Em meu último artigo, escrevi sobre o Oldsmobile super 88 sedan, de 1959, um carro de “peso”, que usamos em longos e bons passeios.
Para começar a falar sobre a “linhagem” SL da Mercedes, precisamos, na verdade, voltar ao ano de 1954, ano da estreia do primogênito mais famoso, o 300 SL Gullwing.
SL vem da sigla Sport Leicht ou Sport Ligthweight, já que estamos falando de um exemplar americano (no seriado) e gullwing é a famosa “asa de gaivota”.
Na sequência, vieram o “primo pobre” 190 SL (4 cilindros, 1.9 L e 105 cv, com um lindo design) e os famosos (230, 250 e 280 SL) que também fizeram bastante sucesso .
Tivemos um 230 e um 280 SL em nossa coleção, ambas mecânicas de quatro marchas embora tivessem também sido produzidas com cambio automático e raríssimas versões de cambio mecânico de cinco marchas.
Também um carro espetacular em termos de prazer em dirigir. Não eram super velozes (tinham entre 150 e 170 hp) mas formavam um conjunto muito equilibrado.
O nosso vermelhinho era originalmente alemão, denominado R107 (pertencente à terceira e longeva geração).
Você vê de longe as diferenças ao comparar os faróis, retangulares no alemão e duplos redondos envolvidos por moldura retangular na Americana (coisas da exigência dos faróis Sealed Bean).
Além disso, o carro tinha bastantes equipamentos, como vidros elétricos, travas pneumáticas, regulagem de altura dos faróis, ar condicionado, direção hidráulica, famoso som Becker automático, limpadores de faróis, etc.
Um detalhe exclusivo dos modelos 500. O aerofólio da tampa da mala traseira, preto era emborrachado.
1980 foi o primeiro ano do novo motor V-8 (de alumínio) de 5.000 cc e 240 CV com bons 41 kgm de torque a 3.200 rpm. Era bem esperto.
Esse V-oitão, fazia o carro atingir 225 km/h e partir da imobilidade até os 100 km/h em apenas 7,6 seg.
Um bom câmbio de automático de quatro marchas fechava o conjunto junto com a equilibrada suspensão.
A dirigibilidade da fera é que era um pouco arisca. Um carro para ser domado. Com um entre eixos bem curto, o carro reagia muito rapidamente às mudanças de direção, assustando os mais inexperientes.
Sua irmã de sangue, o SLC (uma versão alongada de quatro lugares) possuía uma dirigibilidade muito superior, entretanto, não tinha o charme do conversível e sempre teve seu valor “diminuído” entre os colecionadores, no decorrer dos anos.
Aconselhado por amigos, instalamos amortecedores Koni que deixaram o carro bem mais “na mão”.
Em uma das viagens que fiz estava eu dirigindo a “Meca” a 140 km/h na rodovia Dutra, ainda no trecho da baixada fluminense. Piloto automático fixado nesta velocidade, de repente olho pelo espelho e venho um opalão se aproximando.
Aquele jeitão que conhecemos do opala (balançando mesmo na reta).... Com a mão acionei o piloto automático para ir aumentando a velocidade e verifiquei que o opalão vinha a 160 km/h.
Não resisti. Olhei para ele, dei um tchau no retrovisor e afundei o pé. Para minha surpresa a Mercedes reduziu de quarta para terceira e deu um tiro para frente. Em segundos, sumi. Realmente, esse Mercedes era muito rápido.
Tivemos uma outra igual prata ano 1982 e o comportamento era bem diferente. Não sei se fizeram alguma alteração na relação do câmbio, mas o fato é que a vermelha era mesmo uma pimentinha.
A história triste ficou por conta de uma outra viagem, na mesma rodovia.
Estava voltando para o Rio de Janeiro, num domingo, à tardinha. Meu pai dirigia seu Mitsubishi Diamante LS novinho em folha.
Estávamos no verão, pois me recordo que estava anoitecendo um pouco mais tarde. Eu o seguia relativamente de perto, quase como em escolta.
O Mitsubishi tinha um V-6 24 V 3.000 cc moderno, com 202 hp, mas é claro que se eu quisesse, deixava-o longe. Mas, por diversas questões, inclusive de hierarquia, deixei meu pai seguir na frente.
O fluxo estava meio pesado. Andávamos entre 80, 90 km/h, um pouco monótono e eu observava que um fusca estava na frente do meu pai.
Dei um sinal de farol uma ou duas vezes para ver se ele também piscava para o fusca sair da frente, pois via que na frente do fusca parecia que o transito estava livre.
Ficamos uns bons cinco minutos nesse compasso de espera. De repente, meu pai parou. Sim, ele parou o Mitsubishi em poucos metros.
Pegou-me de surpresa. Pé no freio com violência. O Mercedes, sem ABS, travou até o estepe e entrei em cheio na traseira do Diamante.
Por ironia do destino, destruí a frente do Mercedes. O capô dobrou, vazou água do radiador, enfim, um estrago grande.
No Mitsubishi, por incrível que pareça afundou um pouco o para-choque. Nem chegou a quebrar as lanternas.
Resultado global foi que engavetamos cinco carros. Nós ficamos no meio..... Na frente do fusca um outro carro freou de repente. Justificou que havia sido fechado, o fusca chegou a parar, meu pai deu um leve empurrão no fusca, eu bati no Mitsubishi e atrás de mim um outro carro, acho que um VW Logus, afundou minha traseira.
Como o Mitsubishi tinha seguro inclusive contra terceiros, acionamos o mesmo. Levei o Mercedes para o “João Ladrão”, na Gávea, no Rio, conhecido como um bom recuperador de carros, mas depois de três meses parado lá e um orçamento que naquela época somava mais de R$ 20.000,00. Desistimos.
O seguro aconselhou a levar numa outra oficina, no Catumbi, que segundo eles era especializada em carros importados.
Infelizmente, o carro não ficou bom. Não trocaram o capô. Pintaram o carro todo mas o teto rígido ficou com coloração diferente,... enfim. Uma pena.
Ficamos um pouco desgostosos com o carro que acabamos vendendo para um safado que nem pagou o carro na totalidade.
Cheguei a ver mais uma vez a Meca numa oficina onde este novo “dono” resolveu pintar o carro de preto. Sem dúvida, um fim negro para um carro tão glorioso.
Espero que tenham gostado. Até à próxima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seu comentário