Coluna Fernando Calmon
Nº 1.243 — 23/3/23
Preço e condições de crédito
seguram as vendas de carros
Está difícil de projetar
o que vai acontecer até o final do ano com o mercado de veículos leves. Um dos
pontos relevantes foi a rápida subida de preços, reflexo da combinação de
fatores como inflação e consequente salto dos juros de financiamento para até
perto de 30% ao ano, custos de componentes, escassez de chips, problemas
logísticos e também novas exigências sobre emissões, consumo de combustível e
itens de segurança passiva e ativa.
Segundo a consultoria
Jato Dynamics, nos últimos cinco anos o preço médio saltou 85% e hoje se situa
em R$ 135.000. A média ponderada deve ficar abaixo disso já que os modelos mais
baratos ainda têm peso relevante. Se o critério for o de número de salários-mínimos
(SM) para adquirir um carro, o aperto aumentou de 28 SM para 50 SM no mesmo
intervalo.
Este fenômeno, no entanto,
é mundial. Estudo do DAT (sigla para Curador dos Carros Alemães), citado pelo
site AUTOentusiastas, aponta que os preços subiram lá quase 60% em 10 anos em
um país de economia muito forte e baixíssima taxa de inflação.
Outra pesquisa de
maior abrangência (18 países e 17.000 entrevistados) do banco BNP Parisbas,
denominada Barômetro Automobilístico 2023, registrou a queixa generalizada de
70% dos compradores: sacrifícios financeiros elevados para comprar, abastecer e
manter um veículo. A tendência é de uma elitização de quem pode adquirir ou
financiar um automóvel.
Voltando ao Brasil, a
educadora financeira Aline Soaper destaca: “O consumidor deve analisar
suas finanças pessoais e colocar na ponta do lápis se pode ou
não comprar um carro novo ou usado, ou se o aluguel é uma melhor opção.”
Devo apontar, porém,
que apesar da badalação da assinatura mensal, uma forma de aluguel mais
abrangente por incluir todas as despesas com impostos e manutenção, é uma
operação bastante cara. Exige que se tenha certeza de renda alta e duradoura para
ao final do contrato firmar outro. Em geral atende quem precisa investir em um
negócio próprio e costuma comprar um carro à vista. Assim, desmobiliza o
capital para obter um ganho que pague a assinatura e ainda deixe um bom
dinheiro no bolso.
Incertezas políticas e jurídicas são outras variáveis que vêm afetando o mercado automobilístico. Quanto a isso nada a fazer, além de esperar e observar os acontecimentos.
Novo Sentra avança, mas o Corolla vai continuar firme
Sedãs médio-compactos já
tiveram dias de glória. Corolla, dono do pedaço, conquistou 75% de participação
contra apenas 15% do Cruze e presença tímida de Civic, Jetta e Arrizo 6. O segmento encolheu
em razão do avanço dos SUVs. Estes vendem três vezes mais que os racionais
sedãs. Neste cenário é muito bom o relançamento do Sentra em sua oitava geração.
Vindo do México e isento de imposto de importação conta com estilo moderno bem
superior aos modelos anteriores, em especial desenho do teto e lanternas
traseiras por R$ 148.490 e R$ 171.590.
Suas dimensões
mudaram quase nada: 2.707 mm de entre-eixos e 4.646 mm de comprimento. A largura
(1.816 mm) é 36 mm maior que o Corolla e apenas 9 mm a mais que o Cruze. Porta-malas
de 466 litros tem praticamente o mesmo volume do Corolla. Oferece na versão mais
cara teto solar elétrico ausente no modelo da Toyota. Uma diferença a favor do
Nissan é o conforto dos bancos dianteiros com a tecnologia Zero Gravity agora estendida também para o banco traseiro.
Houve evolução no
acabamento interno. Ganhou 11 porta-objetos e um console central de 7,7 litros.
O quadro de instrumentos tem velocímetro e conta-giros analógicos, enquanto a central
multimídia de 8 pol. oferece boa resolução. Pormenor destoante é o freio de
estacionamento com pedal, uma solução datada. Carregamento por indução do
celular só instalado na concessionária e preço à parte. O novo Sentra vem com
seis airbags e um robusto sistema de assistência eletrônica ao motorista.
Mecanicamente o carro
evoluiu com uma suspensão traseira multibraço. O motor do ciclo Atkinson de 2
litros, somente a gasolina, entrega 151 cv/20 kgf.m e a caixa de câmbio CVT tem
oito marchas. Aí o Corolla ganha de novo com um motor flex de 177 cv (E)/169 cv
(G) e 21,4 kgf.m para os dois combustíveis, além da CVT de 10 marchas. Tanque
de combustível do Corolla é de 50 litros (três a mais) e também ganha no
consumo de gasolina: 11,9 km/l (cidade); 14,2 km/l (estrada). Em desempenho o
Sentra até perde por pouco no 0 a 100 km/h: 9,4 s, apenas 0,2 s a mais que o rival,
embora a massa de ambos seja coincidentemente igual (1.405 kg).
Apesar da nítida e
convincente evolução holística do sedã da Nissan, mais provável que conquiste
alguns pontos de participação de mercado sobre o Cruze, mas incomodar o Corolla
não será possível.
ALTA RODA
Virada de chave total marca o novo C3, um hatch mais parecido com um SUV do que outros que como tal se autointitulam, porém a Citroën optou pelo termo “atitude SUV”. Pura estratégia da Stellantis para diferenciá-lo dos Fiat. Avaliei a versão de 1 litro (câmbio manual) e de 1,6 litro (automático). A primeira utiliza o motor Fiat tricilindro de 71 cv (G)/75 cv (E) que entrega desempenho razoável graças a uma massa de apenas 1.037 kg. A largura da carroceria (1.733 mm) é ponto positivo e a posição ao volante também, além do porta-malas de 315 L. Só não agrada o quadro de instrumentos de pobreza franciscana. Versão com motor mais forte lança mão da antiga, mas confiável unidade de origem PSA: 113 cv (G)/120 cv (E). Bem agradável de dirigir em conjunto com o câmbio 6-marchas e um surpreendente vão livre de 180 mm. Espaço interno superior aos concorrentes, mas conta com apenas dois airbags. Preços: R$ 72.990 e R$ 97.790.
Novo Mercedes-Benz GLC Coupé apresentado na Europa inclui um
pseudo-híbrido (alternoarranque de 48 V) e um híbrido plugável como opções. Uma
novidade é o interessante sistema para indicar o alcance elétrico levando em
consideração fatores externos como temperatura ambiente, uso de aquecimento da
cabine no inverno e refrigeração no verão, além do modo como o motorista
dirige. Isso permite saber em que condições o alcance varia e se afasta dos
números homologados em laboratório. Esse dispositivo ainda não está instalado
nos modelos 100% elétricos, mas deverá ser. Finalmente a transparência de
informações chegou.
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