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domingo, 26 de abril de 2015

O CUSTO DOS AUTOMÓVEIS NO BRASIL É UM ASSUNTO QUE PREOCUPA SOBREMANEIRA OS CONSUMIDORES. AFINAL UM CARRO POR AQUI CUSTA O DOBRO DO QUE NA EUROPA, NO JAPÃO E NOS ESTADOS UNIDOS. ESSE ABUSO É ATRIBUÍDO, REGRA GERAL, À GANÂNCIA DAS MONTADORAS, MAS O QUE DIZER QUANDO SE ESCLARECE QUE DE 34% A 38% DO PREÇO É COMPOSTO DE IMPOSTOS, TAXAS, ETC?


Por que o carro no Brasil custa caro? 
O que ninguém fala.

Orlando Merluzzi

As publicações sobre esse tema geralmente colocam as montadoras como vilãs praticantes de margens de lucro abusivas. 

A realidade é diferente e para fazer essa análise de modo independente e sem emoção ideológica é preciso também conhecer o lado interno das montadoras, algo que nem toda mídia do setor conhece.

A razão dos veículos produzidos no Brasil custarem o dobro do que em outros países não se justifica apenas com a carga tributária e com as margens de lucro das fábricas. 

Afirmo que as margens das montadoras não são tão elevadas assim e há no Brasil montadoras que perderam muito dinheiro nos últimos anos. 

É certo que algumas ganharam muito dinheiro também.

A carga tributária por aqui está entre 
34% e 38% do preço final do veículo. 

Países europeus cobram em média a metade desse valor (14% a 18%). 

No Japão é 9% e nos EUA 
chega a 7%, em média.


Mas tem muito mais coisa que precisa ser considerada nessa análise e que prefiro chamar de “realidade local” e não de “custo Brasil”.

A mão-de-obra para a indústria custa em média 2,5 vezes o salário que o funcionário recebe e não são somente os encargos sociais e benefícios que compõe esse custo extra. 

A necessidade de treinamento e desenvolvimento de competências no Brasil custa mais caro do que em outros países.

O nível de educação básica no País é baixo, comparado com países desenvolvidos ou até em desenvolvimento. 

Isso não é um problema somente nosso e geralmente ocorre nos países latino-americanos. 

Essa questão implica diretamente na produtividade. Só a Índia e a Espanha possuem produtividade menor do que a nossa. 

A baixa produtividade resulta em aumento de custo da produção.

Um funcionário que recebe no Brasil 
R$ 5.000 / mês custa para 
montadora R$ 12.500 / mês. 

O fornecedor também tem esse custo extra. A empresa de limpeza, de segurança, de transporte, alimentação e outros serviços carregam também esses custos, o que por sua vez será naturalmente incorporado nos custos da operação da montadora.

O frete que leva o veículo da fábrica para as concessionárias custa mais caro do que em países desenvolvidos. 

Quem paga o frete é o cliente final.


Adicione-se a isso os elevados custos logísticos e também as taxas cartoriais.
Há alguns casos emblemáticos de veículos produzidos aqui e exportados para países em que são vendidos mais barato do que o preço de varejo no Brasil. 

Não demorou para que alguns setores da mídia apontassem a ganância de lucro no Brasil, em benefício das vendas mais baratas para países como México e Argentina.

Qualquer gestor com curso básico de administração sabe o que significa venda de oportunidade com contribuição marginal. 

Esses casos ainda são suportados por incentivos fiscais e tributários no país comprador e exportador, além dos efeitos de variação cambial que incidem diferentemente em cada país e acentuam-se quando a montadora possui operações nos dois países, permitindo compensações bilaterais. 

Trata-se de gestão econômica. 

Essa análise complexa não é tão simples quanto parece e requer conhecimento das operações. 

É leviano afirmar que as montadoras vendem mais barato para o exterior e aumentam o preço no mercado interno.

O investimento realizado no Brasil precisa dar retorno aos investidores, senão, eles vão investir em outros países. 

A montadora ou os fornecedores estrangeiros que investem aqui não são entidades beneficentes. 

Todos estão aqui para ganhar dinheiro e justificar para seus acionistas o investimento que foi feito no Brasil.

As taxas de retorno sobre investimentos no Brasil devem ser maiores do que as taxas de retorno em locais estáveis como EUA, Europa e Ásia, simplesmente porque no Brasil o custo anual do capital está bem acima de 12% enquanto em países estáveis, com “rating” de investimento saudável e com inflação abaixo de 4% ao ano, a taxa de retorno esperada é bem menor do que isso, geralmente a metade. 

Para taxas de retornos maiores as margens têm que ser maiores, obrigatoriamente. Não há milagre.

Tudo isso vai para o preço do veículo.

O Brasil nos últimos 40 anos não adotou uma política que incentivasse o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia ou transformação com grande valor agregado no produto final. 

Por enquanto, seguimos sendo exportadores de insumos básicos e commodities e graças a indústria automobilística o Brasil pode se destacar dos demais países latino-americanos.

Porém, agora perdemos a posição para o México, que foi mais competente em fazer acordos bilaterais com vários países do mundo, enquanto o Brasil segue perdendo tempo com acordos comerciais que pouco agregam as nossas balanças.

É por isso tudo que o carro 
custa tão caro no Brasil. 

Qualquer negócio estruturado de prestação de serviços no País possui margens muito maiores do que as margens praticadas pela indústria automobilística. 

Bancos, construção civil, padarias, restaurantes, indústria de bebidas, indústria de cigarros, indústria do entretenimento, todos esses setores praticam margens de lucro muito mais elevadas do que as montadoras, mas atacá-los “não dá Ibope” como atacar as montadoras.

As montadoras são tão vilãs 
quanto são vítimas.

Vamos seguir torcendo para que os novos investimentos desistam de tomar a direção de outros países e retornem para o Brasil. 

Neste mês de abril de 2015, o Brasil acaba de perder mais uma 
montadora para o México.

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Fonte: Oleodieselnaveia.com / Ricardo Fernandes

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