carbono e a busca de padrões mais exigentes de redução das emissões de gases de efeito estufa em toda a cadeia. A produção de etanol de cana de segunda geração e também a partir do milho tende a aumentar a oferta, diminuindo a sazonalidade e equilibrando o mercado”.
Em fevereiro vendas reagem, mas mercado continua fraco
Apesar do mês de Carnaval, desastres causados pelas fortes
chuvas no litoral de São Paulo e em outras localidades, houve ritmo
ligeiramente melhor do que o esperado. A média diária de vendas em fevereiro
(7.200 unidades) foi melhor que a de janeiro (6.500 unidades). Nos dois
primeiros meses deste ano foram emplacados 272,2 mil veículos leves e pesados:
5,2% a mais que o primeiro bimestre de 2022.
No ano passado a indústria sofria pesadas perdas de produção
pela escassez mundial de semicondutores em consequência da epidemia. Em 2023,
previa-se uma melhora, porém a crise ainda atingiu algumas fábricas no mês
passado. O cenário para os próximos meses permanece incerto. Os fabricantes se
queixam de taxas altas nos juros de financiamento e dificuldades de aprovação
de cadastros em razão do aumento da inadimplência.
Entretanto há outro sinal, desta vez de fraqueza. A produção
no primeiro bimestre foi apenas 0,8% maior e mesmo assim o estoque total nas
fábricas e concessionárias continuou aumentando: de 39 para 40 dias. Assim,
existem unidades para pronta entrega para quase todos os modelos. A Fenabrave
informou que o mercado de usados ainda mostra sustentação e crescimento de 5%
sobre 2022.
Márcio Leite, presidente da Anfavea, espera em junho próximo
a conclusão de estudos para a segunda fase do Rota 2030. “Esta sinalização é
essencial para indústria planejar nova rodada de investimentos no País”,
sinalizou.
ALTA RODA
NÃO É de hoje o
interesse da BYD em produzir no Brasil, limitado no momento à montagem de
ônibus elétricos em Campinas (SP). O atalho natural da marca chinesa voltou-se
à fábrica da Ford em Camaçari (BA), fechada em 2021. Mas há um fato relevante:
a companhia americana não fechou o negócio, embora possa fazê-lo em breve. O presidente
da República vai à China no fim do mês e talvez isso aconteça. A posição
oficial: “Com objetivo de esclarecer informações equivocadamente divulgadas por
vários veículos de comunicação, dando como concluída a venda das instalações na
Bahia, a Ford comunica que continua ativamente em processo de negociação com
potencial comprador e, portanto, a venda não foi concluída. Informações futuras
sobre este tema serão comunicadas, a depender do progresso das negociações.” A
outra parte também se manifestou: “Em sequência ao protocolo de intenções
assinado com o Governo da Bahia, a BYD vem desenvolvendo diversos estudos junto
a autoridades daquele estado, considerando inclusive potenciais unidades que
possam abrigar uma planta na região. Porém, tudo ainda depende de avaliações e
negociações para a conclusão do processo final. Assim que isso ocorrer, a BYD
emitirá um comunicado oficial com todas as informações”.
ARGO TREKKING com motor de 1,3 L e câmbio automático CVT de
sete marchas pode não oferecer um desempenho marcante, porém suficiente no
trânsito urbano e só razoável em estradas. A potência (107 cv) é 9% maior do
que quando utiliza gasolina e isso se sente claramente. Boa posição de guiar, embora
só ofereça regulagem do volante em altura (do desagradável tipo “queda-livre”).
Assistência elétrica da direção e o acerto de suspensões (vão livre do solo 20
mm maior) destacam-se. O Trekking, automático mais barato do mercado, oferece apenas
dois airbags. Porta-malas de 300 L é mediano no seu segmento. Aceita
espelhamento (com fio) para Android Auto e Apple CarPlay, mas a tela de 7 pol.
é pequena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário