Coluna nº 4012 - 4 de outubro de 2012
O Salão de Paris e das
incertezas
Até dia 14, a mais
atrativa mostra europeia de veículos estará em sua base quase secular numa das
portas parisienses, a de Versailles, cumprindo a missão de ser vitrine de
produtos, arauto de tendências, cenário para pedidos, protestos, palco para lobby explicito de fabricantes franceses e
europeu.
Com enorme cobertura de Imprensa - neste ano 13.000 jornalistas se
credenciaram e inquantificadas mídias dos novos tempos de internet divulgaram o
conteúdo. Muitos lançamentos, alguns aportarão por aqui, incluindo o VW Golf em
sétima edição.
Entretanto, maior que as especulações do que virá, ou não virá, é
o clima que deve se assemelhar ao que se respirava às vésperas do Baile da Ilha
Fiscal, esbórnia social, última festa no Império, antes que Pedro II se
aborrecesse com as cobranças e entregasse a condução do País aos Republicanos.
O clima é, poucas são as marcas europeias capazes de reservar espaço para o
Salão de 2.020. Com pressões ambientalistas para redução de consumo e emissões,
crise econômica mundial, há empresas que sinalizam futuro - coreanas Hyundai e
Kia, Volkswagen, Ford, Mercedes, Toyota -, entretanto a maioria consulta
oráculos, tarólogos, astrólogos - ou usam o Salão para pintar quadros negativos
e dizer que não sobreviverão sem ajuda governamental.
Trabalhadores da Peugeot, Citroën, Ford, pagaram entrada para
fazer protesto, incluindo colar adesivos nos carros que produziram, com
mensagens contra o fechamento de fábricas, extinção de postos de trabalho.
Com
o mercado francês em queda livre, desemprego, governo socialista socializando o
déficit, apertando o cinto, aumentando impostos - como ocorre na Irlanda,
Grécia, Portugal, Espanha -, fazer carro para quem?
Um bate-boca entre o presidente do conselho e da diretoria da
Volkswagen, de um lado, e o polêmico Sérgio Marchionne, o salvador da Fiat e da
Chrysler, motivou intervenções maiores para gerar um aperto de mão e elogios
mútuos. A Volkswagen, entesourada, insiste em comprar a Alfa Romeo, e
Marchionne, cancelando investimentos na Itália e na Rússia, insiste dizer não
precisar vender e não venderá.
Em exibição de fins opacos, a Peugeot exibiu em seu stand um
piano Pleyel com a cauda desenvolvida em seus laboratórios. Competência ociosa? Sobra de tecnologia? Falta do que fazer? Um novo caminho industrial, via
inversa à da Yamaha? O piano lá estava e pianava.
Das novidades, novo Jaguar F Type, Land Rover, o pequeno Opel
Adam, que parece copiar o Audi A1, Golf 7a. geração, impossível dizer quais
virão ao Brasil enfrentar o elevado muro tarifário.
Sonho por sonho, melhor o
maior, da remota possibilidade, há o esportivo McLaren P (de protótipo) 1.
Surgido 20 anos após a construção de seu primeiro esportivo, o F1, materializa
a vontade de Ron Denis, líder da equipe vencedora da Fórmula 1, herdeiro do
espólio de Bruce Mc Laren.
É uma interpretação industrial do fazer um
carro de competição, materiais de engenharia nobre, fibra de carbono, ligas
metálicas leves. A idéia da McLaren ao apresentar o protótipo não é dizer
pretender o carro mais veloz do mundo - aliás, se cravará 340 km/h ou se
atingirá 387,5 km horários parece absolutamente irrelevante porquanto
velocidades de pouca frequência -, mas ser o de melhor comportamento, reações
em velocidade desfrutável.
Novidade do produto é o motor, próprio. A McLaren
deixou o V8 Mercedes e desenvolveu o engenho em casa: 3.8 litros, dois turbocompressores.
Série anterior produzia 618 cv.
Para o carro querem mais. 800 cv, diz-se, fará
da imobilidade aos 100 km/h em 2.6s. Não há preço definido e a McLaren, como a Coluna informou, busca representantes mundo afora, demonstrando terá operação sequenciada, industrial, ao contrário do
primeiro modelo, o F1, feito sob encomenda.
Preço não declarado, especulações em torno de 1 milhão de euros,
mas não parece factível, pois tal preço oferece enorme lucratividade, mas não
alimenta volume para uma produção seriada. Modelo definitivo no próximo
ano, quando a produção será iniciada. A McLaren ofereceu a representação
brasileira ao tricampeão Nelson Piquet, que declinou.
McLaren P1 pretende o melhor comportamento esportivo |
Suzuki
Grand Vitara dança a música do governo
Pequenas intervenções
de estilo na grade frontal, para choques dianteiro, e agregação facilidades
eletrônicas, como piloto automático e o Brake
Override marcam o Suzuki
Grand Vitara na passagem 2012/2013.
Rompe com o “Pacote
Brasil”, curiosas exigências nacionais: interior em couro, carro preto ou
prata. Há, além de PP, cinza, banco, azul, vermelho e bronze – este em edição
especial no Salão do Automóvel, e couro só na versão de topo.
A mecânica mantém o motor a gasálcool 2.0, em alumínio, 16V com
admissão variável, 140 cv. Torque de 18,7 kgfm, inferior ao imaginado a andar
em pisos ruins, aptidão do resistente sub chassis sob a carroceria monobloco.
Transmissões de cinco velocidades, mecânica ou automática, opção
de tração 4x4 permanente nas 4 rodas. A 4x2 ocorre no eixo traseiro, aumentando
as habilidades. Na 4x4 o bloqueio do diferencial central e da marcha reduzida
ocorre no painel, por botãozinho boiolo-feminino,
solução cara para manter.
Em vez de vareta de ferro no engate e desengate, como criou o dr Carl Probst para o Jeep, onde tudo começou, uma renca de fios, terminais, relês, sensores, etccc, aumenta exponencialmente o risco de não funcionar, a dificuldade para encontrar as múltiplas peças, e a conta para reparos.
Em vez de vareta de ferro no engate e desengate, como criou o dr Carl Probst para o Jeep, onde tudo começou, uma renca de fios, terminais, relês, sensores, etccc, aumenta exponencialmente o risco de não funcionar, a dificuldade para encontrar as múltiplas peças, e a conta para reparos.
Atual conjuntura
Dança a música oficial.
Os curativos aplicados pelo país, sem plano, projeto ou objetivo, aumentam
alíquotas ou criam adicionais em caso de problema para o qual não se preparou.
No caso, impedir comparar tecnologia entre nacionais e importados.
Com elevadíssima
barreira contra importações, e a trêfega cobrança de 30 pontos acima do IPI, o
Grand Vitara é sem frescuras ou fricotes, o be-a-bá de conforto: ar digital, trio
elétrico, direção assistida, e sem itens da moda -Blue tooth, tela no
painel, câmera de ré, etccc.
É retrato da contingência brasileira: as empresas devem vender para sobreviver e, pelo aumento da barreira de proteção aos nacionais, há que simplificar o produto para não implodir a tabela e inviabilizar o negócio.
É retrato da contingência brasileira: as empresas devem vender para sobreviver e, pelo aumento da barreira de proteção aos nacionais, há que simplificar o produto para não implodir a tabela e inviabilizar o negócio.
Dimensões limites para cidades e garagens nacionais, sem a
obesidade dos grandes e idolatrados SUV feitos para as estradas, os
estacionamentos e as garagens norte-americanas, mas inadequados às nossas vagas
para faquir, não fiscalizada moda em novos edifícios e nos shopping centers.
Pomposa, a Suzuki avisa ser equipado com Brake Override. Nome enfeitado,
coisa antiga. Na década de ’50 os norte-americanos Nash utilizavam e na
abertura das importações os japoneses Subaru, com o nome de Hill Holder.
Se os pedais e freio e acelerador estão pressionados ao mesmo tempo – para arrancar numa subida, por exemplo -, a eletrônica interpreta e age, dando uma meia trava para o carro não descer.
Se os pedais e freio e acelerador estão pressionados ao mesmo tempo – para arrancar numa subida, por exemplo -, a eletrônica interpreta e age, dando uma meia trava para o carro não descer.
Custo
O leque se abre com 4x2 manual a R$ 72.914.
Opcional automático é o mais caro do mercado: R$ 7,4 mil. Tração nas 4 eleva o
preço em quase R$ 9 mil. Assim, versão completa, automática, traçada, e teto
solar vai a R$ 90.025.
Roda-a-Roda
Resgate – Esportivo, dois lugares, carroceria em
alumínio. O novo Jaguar F-Type fala a linguagem industrial inaugurada pelo XK
120 em 1948, interpretada pelo E-Type em 1961: esportividade e traços
inequivocamente ingleses.
Mecânica – Dois motores com compressor, ditos Supercharged, V6 3.0,
gerando 340 ou 380 cv, e V8 5.0 e 510 cv, dianteiros, transmissão automática de
8 velocidades, tração traseira, suspensão independente.
Ecologia – Política que o Brasil não adota, o
processo de produção gera 80% menos emissões de CO2 que o de carros
concorrentes. O fato da carroceria ser de alumínio reciclado e reciclável muito
auxilia na conta.
História – Não é o primeiro esportivo Jaguar com
carroceria em alumínio. As primeiras 50 unidades do XK 120 o foram, passando ao
uso do aço em função do sucesso, encomendas e facilidades industriais.
Será ? – Sergio Marchionne, número 1 da Fiat, anunciou produzir um Alfa
grande, voltando a ser Alfa, com motor dianteiro e tração traseira. Plataforma
comum com Maserati Quattoporte, feitos nas instalações ex- Bertone, em
Grugliasco, Turim, 2014.
Atavismo – Hans Poestsch, CFO – o homem de finanças – da Volkswagen,
chutou o pau da barraca na abertura do Salão de Paris, objetivo como um canhão
da conterrânea Krupp. Disse o óbvio: alguns competidores europeus,
especialmente do sul, sairão do negócio se não tiverem ajuda governamental.
Na cara - O recado apenas não nominou as marcas francesas, às voltas com
problemas. A PSA - Peugeot, Citroën - quer fechar fábricas, despedir 10.000
franceses, e a Renault, otimista, prevê cair na Europa 13%, e no mundo crescer
0%. A Fiat projeta perder US$ 900M e cortou investimentos.
União – Na corrida por mercados com crescentes vendas e grandes
lucros, onde Brasil brilha, fonte da PSA informou, a empresa e a GM, aliados em
fevereiro, farão acordo industrial para veículos comuns, com as duas marcas.
Aguarde - Pode ser em fábrica da PSA, da GM, ou terceira. Carro pequeno.
A GM recusou dividir plataforma de carro médio. Planos comuns – e projetos
definidos – em outubro. Difícil imaginar paz entre a soberba intrínseca na GM,
– formada sem fundamentos automobilísticos, e a PSA, secularmente familiar,
sempre voltada aos metais e à mecânica.
História – Somar visão norte-americana com óptica francesa não funcionou
com a Chrysler comprando a Simca – rentável europeia, e quebrá-la; idem no
Brasil; e nos EUA na fugaz associação Renault e AMC, com o Alliance.
Futuro – Com perspectivas de resultados positivos ou não as multis dos
automóveis se unem para reduzir custos. Um dos acordos com bons resultados é da
Renault-Nissan com a Daimler: caixas de marcha com intensa eletrônica; nova
geração de motores de baixa cilindrada, injeção direta, turbo, baixo peso,
emissões, consumo. Atenderão às duas marcas.
Troca-troca – Há envolvimento com produtos. A Renault criará marca de luxo –
e o carro será um Mercedes. E a próxima geração do Smart será feita pela
Renault sobre a plataforma do sucessor do atual Twingo.
Ampliação – A VW Argentina lançou o Amarok com cabine simples. Forma 13
versões, igualando os concorrentes Ranger e Toyota. Aqui, Salão do Automóvel.
Fila anda – Quando lançado, há dez anos, o EcoSport cravou marca única:
nada gastou em propaganda. O sucesso com jornalistas garantiu divulgação e
demanda por largo prazo. Para o atual, ante a concorrência do Renault Duster,
iniciou a maior campanha já realizada. Será sucesso como produto, mas o
pioneirismo, a solidão no mercado, a margem de lucro como na primeira versão,
serão saudades e case.
Mercado – Maior renda per
capita; melhor relação de graduação, pós, mestrados do país; maior índice
de consumo de obras de arte; imbatível capacidade de formar opinião, o DF é 2º.
lugar em vendas de automóveis Mercedes-Benz com a Brasília Motors, atrás da
Comark, em S Paulo.
Caixa – Boa notícia para o mercado de veículos usados: a Caixa
Econômica entrou no negócio, praticando juros menores. Até dois anos, 1,34%
a.m. e 60 meses para pagar. Até 10 anos, 1,55% e 48 prestações.
Vista – A operação Chrysler caiu na real, viu os mapas de venda, o
calendário do ano-modelo 2012, o estoque, e baixou o preço de quatro produtos:
Grand Cherokee Limited de R$ 205 mil a R$ 180 mil; 300C de 194 mil a 169 mil;
Laredo de R$ 180 mil a R$ 160 mil e Jeep Compass de R$ 98 mil por 90 mil.
Calço – Fomenta negócios casados, financiando através do Chrysler
Group Financial Services, rótulo pomposo de sub departamento do Banco Fidis, o
financeiro da Fiat, dona da Chrysler.
Merchandising – Com o Fusca – nome dado ao New Beetle
repaginado – a Volkswagen participa da novelaGuerra dos Sexos, da Globo.
Outros carros da marca também serão utilizados. Campeã nesta mídia é a Kia.
Provocação – Tema do SIMEA – simpósio internacional
de engenharia automotiva – 2013: “10
anos deveículos Flex – qual a próxima inovação?”. Idéia boa e, espera-se,
provoque melhorar a operação. Os motores Flex podem ser estratégicos, porém com
rendimento inferior ao quando eram apenas a gasálcool ou etanol. Quem paga pelo
consumo a mais é o usuário.
Ajuda – Saber mais sobre os produtos vendidos pela
Nissan – March, Versa, Sentra, Tiida, Livina e Frontier ? A montadora disponibiliza para consulta e download Manual de
Proprietário, Guia Rápido de Uso, e 24 Horas Nissan Way Assistance.
Antigos – Neste final de semana, no Hipódromo de San Isidro, beiradas de
Buenos Aires, a 12ª.
Autoclasica, maior e mais refinada exposição de veículos antigos na América
Latina. Homenageia os 90 anos do piloto José Froilán Gonzales; a história da
Cadillac, e os 80 anos do motor V8 Ford, o Flathead. Aplica parâmetros de
julgamento FIVA, o que dá qualidade e respeitabilidade.
Gente – Eduardo Andrade, experiente em multis nos
EUA, AL, Caribe, Canadá e África, desafio brasileiro.OOOO Direção de
marketing da Goodyear. OOOO Mesma
empresa, Renato Rossoni, ex Valeo ZF, Benteler e Mercedes-Benz, diretor de
Suprimentos. OOOO
End. eletrônico: edita@rnasser.com.br Fax: 61.3225.5511
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