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domingo, 23 de março de 2014

QUEM NÃO ADMIRA ESSE CARRO QUE TEM NA PONTA DO CAPÔ DO MOTOR UM AMEAÇADOR JAGUAR? É UM CARRO DE LINHAS ELEGANTES, MODERNAS, DE ALTO LUXO, MAS DIGAMOS MECANICAMENTE COMPLICADINHO. SAIU DAS MÃOS DOS INGLESES PARA A FORD QUE ACABOU POR VENDÊ-LA PARA A INDIANA TATA MOTORS (JUNTO COM A LAND ROVER). O NOSSO COLUNISTA RICARDO CAFFARELLI FALA DA MARCA E CONTA UMA INTERESSANTE HISTÓRIA QUE VIVEU NUM JAGUAR.




Antigomobilismo


Por Ricardo Caffarelli






“O Teto solar voador do Jaguar”

(The Flying Jaguar´s Sunroof)



Desta vez, escolhi para falar de um clássico “moderno” de uma marca que aprecio muito. O JAGUAR é um automóvel que não pode ficar fora da lista dos 10 mais importantes do mundo, no que diz respeito principalmente ao que ele proporcionou às pessoas. 

Podem falar que Jaguar quebra a toa, que possui mecânica muito complicada, mas a marca é exemplo de desempenho, tecnologia, conforto e segurança.
Bem, em parte isso tudo é verdade, mas não há como negar que ele tem um design diferenciado. 

Quase todos modelos que foram produzidos são de extremo bom gosto e beleza.

A marca, fundada pelo Sir Willian Lions (1901-1985), em 1922 (inicialmente denominada Swallow Sidecar Company), apelidada de SS, viu-se obrigada a mudar de nome após o término da Segunda Guerra Mundial.

Afinal, uma marca com a sigla da temida SS de Hitler não pegava bem. Nascia assim a Jaguar Cars Limited.

Em nossa coleção, tivemos diversos modelos como: MK-V, MK-VII, MK-IX, MK-II, MK-II “S”,XJ-S coupé e conversível e esse XJ-6 L, de 1986, das fotos, o
 último Jaguar feito pela própria Jaguar, pois, no ano seguinte (1986), a Ford adquiriu a empresa e mudou radicalmente seus modelos. 


A linha XJ foi lançada originalmente em 1968 e pelos planos da empresa teria uma vida de aproximadamente de sete anos. 

O sucesso foi tanto que ela extendeu-se por mais de 20 anos. A série I (cara alta) foi produzida entre 1968 e 1973. A série II entre 1973 e 1979 e a derradeira série III entre 1979 e 1992.

Infelizmente, não tivemos os belíssimos modelos esportivos como o XK-120 e seus sucessores (XK-140 e XK-150), bem como o modelo E-type. 
Modelos hoje raros e de alto valor em todo mundo. Tão apreciados que algumas empresas constroem réplicas do XK-120 até hoje com mecânicas modernas e eficientes.

O Jaguar em questão foi adquirido de um senhor ex-funcionário do Banco Mundial, aqui no Rio de Janeiro, mesmo. 

Ele foi importado “usado” dos Estados Unidos (ele usava o carro lá). Junto com o carro ganhamos um bom estoque de peças, algumas que tenho até hoje (atenção jaguaristas de plantão). 


O modelo era o XJ-6 L um sedan com motor de 6 cilindros (4.2 litros) e chassi longo, ou seja as portas traseiras tinham 13 cm a mais, do que as da frente, proporcionando um espaço bem generoso para os ocupantes do banco traseiro. 

Com uma cor vinho, que os americanos chamam de Burgundy e o interior creme, a combinação era bastante feliz. 

O modelo era muito completo. Ar condicionado, direção hidráulica, freios a disco nas quatro rodas (sem ABS), computador de bordo e teto solar. 

Seu interior era bastante clássico. O painel folheado de raiz de nogueira, material também usado no console e nas portas, era belíssimo. 

Instrumentos redondos indicavam velocidade, rotações por minuto, pressão de óleo, combustível (em cada um dos dois tanques), temperatura do motor e voltagem da bateria. 

Já o computador de bordo indicava informações como velocidade média, consumo médio, consumo instantâneo. 


As primeiras vezes que usei o XJ-6L fiquei perdido, pois as informações estavam em unidades de medida americanas (consumo em MPG – Miles per Gallon), mas, depois descobri um botão que as trocava pelo sistema métrico. Assim passei para Km/litro e tudo ficou mais simples.

O modelo feito para os Estados Unidos tinha aquelas tradicionais mudanças para atender a rigorosa legislação americana. 

Para-choques ligeiramente mais “gordinhos”, faróis “sealed bean”, umas luzes laterais que sinalizavam mudança de posição (setas) e, é claro, velocímetro em milhas.

Esse foi o último sedan com a famosa suspensão traseira independente de quatro amortecedores (dois de cada lado), discos de freio internos. 
Famosa por deixar o sedan macio e estável ao mesmo tempo. 

Um conjunto tão bom, tão bom, que na década de 80 surgiu uma mistura interessante da tecnologia americana com a inglesa. 

A receita prometia unir o melhor dos dois mundos. O carro, chassi, suspensão, freios, tudo original Jaguar. 

O motor e câmbio, V-8 GM 350 polegadas cúbicas. Existem alguns carros assim aqui no Brasil. Já andei. Fica muito bom! 

Podem acreditar. Perdoem-me os mais puristas, mas eu se pudesse teria um hoje assim.

A conta é simples. Os XJ-6 nunca tiveram um desempenho “de assustar”. Este nosso que já tinha injeção eletrônica tinha 202 hp (os mais antigos carburados geravam 180 hp), com um corpo de 1.830 kg e um câmbio de três marchas, não fazia milagre. 0-100 km/h em 10,5 seg. e velocidade máxima de 204 km/h. (Eu cheguei facilmente a 190 km/h uma vez). 

Os XJ-12 tinham um grande e pesado motor 12 cilindros. Claro, andavam mais que o seis (chegavam a 230 km/h), mas não tinham arrancada, bebiam muito e eram o terror dos mecânicos para qualquer manutenção que fosse necessária. 

Com um bom V-8 de Camaro, por exemplo, você tinha um carro com respostas muito mais rápidas, além de um motor muito confiável e de manutenção bem mais barata. 

Criava-se assim o XJ-8. Ou, XJ-9 que era na época uma brincadeira, invertia-se o 6 transformando em 9....

A esta altura da reportagem devem estar se perguntando, mas porque o título,”Teto solar voador”,....

Na época emprestamos um Jaguar MK-II que estava em maravilhoso estado para ficar exposto na concessionária da marca no bairro do Humaitá (Rio de Janeiro). 

A contrapartida foi então eles fazerem uma revisão no Jaguar, que estava bom, mas como queríamos usar com frequência, achamos por bem fazer uma boa manutenção.

Conhecemos nesta época o Sérgio Martins que era diretor técnico da marca no Rio. Ele então levou o carro para sua residência e foi fazendo tudo o que precisava. 

Resolvemos então fazer retoques e tirar alguns poucos pontos de corrosão. Infelizmente, ao sacar o para-brisa dianteiro, o mesmo rachou. 

O carro nos foi entregue com mecânica revisada, mas como estava demorando chegar o para-brisa novo, re-instalamos provisoriamente o antigo.

Um belo dia eu precisei ir de São Conrado, onde morávamos, até uns galpões de uma chácara de um amigo nosso onde tínhamos alguns veículos guardados e também onde funcionava uma oficina. 

Eu fui moderando a velocidade, pois tinha receio do para-brisa soltar-se. Na volta, sentindo confiança não respeitei muito os limites de velocidade. 

A estrada tinha uma grande reta e fui gradativamente acelerando, acelerando... só que tinham umas lombadas na estrada. Numa dessas tomei um baita susto. 

Um barulho forte que fez gelar da cabeça aos pés em segundos, achando que o para-brisa tinha soltado. 

Ao olhar para o teto do carro, onde o barulho continuava, percebi que o teto solar tinha aberto sozinho. 

Apertei o botão para fechar e segui em frente. Quando cheguei em casa, meu pai viu do alto estacionando na rua. 

Eu sai do carro e ele gritou, “Rica, você esqueceu de fechar o teto solar”.... Tomei um susto. Quando olhei cadê a parte de cima do teto, a parte de chapa? Só tinha a interna.

Foi aí que a ficha caiu.... Lembrei da hora do barulho e comentei que a folha metálica do teto deveria ter se desprendido.... ah, meu pai ficou muito bravo..., me fez voltar ao local (distante uns 30 km) e procurar. 

Voltamos devagar, pelo acostamento, tentando ver em volta da estrada num matagal enorme se achávamos a peça.... Nada. Aquilo voou longe, que nem uma pipa...

Solução, tivemos que encomendar além do para-brisa, uma folha de teto solar....

Essa história rendeu muito na época.

Usei muito este carro para locações de casamentos, novelas e até um serviço especial uma vez onde um filho alugou o carro com motorista para levar seu pai num jantar de comemoração do seu aniversário. Isso prova o quanto especial e querido é o Jaguar.

Espero que tenham curtido o relato e as histórias do Jaguar e até a próxima!

Um abraço.
Ricardo

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