Alta Roda
Fernando Calmon
Coluna Nº 672
10 de Abril de 2012
MORRER NA PRAIA
Finalmente,
o aguardado novo regime automobilístico brasileiro foi anunciado na semana
passada, às vésperas dos feriados da Páscoa. Apesar de fama (merecida) do País de
quebra de regras, protecionismo e excesso de intervenção na economia, é apenas o
terceiro programa, em mais de meio século, desde o pioneiro em 1956, quando se
criou o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia). O segundo, em 1995,
também se implantou sem grandes sobressaltos.
Depois
de 56 anos, o mundo mudou bastante. E ficou mais fechado ao comércio, depois da
crise financeira mundial de 2008. Seria ingenuidade supor que o Brasil devesse
bancar a vestal em baile de Carnaval. Aliás, pesquisa de instituto especializado
no exterior aponta o País só em nona posição, com 49 medidas de “defesa
comercial” no período, contra 242 da União Europeia, 112 da Rússia e 111 da
Argentina.
Em
setembro do ano passado, anunciaram-se as linhas gerais da nova política para o
setor. Implicou aumento de 30 pontos percentuais (pp) do IPI para veículos
leves de todas as origens, inclusive os produzidos aqui. Ao mesmo tempo,
criaram-se regras para dispensar esse aumento, se cumpridas certas condições agora
anunciadas.
Na época, os importadores gritaram que os compradores seriam
prejudicados e a ausência de concorrência externa elevaria os preços. Seis
meses depois não subiram e até diminuíram, à exceção de modelos importados de
médio e alto preço. Ainda assim, se absorveu parte dos ônus, pois a taxa de câmbio
camarada para importação deixa grande margem de manobra.
O
regime anunciado é complexo e tomou a maior parte dos debates no III Fórum da
Indústria Automobilística, da Automotive Business, nessa 2ª feira, em São
Paulo. Nem tudo ficou completamente esclarecido pelo pouco tempo para análises
pré-fórum. Mas se trata de um programa coerente, com começo, meio e fim, entre
2013 e 2017, focado na atração de novos fabricantes, aumento de investimentos, incentivo
ao uso de peças nacionais e pesquisa/inovação dentro do País. Acaba com o
tradicional índice de nacionalização, substituindo-o por cálculo de compras
internas vinculado à redução total dos 30 pp adicionais de IPI, o que poderá
dobrar o uso de componentes regionais do Mercosul.
Marcas
que se aproveitaram da frouxidão de regulamentos anteriores terão dificuldade
em manter operações rentáveis no Brasil. A previsão para 2017 é um mercado
interno de 5 milhões de unidades (com caminhões e ônibus), a partir de 3,8 milhões
em 2012. Até aquele ano, a concorrência será bem maior, com mais fabricantes
produzindo internamente sob as mesmas regras e estimulados a oferecer modelos
atuais e inovadores para obter redução de impostos.
Outros
aspectos desses regimes serão abordados pela coluna, inclusive sobre o provável
cenário de preços reais, considerada a inflação, aquilo que realmente interessa
ao consumidor. Abriu-se, na verdade, uma janela de cinco anos para melhorar
competitividade e modernização da produção brasileira. Ao governo, porém, caberão
ações fundamentais de combate às ineficiências estruturais e aos altos custos visíveis
e invisíveis do País, de sua responsabilidade, sem as quais vamos nadar, nadar e
morrer na praia.
PRIMEIRO recuo de vendas no
trimestre inicial, desde 2003, aconteceu agora em 2012. Na realidade foi de
apenas 0,8% em relação a 2011, atribuído às dificuldades de aprovação de
financiamentos ao consumidor. A considerar, ainda, notícias de que o governo
patrocinaria redução de juros, via bancos estatais. Pode ter tido impacto sobre
expectativas dos compradores.
CRUZE Sport6 engrossa
disputa entre hatches médios-compactos, de visual tão atual como o do Peugeot
308. Espaço interno igual ao do sedã Cruze, mesmo motor de 1,8 l/144 cv, câmbio
manual ou automático de seis marchas e até teto solar na versão de topo LTZ.
Suspensões e direção muito bons. Preços, puxados por equipamentos, de R$ 64.900
a R$ 79.400, limitarão vendas.
RACIONALIZAÇÃO do número de versões
foi a estratégia da Mercedes-Benz para seu roadster SLK enfrentar o aumento do
IPI. Antes havia três opções, agora só a de R$ 249.990 e, mais adiante, a AMG
sob encomenda. Fábrica espera redução próxima a 50% na comercialização de 2012
em relação a 2011. Ano passado compras foram antecipadas para fugir do imposto.
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