Os brilhos e reflexos do
antigomobilismo em
Araxá
Países e automóveis têm relação imbricada, marcam-se
por eventos distinguidos entre os demais. Assim, como o Salão do Automóvel reluz
superiormente no Parque Anhembi da capital paulista, em matéria de variedade e
elegância do antigomobilismo, o destaque é o Brazil Classics Fiat Show,
anos pares, em Araxá, estância hidrotermal do Alto Paranaíba, MG. Neste não
diferiu.
Há situações sempre favoráveis, como o patrocínio da
Fiat Automóveis e suas associadas e a imponência do hotel, misto de castelo e
palácio, dominando a paisagem enfeitada por jardins de Burle Marx, fontes de
água, lagos. A mescla dos veículos multicoloridos em frente à construção
enfatizam a arquitetura, em composição plástica superior à oferecida por
mostras sul-americanas e acima do trópico.
Neste ano, o 20º do evento em tal sítio, a chuva que
lavou parte do feriadão de Corpus Christi amainou o entusiasmo de alguns
colecionadores que, apesar de inscritos, não compareceram, possivelmente com
delicado receio de molhar seus automóveis... Mas, preciosismos e radicalismos à
parte, nos quase 300 participantes havia linha comum: veículos, raros, caros,
bem cuidados ou bem restaurados.
Uma ou outra derrapagem, como aplicação de
pintura metálica em época ou marca que não a utilizava, rodas e pneus em
medidas confortáveis embora não originais, referências históricas torcidas,
questões pontuais, desclassificatórias para obter a placa preta, rótulo de
originalidade, mas, no caso, onde tal objetivo não era buscado pela Federação
Brasileira de Veículos Antigos, que apadrinha o evento, eram desprezíveis
relativamente ao conceito e em meio às marcas e modelos imponentes.
Referências importantes em país de pouca lembrança, o
centenário Benz 1911, ex-Cardeal Arcoverde; o espanhol de qualidade
Hispano-Suiza 1916, nivelados aos Rolls-Royce; representantes de marcas
extintas - Maxwell Touring 1917, Graham Paige Roadster 1928 e
Huppmobile Phaeton 1923 pela mão de Marcus Meduri presidente do novo Veteran
Car Club de SP – e os sempre impactantes Cadillacs. Nestes, destaque
e louvação à premiada família Rigotto Gouveia, arrasando com unidades
conversíveis dos anos 50 e uma limousine.
Da marca, igualmente
atraentes, os premiados limousine Derham e conversível dos
paranaenses colecionador Luiz Gil Leão e restaurador Marco
Conte. Curioso Landaulet de 1923, exibia o conceito social da época,
onde o chauffeur, como se dizia, ía exposto às variações do tempo,
e unidades da virada da década de 20, com motor V 16. Caras raridades,
produzidas e consumidas em pequena quantidade, tendo em vista a demanda
contraída no período de crise norte-americana.
No time de impacto, Packard
Super Eight (motor de oito cilindros em linha e grande cilindrada) luxuosa
carroceria Dietrich, de 1934. Dentre os Rolls-Royce, dois
Phanton V, feitos em 516 unidades, entre 1959 e 1964, e um Silver Wraith marrom,
1952, em carroceria H. J. Mulliner.
Rolls Silver Wraith Springfield 1923, de Rubio Fernal, prêmio Roberto Lee de excelência (foto Giacomo Favreto) |
O Silver Wraith Springfield de 1923 –
raridade inglesa montada nos EUA – ganhou o prêmio Roberto Lee e o colecionador
brasiliense Rúbio Fernal engrossou o reconhecimento à frota da capital, com
premiados Austin Healey, de Renato Malcotti, e o último Ford Landau Presidencial
que serviu ao Palácio do Planalto, levado pelo Museu Nacional do Automóvel.
O premiado Landau Presidencial do Museu Nacional do Automóvel (foto Teresa Gago) |
Sob o aspecto de cultura automobilística, resgate
pelos irmãos Marx de Kombi Barndoor, alemã de 1950, restrito modelo com enorme
tampa para o motor 1.100, e quatro veículos recém importados cumpriam a função:
inglês Aston Martin DB2; francês La Licorne; italianos Alfa Romeo 1900
carroceria Touring e Giulia SS carroceria Bertone, todos premiados. Ao todo
distribuíram-se 63 prêmios.
Enfeites
Subeventos ocorreram sob a confortável sombra do
Encontro. Leilão – que se sedimenta e educa participantes – vendendo 35% dos
105 lotes inscritos, recordistas R$ 400 mil, por Ferrari 365GT Coupé e
comportamentos curiosos como os dos donos de Ford Maverick GT e motoneta Vespa, não
provocados pelos respectivos lances de R$ 110 mil e R$ 17 mil.
No leilão,
constatação preocupante: sensível parte dos automóveis era recém-importada, às
vezes com reforma rápida, sem qualidade, fomentando comércio, descaracterizando
a legislação que autoriza a importação dos antigos para incrementar o
patrimônio automobilístico nacional.
Hábil, fazendo lances, José Luiz Gandini,
representante nacional da Kia bancou R$ 390 mil por um Ford Thunderbird 1957,
engrossando sua coleção de conversíveis V8 automáticos. A feira de peças foi contida, porém, adequada, rica,
movimentada, variada.
Do emblema, da calota, da revista antiga e, até, como
adquiriu o Curador para o Museu Nacional do Automóvel, em Brasilia, raro
exemplar de pequena série de mini fórmulas construída pelo piloto e recordista
brasileiro de velocidade Norman Casari, ao final dos anos 60.
Evento elegante, contava com artistas aptos a
retratar veículos dos colecionadores e o jornalista Jorge Meditsch, com
ilustrações de suas fotos dos antigos, tratadas por computador na conhecida
exposição Autorretratos.
O colecionador carioca Paulo Lomba promoveu duas
premiações. Uma, Esportivo Nacional, ao Brasinca 1965 do organizador Otávio
Carvalho, e uma homenagem a Ferdinand “Butzi” Porsche, recém
passado, criador do mítico 911. No desfile de variados exemplares, ao volante
do modelo anterior, o 356, insólita presença de André Biagi, maior colecionador
brasileiro de Ferraris.
No evento, eleição para a Federação Brasileira de
Veículos Antigos, com repetição de metas anteriores não alcançadas.
Presente, interessado, discreto, simpático, sem
segurança ou enxame de assessores, o governador de Minas Antônio Anastasia.
Ficou todos os dias.
Réplica?
Questão cultural, no átrio do Tauá Grande Hotel,
exemplar do Benz Patent Wagen, primeiro veículo útil e auto móvel. De
propriedade dos Rigotto, adquirido há dois anos à Mercedes-Benz, e
porta o número 77 da nova leva produzida.
Réplica?
Não. Feito
com desenhos originais, materiais idênticos, por processos assemelhados, e pelo
mesmo fabricante, não é réplica pois nada copia de veículo extinto, mas projeto
com produção não seriada. Insólito, peculiar. Réplica ? Não.
Benz Patent Wagen. A história do automóvel útil começa com ele. |
Dualogic é o
sistema automatizador da caixa de marchas dos Fiat de maior preço. Envolve
eletrônica, eletricidade e hidráulica e, na prática, faz um carro com
transmissão mecânica funcionar como automático. Não fica por aí, abandonando o
uso do pé esquerdo pela ausência do pedal da embreagem, como nos automáticos – aliás,
a maneira correta em um e outro, é usá-lo para frear. Tem duas e opostas
aplicações: para quem não gosta de trocar marchas, usufruindo da economia de
movimentos no para-e-anda cansativo de nossas ruas; e para apreciadores do
cambiar com respostas rápidas – o Dualogic, para estes motoristas, faz a
mudança pela alavanca ou por aleta sob o volante, em tempo muito menor. Em ambas
as situações consome menos energia que o câmbio automático.
Ao surgir, há
quatro anos, seguido por similares da Volks e da GM, era lento no trocar
marchas, dava tranco no carro. Você sabia que o carro passante era automatizado
pelo balançar da cabeça dos ocupantes nas passagens de marchas. E tinha lógica
atrapalhada e de ação lenta para reduzir.
Agora isto mudou. A Fiat e a Magneti
Marelli, produtora do sistema, traçaram evolução na programação eletrônica e o
resultado prático se nota na passagem das marchas, mais rápida em quase ½
segundo, na objetividade da redução, funções adicionais, gera marcha lenta
mais alta para manobrar sem pressionar o acelerador e de deter o carro em
ladeiras de até 8% para arrancada sem pisar no pedal do freio.
Enfim, agrada aos
extremos em opção a R$ 2.500, hoje marcante no novo Bravo, e em breve permeará
a outros Fiat, como disse Cláudio Demaria, engenheiro-chefe da Fiat, na única
frase clara na entrevista em que as explicações dos engenheiros da Fiat se
enovelavam nas dúvidas dos engenheiros jornalistas.
Bravo
Mais jeitosa no segmento, a linha Bravo 2013 mudou a
listagem. Sai o Absolute, manual. Mantém o torcudo motor FPGT 1.8 16V e 132 cv.
Versões Essence a R$ 53.140; com opção Dualogic R$ 55.600; novo Sporting R$
58.140 (o pacote diferenciativo vale mais que os R$ 5 mil de diferença);
Dualogic Plus a R$ 60.600. T-Jet 1,4-litro turbo, gasolina e câmbio manual de
seis marchas, R$ 66.230,00. Preços com IPI reduzido, válidos até final de
agosto.
Bravo Sporting 2013, melhor pacote da linha |
Roda-a-Roda
Baixa – A venda de 12.288 carros importados em maio significou 4% de
crescimento relativamente a abril, e menos 35,6% quanto a maio de 2011. Alta do
IPI e crescimento do dólar são as causas. A Abeiva, associação dos
importadores, preocupa-se.
Aviso - Diz Flávio
Padovan, presidente, o fim dos estoques com IPI antigo irá majorá-los, as
vendas cairão e a contenção de custos passará por demissões. Hoje, a rede de
distribuição emprega 35 mil, em 882 concessionárias.
Corte – A JAC começou
cortar pessoas no escritório cental.
Parrudo – Novo Kia Mohave,
duas motorizações: diesel 3.0 V6, 24 válvulas, 256 cv, transmissão automática
com 8 velocidades, a R$ 189.900, e gasolina, 3.8, V6, 24v, 275 cv. Transmissão
pobre, automática, 5 velocidades, a R$ 169.900. Em ambos, bom pacote de
confortos e segurança, sensações com o diesel são incomensuravelmente
superiores.
Melhor – Pesquisa
do instituto JD Power com a revista What Car? sobre satisfação
de clientes, deu a Jaguar como fabricante número 1 na Inglaterra. Dentre 18 mil
pesquisados sobre desempenho, conforto, design, qualidade, custos
de manutenção, os donos de Jaguar são os mais felizes. Superaram todos os
demais – incluindo Rolls-Royce, Bentley, Lotus.
Quem diria – Há anos
revista norte-americana definiu o Jaguar com ácido humor, dizendo ser o
melhor automóvel do mundo – quando funciona. Ao que parece deu resultado o
bom trabalho de saneamento feito pela Ford e mantido pelo grupo Tata, atual
dono.
Melhor? - Pessoal da Ford
ri: quem andou no novo picape Ranger, com motor diesel Ford, cinco cilindros,
200 cv, diz ser o melhor no serviço.
Nicho – Engenharia
da Fiat surpresa com o rendimento do Chrysler V8 300C – não importado por esta
associada. Quer validar a versão para o nosso mercado.
Clientes – Se você
tem amigo com deficiência visual e interessado em veículos, avise-o: a Ford
Credit é a primeira financeira de montadora no Brasil a implantar página de
internet acessível.
Volta – O Brasil quer
voltar a produzir veículos bélicos, e o primeiro ficou pronto: é o blindado
anfíbio Guarani. Diesel industrial FPT, 383 cv, câmbio automatizado leva até 11
soldados. Desenvolvido com a Iveco, terá fábrica exclusiva para as 2.044
unidades do contrato inicial.
Situação – Líder no
mercado, preocupada com a queda de vendas, previsível pelo aumento de preço dos
caminhões em função da mudança dos motores para obedecer às novas regras de
emissões Euro 5, a MAN faz o Feirão Sob Medida em todos seus revendedores. Um
dos atrativos, garantia de 2 anos.
Treino – Por conta
de restrições impostas ao tráfego aéreo carioca durante o Rio +20, a Gol
suspendeu 41 voos nos dias 20, 22 e 23.
Antigos – No ano em
que a Federação Brasileira de Veículos Antigos comemora 25 anos de fundação,
Henrique Thielmann, reeleito presidente, não apresentou propostas, mas, comentários sobre pautas antigas: fazer os carros andar; concatenar eventos;
aplicar-se na legislação de importação de carros. Como não há projetos, não há
compromissos para cumprimento. Nada muda.
Gente - Roberto
Cortes, presidente e CEO da MAN Latin America fabricante dos caminhões e ônibus
Volkswagen e MAN, eleição. OOOO
Personalidade de Vendas da América Latina, em 2012, pela Associação dos
Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil. OOOO Paolo
Del Noce, engenheiro, turinês, 45, experiência. OOOO Diretor de Veículos de Defesa da Iveco, para produzir o anfíbio
blindado Guarani. OOOO Substitui o competente Appio
Aguiari, criador recém aposentado. OOOO
Fabrício Migues, jornalista, novo pouso. OOOO Na
assessoria da Nissan. Era da JAC. OOOO
Excelente reportagem sobre o evento de Araxá. Como sempre, o Nasser escrevendo com todo o conhecimento sobre nossos antigos. Faltou o relato da justa homenagem ao antigomobilista Og Pozoli, feita durante a premiação.
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